por Leandro Morena
Um dos pontos centrais do pensamento de Pitágoras (571 a.C.- 496 a.C.) é a teoria da Metempsicose (Μετεμψύχωσις) ou da transmigração das almas. Essa teoria consiste em afirmar que a alma é imortal e quando a pessoa morre a alma, logicamente, deixa o corpo, e, em conseqüência disso, transmigra para outro corpo, e assim, sucessivamente. Se alma atingir à purificação, conseguirá, no sentido ontológico, o auge da libertação, caso contrário, terá que transmigrar até conseguí-la. Esse processo repetir-se-á por várias vezes e a alma do individuo vai transmigrar passando por todas as criaturas do mar e da terra até chegar novamente no homem. Esse “circulo vicioso”, digamos assim, vai passar do corpo do homem e voltará ao próprio homem.
A ideia da transmigração das almas já existia no Orfismo (Ὀρφικά), uma religião primitiva da Grécia, por volta do século V a.C., que afirmava que as almas humanas são divinas e imortais e com isso, tinham que transmigrarem, e passariam uma vida penosa para adquirir à purificação. Para conseguir à libertação da alma, ter-se-ia que prestar culto ao deus Dionísio (deus da libertação), conseguindo isso, a alma voltava à sua pátria celeste, às estrelas. Isso mostra-nos que o homem é ao mesmo tempo divino e imortal. A teoria da metempsicose fora aceita por Pitágoras que, inseriu-a em seu pensamento, mas o filósofo transformou-a de tal maneira, que mudou a crença de libertação da alma prestando culto a Dionísio, pela matemática, ou seja, passou de um esforço subjetivo e demasiadamente humano, para uma purificação que tende de um trabalho intelectual, e com isso, vai descobrir-se a estrutura numérica das coisas, ou seja, a alma torna-se semelhante ao cosmo (κόσμος), cosmo aqui compreendido como unidade harmônica.
Alguns historiógrafos afirmam que Pitágoras e seus discípulos eram vegetarianos, alimentavam-se de favas e alguns vegetais; outros, por sua vez, afirmam que os pitagóricos alimentavam-se de apenas um tipo de carne, a suína, mas há controvérsias quanto a isso.
Conta-se que Pitágoras estava caminhando quando se deparou com um cachorro que estava sendo chibatado por um homem. Logo que viu essa cena, Pitágoras repreendeu o homem explicando que o mesmo não podia agredir o animal, simplesmente, pelo fato que se tratava de um amigo do filósofo, amigo esse de uma vida passada. Pitágoras afirmou que reconheceu o amigo pelo som do latido, e que no presente momento estava habitando a forma desse animal. Aqui podemos perceber que a preocupação do filósofo ao ver o cachorro sendo chibatado foi de que uma alma humana habitava aquele corpo. Isso nos remete ao julgamento da importância que o homem adquiriu perante as outras espécies. Nisso chego à conclusão de que a opção de Pitágoras por ser vegetariano e a preocupação dele com o cão, além de ser uma crença a ser seguida, são que as almas humanas habitam corpos de animais; a preocupação em si é o que há de humano. O raciocínio lógico do pensamento pitagórico nessa questão está calcado com base na premissa: alma humana habita um corpo de outra espécie, então, não se pode fazê-los mal, pois são demasiados humanos. E se fossem almas de animais? Certamente não haveria problema em consumi-los, maltratá-los e matá-los? Embora o homem, no pensamento grego antigo, faça parte da Physis, aqui, começou-se a aflorar o fortalecimento do homem como o ser elementar, e não superior, como os medievais o farão, da natureza. O pensamento pitagórico influenciará filósofos posteriores, citando o filósofo Platão (428 a.C.-348 a.C.), pois esse dará continuidade nesse conceito da transmigração das almas, e isso fica evidente na obra: Timeu, ver o artigo nesse blog: O pensamento Platônico acerca da Transmigração das almas.
Créditos/Obras consultadas:
MONDOLFO, Rodolfo. O pensamento Antigo. Trad. Lívio Teixeira. Ed. Mestre Jou, São Paulo, 1964.
SANTOS, José Trindade. Antes de Sócrates. Gradiva, Lisboa, 1992.
BARNES, Jonathan. Filósofos Pré-Socráticos. Trad. Julio Fischer. Ed. Martins Fontes, São Paulo, 2003.
Pré-Socráticos.Os Pensadores.Traduções:José Cavalcante de Souza e outros. Edi. Abril, São Paulo, 1978.
Dicionário de Mitologia Greco-Romana (2º ed.). Editor: Victor Civita. Abril Cultural, São Paulo, 1976.
VERNANT, J. P. Mito e Religião na Grécia Antiga. Trad.: Joana A. D’avila Melo. Ed. Martins Fontes, São Paulo, 2012.
UM RÉI DIONISIO SER UM DEUS ,O MAIOR ABSURDO DO PASSADO E NO PRESENTE , O POVO COM SEUS FANATISMOS RELIGIOSO.
ResponderExcluirExcelente texto
ResponderExcluirUm bom texto! Parabéns!
ResponderExcluirGrato! ser divino e mortal....
ResponderExcluirEsclarecedor!
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