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Pansophia

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sábado, 22 de novembro de 2014

O pensamento Pitagórico: Metempsicose ou Transmigração das almas

 

por   Leandro Morena

Um dos pontos centrais do pensamento de Pitágoras (571 a.C.- 496 a.C.) é a teoria da Metempsicose (Μετεμψύχωσις) ou da transmigração das almas. Essa teoria consiste em afirmar que a alma é imortal e quando a pessoa morre a alma, logicamente, deixa o corpo, e, em conseqüência disso, transmigra para outro corpo, e assim, sucessivamente. Se alma atingir à purificação, conseguirá, no sentido ontológico, o auge da libertação, caso contrário, terá que transmigrar até conseguí-la. Esse processo repetir-se-á por várias vezes e a alma do individuo vai transmigrar passando por todas as criaturas do mar e da terra até chegar novamente no homem. Esse “circulo vicioso”, digamos assim, vai passar do corpo do homem e voltará ao próprio homem.

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A ideia da transmigração das almas já existia no Orfismo (ρφικά), uma religião primitiva da Grécia, por volta do século V a.C., que afirmava que as almas humanas são divinas e imortais e com isso, tinham que transmigrarem, e passariam uma vida penosa para adquirir à purificação. Para conseguir à libertação da alma, ter-se-ia que prestar culto ao deus Dionísio (deus da libertação), conseguindo isso, a alma voltava à sua pátria celeste, às estrelas. Isso mostra-nos que o homem é ao mesmo tempo divino e imortal. A teoria da metempsicose fora aceita por Pitágoras que, inseriu-a em seu pensamento, mas o filósofo transformou-a de tal maneira, que mudou a crença de libertação da alma prestando culto a Dionísio, pela matemática, ou seja, passou de um esforço subjetivo e demasiadamente humano, para uma purificação que tende de um trabalho intelectual, e com isso, vai descobrir-se a estrutura numérica das coisas, ou seja, a alma torna-se semelhante ao cosmo (κόσμος), cosmo aqui compreendido como unidade harmônica.

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      Alguns historiógrafos afirmam que Pitágoras e seus discípulos eram vegetarianos, alimentavam-se de favas e alguns vegetais; outros, por sua vez, afirmam que os pitagóricos alimentavam-se de apenas um tipo de carne, a suína, mas há controvérsias quanto a isso. 

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Conta-se que Pitágoras estava caminhando quando se deparou com um cachorro que estava sendo chibatado por um homem. Logo que viu essa cena, Pitágoras repreendeu o homem explicando que o mesmo não podia agredir o animal, simplesmente, pelo fato que se tratava de um amigo do filósofo, amigo esse de uma vida passada. Pitágoras afirmou que reconheceu o amigo pelo som do latido, e que no presente momento estava habitando a forma desse animal. Aqui podemos perceber que a preocupação do filósofo ao ver o cachorro sendo chibatado foi de que uma alma humana habitava aquele corpo. Isso nos remete ao julgamento da importância que o homem adquiriu perante as outras espécies. Nisso chego à conclusão de que a opção de Pitágoras por ser vegetariano e a preocupação dele com o cão, além de ser uma crença a ser seguida, são que as almas humanas habitam corpos de animais; a preocupação em si é o que há de humano. O raciocínio lógico do pensamento pitagórico nessa questão está calcado com base na premissa: alma humana habita um corpo de outra espécie, então, não se pode fazê-los mal, pois são demasiados humanos. E se fossem almas de animais? Certamente não haveria problema em consumi-los, maltratá-los e matá-los? Embora o homem, no pensamento grego antigo, faça parte da Physis, aqui, começou-se a aflorar o fortalecimento do homem como o ser elementar, e não superior, como os medievais o farão, da natureza. O pensamento pitagórico influenciará filósofos posteriores, citando o filósofo Platão (428 a.C.-348 a.C.), pois esse dará continuidade nesse conceito da transmigração das almas, e isso fica evidente na obra: Timeu, ver o artigo nesse blog: O pensamento Platônico acerca da Transmigração das almas.

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Créditos/Obras consultadas:

MONDOLFO, Rodolfo. O pensamento Antigo. Trad. Lívio Teixeira. Ed. Mestre Jou, São Paulo, 1964.

SANTOS, José Trindade. Antes de Sócrates. Gradiva, Lisboa, 1992.

