Drag and drop a picture here or Double click to open a picture

Pansophia

Pansophia

sábado, 22 de novembro de 2014

O pensamento Pitagórico: Metempsicose ou Transmigração das almas

 

por   Leandro Morena

Um dos pontos centrais do pensamento de Pitágoras (571 a.C.- 496 a.C.) é a teoria da Metempsicose (Μετεμψύχωσις) ou da transmigração das almas. Essa teoria consiste em afirmar que a alma é imortal e quando a pessoa morre a alma, logicamente, deixa o corpo, e, em conseqüência disso, transmigra para outro corpo, e assim, sucessivamente. Se alma atingir à purificação, conseguirá, no sentido ontológico, o auge da libertação, caso contrário, terá que transmigrar até conseguí-la. Esse processo repetir-se-á por várias vezes e a alma do individuo vai transmigrar passando por todas as criaturas do mar e da terra até chegar novamente no homem. Esse “circulo vicioso”, digamos assim, vai passar do corpo do homem e voltará ao próprio homem.

clip_image002[6]

 

A ideia da transmigração das almas já existia no Orfismo (ρφικά), uma religião primitiva da Grécia, por volta do século V a.C., que afirmava que as almas humanas são divinas e imortais e com isso, tinham que transmigrarem, e passariam uma vida penosa para adquirir à purificação. Para conseguir à libertação da alma, ter-se-ia que prestar culto ao deus Dionísio (deus da libertação), conseguindo isso, a alma voltava à sua pátria celeste, às estrelas. Isso mostra-nos que o homem é ao mesmo tempo divino e imortal. A teoria da metempsicose fora aceita por Pitágoras que, inseriu-a em seu pensamento, mas o filósofo transformou-a de tal maneira, que mudou a crença de libertação da alma prestando culto a Dionísio, pela matemática, ou seja, passou de um esforço subjetivo e demasiadamente humano, para uma purificação que tende de um trabalho intelectual, e com isso, vai descobrir-se a estrutura numérica das coisas, ou seja, a alma torna-se semelhante ao cosmo (κόσμος), cosmo aqui compreendido como unidade harmônica.

                  clip_image004[6] 

      Alguns historiógrafos afirmam que Pitágoras e seus discípulos eram vegetarianos, alimentavam-se de favas e alguns vegetais; outros, por sua vez, afirmam que os pitagóricos alimentavam-se de apenas um tipo de carne, a suína, mas há controvérsias quanto a isso. 

                                   clip_image006[5]

Conta-se que Pitágoras estava caminhando quando se deparou com um cachorro que estava sendo chibatado por um homem. Logo que viu essa cena, Pitágoras repreendeu o homem explicando que o mesmo não podia agredir o animal, simplesmente, pelo fato que se tratava de um amigo do filósofo, amigo esse de uma vida passada. Pitágoras afirmou que reconheceu o amigo pelo som do latido, e que no presente momento estava habitando a forma desse animal. Aqui podemos perceber que a preocupação do filósofo ao ver o cachorro sendo chibatado foi de que uma alma humana habitava aquele corpo. Isso nos remete ao julgamento da importância que o homem adquiriu perante as outras espécies. Nisso chego à conclusão de que a opção de Pitágoras por ser vegetariano e a preocupação dele com o cão, além de ser uma crença a ser seguida, são que as almas humanas habitam corpos de animais; a preocupação em si é o que há de humano. O raciocínio lógico do pensamento pitagórico nessa questão está calcado com base na premissa: alma humana habita um corpo de outra espécie, então, não se pode fazê-los mal, pois são demasiados humanos. E se fossem almas de animais? Certamente não haveria problema em consumi-los, maltratá-los e matá-los? Embora o homem, no pensamento grego antigo, faça parte da Physis, aqui, começou-se a aflorar o fortalecimento do homem como o ser elementar, e não superior, como os medievais o farão, da natureza. O pensamento pitagórico influenciará filósofos posteriores, citando o filósofo Platão (428 a.C.-348 a.C.), pois esse dará continuidade nesse conceito da transmigração das almas, e isso fica evidente na obra: Timeu, ver o artigo nesse blog: O pensamento Platônico acerca da Transmigração das almas.

