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Pansophia

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quinta-feira, 15 de março de 2012

Antifonte, o Sofista - (séc. V a.C.)

“De tudo o quanto gastamos, o mais caro é o tempo”.


por Osvaldo Duarte

Antifonte, ateniense, nasceu no séc. V, foi poeta épico, adivinho, intérprete de sonhos e professor de retórica. Sua identidade ainda é discutida, pois não se sabe se o sofista era o mesmo Antifonte Ramnunte, o orador. Como pensador,  só despertou interesse dos eruditos, após a descoberta dos Papiros de Oxyrinchus entre 1915 e 1922. Hoje sabemos que seus interesses eram polifacetados, isto é, abrangiam a preocupação com a linguagem (correção de nomes), ciências matemáticas e física. Com efeito, sua investigação procurava vocábulos mais ajustados para exprimir as experiências para obter o verdadeiro conhecimento das coisas.
 Viveu em uma época em que os sofistas faziam conferências e lecionavam em diversas cidades, mas sem se fixarem, demorando um pouco mais em Atenas, palco de grandes concursos, sendo uma ótima oportunidade para mostrarem seus métodos educacionais.  Foram criticados, principalmente na doxografia platônico-aristotélica, por cobrarem por seus ensinamentos junto a seus discípulos de famílias mais abastadas e, pelo modo que educavam – a defesa da índole instrumental e moralmente neutra das habilitações adquiridas; considerados caricatura, imitação do Filósofo, pois, seu conhecimento ainda é doxa, não apreendendo a realidade em si mesma.
“Concluiu-se, em primeiro lugar, que o sofista era um caçador de jovens ricos...”.  




Antifonte, o adivinhador de sonhos:
Um corredor que pensava chegar a Olímpia via-se em sonho conduzindo uma quadriga. De manhã, ele vai ver o intérprete, e este lhe diz: “Tu vencerás, pois isso significa rapidez e a força dos cavalos”. Pouco depois, o mesmo homem vai ver Antifonte que, então, lhe diz: “Tu serás necessariamente vencido: tu não compreendeste que há quatro corredores à tua frente”? Mas tomemos outro corredor, (...), ele conta ao intérprete que em um sonho ele lhe parecia ter-se tornado uma águia, então este: Tu venceste; nenhum pássaro tem vôo mais poderoso que a águia”. Mas semelhante, o mesmo Antifonte disse-lhe: “Imbecil, tu não vês que foste vencido? Pois este pássaro, que persegue e caça outros, é sempre o último”.
Antifonte, o consolador:
Mas além da poesia, ele compôs uma Arte de fugir à aflição, análoga àquela que utilizavam os médicos para curar seus doentes. Em Corinto, ele instalou-se perto da Ágora e anunciou, por libelos, que ele podia, durante as entrevistas, curar aqueles que estavam aflitos; uma vez conhecidas as causas do sofrimento, ele aliviava os enfermos com palavras de consolação.

Antifonte, o pensador:
Por isso [Deus] não carece de nada, nem recebe nada de outrem, mas é ilimitado e sem necessidades.
Os homens são naturalmente iguais:
Aqueles que descendem de ilustres ancestrais, nós os honramos e os veneramos; mas aqueles que não descendem de uma ilustre família, nós não os honramos e não os veneramos. Nisso, somos bárbaros uns em relação aos outros, pois por natureza somos em tudo semelhantes, tantos os bárbaros quanto os gregos. Convém considerar as necessidades que a natureza impõe a todos os homens: todos a alcançam nas mesmas condições, e no que se refere a essas necessidades, nenhum de nós é diferente, quer ele seja bárbaro, quer grego: todos respiramos o mesmo ar com uma boca e um nariz, todos comemos com ajuda de nossas mãos [...].
Physis e Nomos
A justiça consiste, pois, em não exceder as leis da cidade em que se vive. O homem terá a maior vantagem em usar a legalidade, perante testemunhas, se tiver em grande conta as leis; e, quando sozinho, sem testemunhas, em respeitar as da natureza. De facto, aquelas são adventícias, ao passo que as da natureza são necessárias. As primeiras são convencionais, e não espontâneas, ao passo que as da natureza são espontâneas, e não convencionais.
Crítica ao modo de viver de Sócrates
“Sócrates, eu julgava que os que se dedicavam à filosofia deviam ser mais felizes, mas parece-me que tu extraíste da filosofia o contrário. O que é certo é que vives como nenhum escravo, em casa do seu senhor, conseguiria viver: comes e bebes as bebidas mais vulgares e envergas um manto que é de qualidade inferior e é o mesmo de Verão e de Inverno, e passas a vida descalço e desprovido de túnica. Além disso, não recebes dinheiro, apesar de ele provocar regozijo aos que ganham e permitir uma vida mais livre e mais agradável aos que possuem. Se, portanto, tu tornares os teus discípulos teus imitadores, tal como fazem os mestres de outras profissões, considera-te um mestre da infelicidade”. Então Sócrates retorquiu: “Parece-me, Antifonte, que tu crês que tenho uma existência de tal modo horrível que, estou convencido que preferirias morrer a viver como eu. Pois bem, examinemos o que na minha vida concebes como penoso. Porventura será porque os que recebem dinheiro precisam de fazer aquilo para que são pagos, enquanto eu, como nada recebo, não tenho de dialogar com quem não me aprouver? Ou desprezas o meu gênero de vida, por comer alimentos menos saudáveis do que tu e que dão menos força? Pareces pensar, Antifonte, que a felicidade é abundância e magnificência.  Eu, pelo contrário, considero o não precisar de nada é algo divino; o precisar de menos possível está ais próximo do divino e, sendo o divino melhor, o mais próximo do divino está mais próximo do melhor.”
Créditos
DUMONT, Jean-Paul. Elementos de História da Filosofia Antiga. Tradução: Georgete M. Rodrigues. Brasília, Editora UnB, 2004.
PEREIRA, Maria Helena da Rocha – Hélade Antologia da Cultura Grega I, Lisboa: Guimarães Editores SA, 2009.
PEREIRA, Maria Helena da Rocha – Estudos de História da Cultura Clássica, vol. I, Lisboa, Fundação Calouste
SOFISTAS. Testemunhos e Fragmentos. Tradução: Ana Alexandre Alves de Sousa e Maria José Vaz Pinto. Lisboa, INCM, 2005.
                                                                                                              
                                                     
                                                                                                          

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