BARNES, Jonathan. Filósofos Pré-Socráticos. Trad. Julio Fischer. Ed. Martins Fontes, São Paulo, 2003.

Pré-Socráticos.Os Pensadores.Traduções:José Cavalcante de Souza e outros. Edi. Abril, São Paulo, 1978.

Dicionário de Mitologia Greco-Romana (2º ed.). Editor: Victor Civita. Abril Cultural, São Paulo, 1976.

VERNANT, J. P. Mito e Religião na Grécia Antiga. Trad.: Joana A. D’avila Melo. Ed. Martins Fontes, São Paulo, 2012.

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Morre o filósofo e matemático Patrick Suppes (1922-2014)

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Morreu no último dia 17 de novembro o filósofo e matemático estadunidense Patrick Suppes. Nasceu na cidade de Tulsa situada no estado americano de Oklahoma. Formou-se em filosofia e matemática nas Universidades de Oklahoma e de Chicago, tornando-se professor de teoria da ciência da Universidade de Stanford em 1950, conquistando o título de professor emérito. Suppes contribuiu na filosofia da ciência do século XX e da probabilidade teórica do empirismo. Suas pesquisas foram calcadas sobre os fundamentos da probabilidade , psicologia da aprendizagem, da pedagogia experimental e da mecânica quântica que lhe rendeu vários prêmios internacionais de reconhecimento. Foi membro da Academia Nacional de Ciências e foi presidente da Academia Nacional de Educação. No ano de 1990 recebeu do presidente dos Estados Unidos a Medalha Nacional de Ciência. No ano de 1999 foi condecorado com um diploma honorário da Universidade de Bolonha. Em 2004 ganhou o prêmio  Lauener. Embora Suppes não seja muito conhecido no Brasil, mundialmente é muito reconhecido. Esteve no Brasil, em Florianópolis para um evento em sua homenagem, pois o filósofo conhecia e acompanhava  a produção de filósofos, matemáticos e físicos brasileiros.

Algumas das principais obras de Suppes:

·         Fundamentos de Medição em três volumes, 1971-1990;

·         Metafísica Probabilística;

·         "A linguagem para os seres humanos e robôs";

·          Uma Abordagem Bayesiana  da Racionalidade.

 

 

Fonte:

Guidasicilia

Blog Adonai Sant’Anna

 

sábado, 15 de novembro de 2014

Morre o filósofo Leandro Konder (1936-2014)

 

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por Leandro Morena

Morreu no último dia 12 o filósofo Leandro Konder.  Konder nasceu em Petrópolis, formou-se em Direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. No ano de 1984 tornou-se doutor em Filosofia pela UFRJ. Konder exerceu a profissão de  advogado criminalista e depois de advogado trabalhista. Com o regime militar instaurado em 1964, Konder foi demitido dos sindicatos em que trabalhava. No ano de 1972, foi forçado a deixar o Brasil, foi para a Alemanha e lá trabalhou na Universidade de Bonn, e depois foi morar na França. Atuou como professor na Universidade Federal Fluminense e da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Como filósofo, tornou-se um dos maiores especialistas em Karl Marx (1818-1883) e foi grande divulgador do pensamento do filósofo húngaro György Lukács (1885-1971). Retornou ao Brasil no ano de 1978. Em 1984 foi professor no Departamento de História da UFF, cargo que ficou até o ano de 1997. Desde 1985 lecionava no Departamento de Educação da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). Konder sofria de Mal de Parkinson há mais de dez anos. Para quem quer mergulhar no universo marxista, Konder é a melhor referência. O pensamento filosófico brasileiro sofre uma perda irreparável com a morte de Konder.

Algumas obras de Konder:

O que é dialética;

 Flora Tristan;

Marx, vida e obra;

As Idéias Socialistas no Brasil;

Memórias de um intelectual comunista;

Walter Benjamin – O marxismo da melancolia;

O futuro da filosofia da práxis.