                                         clip_image008[5]

 

Créditos/Obras consultadas:

MONDOLFO, Rodolfo. O pensamento Antigo. Trad. Lívio Teixeira. Ed. Mestre Jou, São Paulo, 1964.

SANTOS, José Trindade. Antes de Sócrates. Gradiva, Lisboa, 1992.

BARNES, Jonathan. Filósofos Pré-Socráticos. Trad. Julio Fischer. Ed. Martins Fontes, São Paulo, 2003.

Pré-Socráticos.Os Pensadores.Traduções:José Cavalcante de Souza e outros. Edi. Abril, São Paulo, 1978.

Dicionário de Mitologia Greco-Romana (2º ed.). Editor: Victor Civita. Abril Cultural, São Paulo, 1976.

VERNANT, J. P. Mito e Religião na Grécia Antiga. Trad.: Joana A. D’avila Melo. Ed. Martins Fontes, São Paulo, 2012.

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Morre o filósofo e matemático Patrick Suppes (1922-2014)

                              clip_image001

Morreu no último dia 17 de novembro o filósofo e matemático estadunidense Patrick Suppes. Nasceu na cidade de Tulsa situada no estado americano de Oklahoma. Formou-se em filosofia e matemática nas Universidades de Oklahoma e de Chicago, tornando-se professor de teoria da ciência da Universidade de Stanford em 1950, conquistando o título de professor emérito. Suppes contribuiu na filosofia da ciência do século XX e da probabilidade teórica do empirismo. Suas pesquisas foram calcadas sobre os fundamentos da probabilidade , psicologia da aprendizagem, da pedagogia experimental e da mecânica quântica que lhe rendeu vários prêmios internacionais de reconhecimento. Foi membro da Academia Nacional de Ciências e foi presidente da Academia Nacional de Educação. No ano de 1990 recebeu do presidente dos Estados Unidos a Medalha Nacional de Ciência. No ano de 1999 foi condecorado com um diploma honorário da Universidade de Bolonha. Em 2004 ganhou o prêmio  Lauener. Embora Suppes não seja muito conhecido no Brasil, mundialmente é muito reconhecido. Esteve no Brasil, em Florianópolis para um evento em sua homenagem, pois o filósofo conhecia e acompanhava  a produção de filósofos, matemáticos e físicos brasileiros.

Algumas das principais obras de Suppes:

·         Fundamentos de Medição em três volumes, 1971-1990;

·         Metafísica Probabilística;

·         "A linguagem para os seres humanos e robôs";

·          Uma Abordagem Bayesiana  da Racionalidade.

 

 

Fonte:

Guidasicilia

Blog Adonai Sant’Anna

 

sábado, 15 de novembro de 2014

Morre o filósofo Leandro Konder (1936-2014)

 

                     clip_image001

por Leandro Morena

Morreu no último dia 12 o filósofo Leandro Konder.  Konder nasceu em Petrópolis, formou-se em Direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. No ano de 1984 tornou-se doutor em Filosofia pela UFRJ. Konder exerceu a profissão de  advogado criminalista e depois de advogado trabalhista. Com o regime militar instaurado em 1964, Konder foi demitido dos sindicatos em que trabalhava. No ano de 1972, foi forçado a deixar o Brasil, foi para a Alemanha e lá trabalhou na Universidade de Bonn, e depois foi morar na França. Atuou como professor na Universidade Federal Fluminense e da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Como filósofo, tornou-se um dos maiores especialistas em Karl Marx (1818-1883) e foi grande divulgador do pensamento do filósofo húngaro György Lukács (1885-1971). Retornou ao Brasil no ano de 1978. Em 1984 foi professor no Departamento de História da UFF, cargo que ficou até o ano de 1997. Desde 1985 lecionava no Departamento de Educação da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). Konder sofria de Mal de Parkinson há mais de dez anos. Para quem quer mergulhar no universo marxista, Konder é a melhor referência. O pensamento filosófico brasileiro sofre uma perda irreparável com a morte de Konder.

Algumas obras de Konder:

O que é dialética;

 Flora Tristan;

Marx, vida e obra;

As Idéias Socialistas no Brasil;

Memórias de um intelectual comunista;

Walter Benjamin – O marxismo da melancolia;

O futuro da filosofia da práxis.

Fonte:

Folha UOL

G1

 

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

O pensamento Platônico acerca da Transmigração das almas


por Leandro Morena
 Durante toda a trajetória da história da filosofia observou-se que muitos sistemas filosóficos preocuparam-se em dar ênfase ao homem. Desde os tempos primordiais, filósofos discutiram e debateram: O que é o homem? De onde veio? Para onde vai? Observou-se também que muitos desses sistemas mostraram a inferioridade para com as outras espécies: animais e vegetais, vistos como seres inferiores. Os escolásticos mostram-nos isso e no pensamento moderno também. Só no Pensamento Contemporâneo  é que essa discussão ganhou maior evidência.
clip_image002Mas nesse artigo eu vou frisar o pensamento do filósofo grego Platão no que diz respeito da Transmigração das almas ou Metempsicose. Essa ideia  já existia no Orfismo e no Pitagorismo, e Platão aceitou-a muito bem. Na sua obra Timeu,  mostram-se passagens que explicam para onde vão as almas que se comportaram de maneira errada durante a vida, depois que morrem. Segundo o filósofo, os homens que nunca filosofaram e nunca compreenderam a natureza do céu por não usarem a inteligência, estes por castigo, desses vícios, na próxima vida habitarão o corpo de animais ferozes (leão, tigre, etc.). O curioso é que o autor explica o porquê que esses animais se locomovem com as quatro patas para o chão. Os membros anteriores e a cabeça (do homem) foram direcionados para o chão, alongou-se o crânio que adquiriu vários formatos conforme a vadiagem que o ser humano fez ao longo da vida. Platão explica que esse tipo de ser humano nasceu com quatro patas ou mais pelo motivo que a divindade fez com que os seres humanos de pouca inteligência tivessem maior base de sustentação para arrastar-se para a terra. O filósofo vai além, afirmando que os seres humanos que foram mais atrasados que os citados acima, por castigo dos deuses, nasceriam sem patas para que se rastejassem com o corpo todo pela terra (cobra, centopéia, entre outros).  Ao afirmar sobre os animais marinhos, Platão radicaliza mais ainda essas espécies, chamando-os de estúpidos e ignorantes. Aos que as almas contaminadas por toda a sorte de faltas nascerão animais cujo habitat é na água, as divindades castigaram-nos, de tal maneira, que esses animais nem são dignos de respirar o ar puro, vivendo a aspirar à água lodosa das profundezas dos oceanos.
Esse pensamento, evidentemente, teve influencia em vários outros pensamentos posteriores ao platonismo.
clip_image004E no século XXI esse pensamento não mudou muito, pois é comum observar na mídia que os animais são usados em frases negativas para determinar um erro que um ser humano comete ou quando a mente humana atinge um grau de violência extrema, e sendo assim compara-o a um animal. Vou citar algumas frases grotescas e especistas que não param de ser usadas na atualidade:
“Esse assassino é um animal, ou é pior que um animal”!
Ser humano de sexo feminino quando comete algum ato errôneo:
Você é uma vaca, ou galinha, ou cadela, ou cachorra, ou piranha, ou vespa, ou cobra, ou serpente entre outros.
Ser humano de sexo masculino:
Você é um cachorro, ou urso, ou rato, ou cobra e serpente, ou cavalo, ou burro, ou asno entre outros.
Frases diversas:
Esse cara é mais assassino que um lobo, ou um leão!
Você cuspe cobras e lagartos para mim!
Você é uma lesma, ou uma besta selvagem!
Você vale menos que um cachorro!
clip_image006A mídia vem à tona ao comparar assassinos, torturadores, sequestradores, estupradores, pedófilos, corruptos, os bandidos que cometem crimes pela internet, entre outros  animais, como se isso fosse algo de factual. Não entendo como hoje em dia a sociedade pode admitir isso: homens que cometem coisas erradas sejam comparados a animais, pois esses homens que cometem erros são apenas seres humanos. Usam-se essas frases especistas para mostrar que a raça humana é perfeita e quando um ser humano ultrapassa a linha do senso comum e age de maneira que não vai de acordo com a lei, não é mais considerado humano, mas sim puro animal.
 No tempo de Platão, foi muito comum pensar que o ser humano tivesse algo de diferente  se comparado as demais espécies, pois nesse tempo não se tinham as informações e as pesquisas que se tem hoje sobre a inteligência animal, mas na sociedade atual, que temos milhares de informações pela internet, é uma obrigação rever esses conceitos e admitir que os homens que cometem coisas erradas são verdadeiramente homens; e cabe a filosofia discutir a ofensa moral que é denegrir a imagem dos animais e deixar para os psicólogos e psiquiatras que entendam os atos errôneos que seres humanos cometem.
Créditos:
PLATÃO. Timeu. Diálogos. Trad. Carlos Alberto Nunes. Universidade Federal do Pará, 1977.