Fonte:

Folha UOL

G1

 

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

O pensamento Platônico acerca da Transmigração das almas


por Leandro Morena
 Durante toda a trajetória da história da filosofia observou-se que muitos sistemas filosóficos preocuparam-se em dar ênfase ao homem. Desde os tempos primordiais, filósofos discutiram e debateram: O que é o homem? De onde veio? Para onde vai? Observou-se também que muitos desses sistemas mostraram a inferioridade para com as outras espécies: animais e vegetais, vistos como seres inferiores. Os escolásticos mostram-nos isso e no pensamento moderno também. Só no Pensamento Contemporâneo  é que essa discussão ganhou maior evidência.
clip_image002Mas nesse artigo eu vou frisar o pensamento do filósofo grego Platão no que diz respeito da Transmigração das almas ou Metempsicose. Essa ideia  já existia no Orfismo e no Pitagorismo, e Platão aceitou-a muito bem. Na sua obra Timeu,  mostram-se passagens que explicam para onde vão as almas que se comportaram de maneira errada durante a vida, depois que morrem. Segundo o filósofo, os homens que nunca filosofaram e nunca compreenderam a natureza do céu por não usarem a inteligência, estes por castigo, desses vícios, na próxima vida habitarão o corpo de animais ferozes (leão, tigre, etc.). O curioso é que o autor explica o porquê que esses animais se locomovem com as quatro patas para o chão. Os membros anteriores e a cabeça (do homem) foram direcionados para o chão, alongou-se o crânio que adquiriu vários formatos conforme a vadiagem que o ser humano fez ao longo da vida. Platão explica que esse tipo de ser humano nasceu com quatro patas ou mais pelo motivo que a divindade fez com que os seres humanos de pouca inteligência tivessem maior base de sustentação para arrastar-se para a terra. O filósofo vai além, afirmando que os seres humanos que foram mais atrasados que os citados acima, por castigo dos deuses, nasceriam sem patas para que se rastejassem com o corpo todo pela terra (cobra, centopéia, entre outros).  Ao afirmar sobre os animais marinhos, Platão radicaliza mais ainda essas espécies, chamando-os de estúpidos e ignorantes. Aos que as almas contaminadas por toda a sorte de faltas nascerão animais cujo habitat é na água, as divindades castigaram-nos, de tal maneira, que esses animais nem são dignos de respirar o ar puro, vivendo a aspirar à água lodosa das profundezas dos oceanos.
Esse pensamento, evidentemente, teve influencia em vários outros pensamentos posteriores ao platonismo.
clip_image004E no século XXI esse pensamento não mudou muito, pois é comum observar na mídia que os animais são usados em frases negativas para determinar um erro que um ser humano comete ou quando a mente humana atinge um grau de violência extrema, e sendo assim compara-o a um animal. Vou citar algumas frases grotescas e especistas que não param de ser usadas na atualidade:
“Esse assassino é um animal, ou é pior que um animal”!
Ser humano de sexo feminino quando comete algum ato errôneo:
Você é uma vaca, ou galinha, ou cadela, ou cachorra, ou piranha, ou vespa, ou cobra, ou serpente entre outros.
Ser humano de sexo masculino:
Você é um cachorro, ou urso, ou rato, ou cobra e serpente, ou cavalo, ou burro, ou asno entre outros.
Frases diversas:
Esse cara é mais assassino que um lobo, ou um leão!
Você cuspe cobras e lagartos para mim!
Você é uma lesma, ou uma besta selvagem!
Você vale menos que um cachorro!
clip_image006A mídia vem à tona ao comparar assassinos, torturadores, sequestradores, estupradores, pedófilos, corruptos, os bandidos que cometem crimes pela internet, entre outros  animais, como se isso fosse algo de factual. Não entendo como hoje em dia a sociedade pode admitir isso: homens que cometem coisas erradas sejam comparados a animais, pois esses homens que cometem erros são apenas seres humanos. Usam-se essas frases especistas para mostrar que a raça humana é perfeita e quando um ser humano ultrapassa a linha do senso comum e age de maneira que não vai de acordo com a lei, não é mais considerado humano, mas sim puro animal.
 No tempo de Platão, foi muito comum pensar que o ser humano tivesse algo de diferente  se comparado as demais espécies, pois nesse tempo não se tinham as informações e as pesquisas que se tem hoje sobre a inteligência animal, mas na sociedade atual, que temos milhares de informações pela internet, é uma obrigação rever esses conceitos e admitir que os homens que cometem coisas erradas são verdadeiramente homens; e cabe a filosofia discutir a ofensa moral que é denegrir a imagem dos animais e deixar para os psicólogos e psiquiatras que entendam os atos errôneos que seres humanos cometem.
Créditos:
PLATÃO. Timeu. Diálogos. Trad. Carlos Alberto Nunes. Universidade Federal do Pará, 1977.