domingo, 19 de outubro de 2014

Giovanni Reale (1931-2014)

por Leandro Morena

clip_image001

O mundo filosófico perdeu, no último dia 15 de outubro, o filósofo, historiador, tradutor, escritor e professor italiano Giovanni Reale. Reale nasceu na região da Lombardia, Itália, em 1931, e tornou-se doutor em Filosofia pela Universidade Católica do Sagrado Coração de Milão, e foi nessa universidade que ficou como professor emérito. O filósofo tornou-se referência mundial por ter se aprimorado no pensamento grego antigo, principalmente numa nova interpretação do filósofo grego Platão, tornando-se num dos maiores especialistas desse filósofo. Reale criou o Centro Internacional de Pesquisas sobre Platão e as raízes platônicas do pensamento da civilização ocidental. Destaca-se também pela tradução da obra de Aristóteles, discípulo de Platão, Metafísica e diversos livros da História da Filosofia da antiguidade a contemporaneidade.

Algumas obras de Reale traduzidas para a língua portuguesa:

·         História da filosofia grega e romana I - Pré-Socráticos e Orfismo

·         História da filosofia grega e romana II - Sofistas, Sócrates e socráticos menores

·         História da filosofia grega e romana III - Platão

·         História da filosofia grega e romana IV - Aristóteles

·         História da filosofia grega e romana V - Filosofias helenísticas e epicurismo

·         História da filosofia grega e romana VI - Estoicismo, ceticismo e ecletismo

·         História da filosofia grega e romana VII - Renascimento do platonismo e do pitagorismo

·         História da filosofia grega e romana VIII - Plotino e neoplatonismo

·         Metafísica de Aristóteles, volumes 1, 2 e3

·         História da filosofia 7 volumes

Geovanni Reale, com seus 83 anos completos em 15 de abril, seguia na ativa. Um dos seus últimos trabalhos, juntamente com Dario Antiseri, é que estava terminando a correção: o manual de "Cem Anos de Filosofia. De Nietzsche aos Nossos Dias", com previsão de publicação para janeiro de 2015 e com tradução para o espanhol, português, romeno e croata.  

A contribuição de Reale para a filosofia é infinita, pois deixará uma vasta obra intelectual importante para as próximas gerações de pensadores.

Com sua morte Reale eternizou-se na história da humanidade. 

 

Fonte:

UOL Notícias

Paulus Editora

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Sobre a Alma - Demócrito


por Osvaldo Duarte

atomos eafericos
Todo Ser é constituído por elementos primeiros indivisíveis - os átomos, esses  são por sua vez, elementos infinitos com formas infinitas e estão em eterno movimento no vazio infinito, ora agregando-se (geração), ora desagregando-se (destruição). Os átomos são substâncias tão pequenas que escapam aos nossos sentidos, mas quando agregam-se entre si, produzem todas as coisas que existem, as quais vemos e percebemos com os demais sentidos. Considerado como uma concepção monista, Alma e corpo tornam-se uma unidade indissolúvel enquanto homem, e não como dicotomia, isto é, como o corpo sendo apenas o receptáculo, prisão da Alma.
Platão nos diz através de Timeu: “que de todos os seres é a alma o único capaz de adquirir inteligência; mas a alma é invisível. (...) O amante da inteligência e do conhecimento deve necessariamente procurar primeiro as causas que pertencem à natureza inteligente (...)”.
Sendo a alma como um princípio dos animais, seu conhecimento está entre as coisas mais belas e, por isso mesmo, que filósofos antes mesmo de Aristóteles se preocuparam com semelhante questão.
Demócrito foi um desses filósofos que explicaram a Alma (Psychê):
“... Demócrito declara que a alma é algo quente ou uma espécie de fogo, pois, havendo infinitos átomos e formatos diz que os de forma esférica são fogo e alma (...)”.
“(...) os de forma esférica são alma. Sobretudo porque tais fluxos podem tudo permear e, por moverem as coisas restantes, que se movem também. Disso supõe que a alma fornece aos animais o movimento. E por isso também o que define o viver é a respiração. Pois, como o ar circundante comprime os corpos, expulsando os formatos que, por nunca repousarem, fornecem aos animais o movimento (...)”.
É bem possível que Demócrito tenha identificado a alma como átomos redondos e lisos pela grande mobilidade dos mesmos, o que os levariam a escapar do corpo com facilidade, coube à respiração a incumbência de retê-los dentro dele por meio de uma corrente de ar e de renová-los constantemente. Ao término dessa missão, os átomos dispersam-se definitivamente (morte). Dado ao calor vital dos membros superiores, e ainda, ao incessante movimento próprio à chama, é que Demócrito tenha estabelecido esses átomos com os do fogo, (Gomperz).
Devemos lembrar que para os gregos, o movimento era compreendido como parte fenômeno da vida, e não se trata aqui apenas o movimento de locomoção, mas de qualquer movimento, assim, toda ação e todo pensar é movimento.
Pelo que observa Aristóteles, para Demócrito, Alma e Intelecto são a mesma cousa, pois, pensar significa perceber as próprias sensações, numa palavra, ter a percepção do sentir, o que seria ter a consciência das mudanças do corpo:
“Leucipo e Demócrito chamas às sensações e aos pensamentos mudanças do corpo... As sensações e o pensamento nascem do chegar das imagens (eidola) do exterior, porque nem essas nem este sobrevêm a alguém sem que cheguem as imagens (Stobeu).”

Créditos/Obras consultadas:
ARISTÓTELES. De Anima. Trad. Maria C. Gomes. São Paulo: Editora 34, 2006.
CASERTANO, G., Os Pré-Socráticos. Trad. Maria da Graça G. Pina. São Paulo: Edições Loyola, 2009.
GOMPERZ, T. História da Filosofia Antiga, Tomo I. Trad. Joé I. C. M. Neto. São Paulo, Ícone Editora, 2011.
HEIDEGGER, M. Platão: O Sofista. Trad. M. A. Casanova. Forense Universitária. Rio de Janeiro, 2012.
MANDOLFO, Rodolpho. O Pensamento Antigo Vol. I. São Paulo: Ed. Mestre Jou S/A,  1966.PLATÃO. Diálogos, Timeu-Crítias-O 2º Alcebíades-Hípias Menor, Trad. C. A. Nunes. Pará: Univ. Fed. do Pará, 1977

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Frege e o nascimento de uma nova lógica

por  Leandro Morena

clip_image001Gottlob Frege (1848-1925) nasceu na cidade de Wismar, Alemanha. O seu trabalho foi voltado para a filosofia da matemática e lógica. Destacou-se como o criador da lógica matemática.

O projeto de Frege consistiu na redução da aritmética à lógica e poderia ser criado em dois objetivos: Primeiro visa definir toda expressão aritmética em termos lógicos com a finalidade de mostrar que toda e qualquer expressão aritmética vai significar o mesmo que uma expressão lógica determinada. Já o segundo objetivo vai depender dos resultados obtidos pelo anterior, se o resultado for positivo, vai mostrar que a proposições lógicas obtidas podem ser deduzidas das leis lógicas imediatamente evidentes.

Para o cumprimento desses objetivos, Frege vai mostrar que a lógica clássica está duplamente insuficiente, pois, em primeiro lugar, ela está incompleta, ou seja, as relações e propriedades aritméticas seriam relações e propriedades lógicas muito mais complexas do que as que a lógica clássica foi capaz de representar.  Já a segunda deficiência da lógica clássica é o fato dela de não ser suficientemente formalizada, e com isso ela agrega o contágio da imprecisão da linguagem comum. Com essas deficiências afirmadas por Frege, fez com que ele elaborasse uma nova lógica.

Na obra Conceitografia (publicada em 1879), Frege vai criar uma linguagem formular de pensamento puro, que vai ser imitada na linguagem aritmética. Essa nova lógica vai ser comportada por, uma nova definição de conceito, que conduzirá numa nova maneira de analisar proposições, à ampliação das possibilidades de expressão de propriedades e relações lógicas, e em conseqüência disso, a ampliação das possibilidades de definição de propriedades e relações em geral. Na elaboração da nova lógica, o filósofo inseriu parte da matemática que conhecemos como Teoria dos Conjuntos.

clip_image003

Essa nova lógica vai expressar-se através de uma linguagem simbólica artificial, pois a linguagem comum que a lógica clássica utiliza-se é indevida para explicar com precisão propriedades e relações lógicas, em virtude de sua gramática não se orientar por necessidades humanas citando o exemplo da estética.  Uma dedução em linguagem comum inclui lacunas e premissas subentendidas que visam dificultar a importância das conclusões logicamente legítimas. Como afirma Luís Henrique, a conceitografia de Frege, vai ao contrário, pois contém um conjunto bem determinado de regras, dedução e de axiomas lógicos, supostamente claros.  Por isso a conceitografia torna-se gramaticalmente impossível construir deduções ilegítimas e toda a ilegitimidade pode ser facilmente verificada com uma precisão segura, visto que, à medida que o conjunto de passagens permitidas é pequeno e as regras que comandam são formais.  Com o resultado disso, a dedução torna-se um cálculo, uma série de operações sobre símbolos. Vai ser importante frisar que para Frege, isso é apenas uma solução útil e acidental. Segundo Luís Henrique, para Frege, os sinais de conceitografia têm significado e o conjunto de axiomas e regras é estabelecido de acordo com esse significado. Ocorre apenas que se pode operar com os símbolos como se fossem vazios, graças ao artifício da formalização.

Mas, se a progressão lógica se disser de outro modo, tornar-se-á fequentemente necessário exprimi-la por palavras. Faltam, pois à linguagem de fórmulas de aritmética, expressões para conexões lógicas, e por isso ela não merece o nome de conceitografia em sentido pleno.

                                     Tradução: Luís Henrique dos Santos

 

Mas a pergunta que fica é quais são as vantagens da lógica do Filósofo Frege comparada à lógica clássica?  Segundo Luís Henrique são duas as vantagens da lógica de Frege: a ampliação de seu campo e a formalização. A primeira é fundamental, pois sem a nova teoria do conceito e a incorporação da teoria dos conjuntos, sem esses dois elementos primordiais, jamais seria possível reduzir a aritmética à lógica. No caso da formalização, não pode dizer o mesmo, pois não é indispensável à construção de uma linguagem artificial, bastaria usar a linguagem comum com algumas correções e acrescentamentos que ajuntassem as vantagens da conceitografia. O objetivo de Frege foi à ampliação da lógica, visto que a formalização tornara as coisas mais simples.   

CRÉDITOS:

FREGE, Gottlob. Os Pensadores.Tradução: Luís Henrique dos Santos. Editora Abril, São Paulo, 1983.

domingo, 8 de junho de 2014

Schopenhauer e a crítica ao homem

por Leandro Morena
Os pensadores gregos colocaram o homem como parte da Physis. No pensamento Medieval o homem tornou-se um ser supremo, pois foi feito à imagem do seu criador, que, por sua vez, ofereceu toda a natureza para o homem usufruir. No pensamento moderno, o egocentrismo floresceu e o mecanicismo cartesiano idealizou o homem como uma máquina perfeita. O homem “deixou” a Physis, dominou toda a natureza, e, por fim, dominou o próprio homem.
                                        clip_image001
Ao longo da história da humanidade temos observado o poderio dos papas, reis, imperadores, príncipes e tiranos, seres humanos que submergem num titulo que os engrandece e torna-os seres “divinos” e intocáveis, que não passam de doxômanos, fugindo da sua originalidade que é apenas um ser humano como qualquer outro.
O filósofo Francês Étienne de La Boétie (1530-1563) na obra O Discurso da Servidão Voluntária coloca a questão de como determinado povos submetem-se à vontade de uma única pessoa, no caso, o tirano.  La Boétie afirma que tiranos não passam de, simplesmente, seres humanos com suas doenças, fraquezas, medos, vícios e etc.
                    clip_image002

clip_image003                O filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860) faz uma crítica severa ao homem, que de certa maneira há uma conexão com o que La Boétie anteriormente expôs.  Schopenhauer vai focar sua crítica aos vícios que estão impetrados na natureza humana, quebrando a superioridade do homem, colocando-o num reducionismo solidificado que vai jogá-lo como uma anomalia da natureza. Diferentemente dos filósofos Platão (427 a.C. -347 a. C.) e Santo Agostinho (354-430), estes, por sua vez, afirmaram que a posição do homem ereta torna-o mais próximo da divindade e o faz querer as coisas superiores, tornando-o superior as demais espécies, pois os animais são curvados para baixo e por isso inferiores (ver os artigos: O pensamento Platônico acerca da Transmigração das almas e a Superioridade do homem na filosofia Agostiniana),  Schopenhauer vai pensar contrariamente, e afirma sua admiração em observar como os animais andam da forma que a natureza os fez. É fato que Schopenhauer quis afirmar que os animais não fugiram da sua animalidade.
Existe no mundo apenas um ser mentiroso: o homem. Todos os outros seres são verdadeiros e sinceros, pois mostram-se abertamente como são e manifestam o que sentem. Uma expressão emblemática ou alegórica dessa diferença fundamental é o fato de que todos os animais andam em seu aspecto natural, o que contribui bastante para a impressão agradável que se tem ao vê-los; especialmente quando se trata de animais livres; tal visão enche meu coração de alegria. Em contrapartida, devido a sua vestimenta, o ser humano tornou-se uma caricatura, um monstro; o simples fato de vê-lo já é algo repugnante que se destaca até pelo branco de sua pele, não natural a ele, e pelas conseqüências repulsivas da sua alimentação a base de carne, que vai contra a natureza, bem como das bebidas alcoólicas, do tabaco, dos excessos e das doenças. Ele surge como uma mácula da natureza.
                                      
                          Tradução: Eduardo Brandão e Karina Jannini

O pensamento contemporâneo quebrou esses grilhões do egocentrismo e mostra-nos que o homem, cada vez mais, tem genes muito parecidos com os das outras espécies, diminuindo o distanciamento que por séculos vigorou.

Doravante vamos colocar as questões do homem do século 22, ele será inserido em qual lugar? Ele voltará fazer parte da Physis como os gregos antigos afirmavam? E a religião, terá os olhos voltados para as outras espécies?  E o domínio de poucos sobre muitos, será um fato consumado, ou a submissão continuará?    

Créditos:
HUISMAN, Denis. Dicionário de Obras Filosóficas. Tradução: Ivone Castilho Benedetti. Martins Fontes, São Paulo, 2002.

SCHOPENHAUER, Arthur. A arte de insultar. Organização e ensaio: Franco Volpi. Tradução: Eduardo Brandão e Karina Jannini. Martins Fontes, São Paulo, 2005.

segunda-feira, 21 de abril de 2014

O pensamento do filósofo Francesco Patrizzi

 

por Leandro Morena

 

clip_image001Francesco Patrizzi (1529- 1597) nasceu em Cherso. É considerado um filósofo renascentista neoplatônico, pois suas obras estão calcadas no pensamento platônico. No ano de 1576 começou ensinar filosofia platônica na cidade de Ferrara, e ficou nela até o ano de 1593, pois foi chamado em Roma para continuar com o ensino e a divulgação do platonismo, cidade essa que ficou até falecer.

Das principais obras de Patrizzi, destacam-se duas, a saber: Discussiones Peripateticae e a Philosophia Nova. A Discussiones Peripateticae trata-se de uma obra que vai contra o pensamento aristotélico, pois Patrizzi considera esse pensamento um inimigo da fé religiosa, pois para ele o aristotelismo vai negar omnipotência divina e o governo divino, esse pensamento é uma heresia para a ideologia do cristianismo.

                                             clip_image003

Patrizzi vai criticar fortemente os escolásticos, afirmando que estes não são verdadeiros filósofos pelo fato que apenas reformularam a filosofia aristotélica, sem preocuparem-se de conhecer as coisas tal como são; crítica essa que vai estender-se, principalmente, para o pensamento de Tomás de Aquino (1225-1274), pois este levou à tona o pensamento aristotélico. Em suma, Patrizzi vai empenhar-se para destruir a filosofia de Aristóteles. Na segunda obra Philosophia Nova, o filósofo vai focar o seu objetivo para a reconstrução de uma filosofia platônica que vai servir de alicerce à fé cristã. Ele vai trilhar o caminho a renovação e defesa do cristianismo através do retorno às doutrinas e crenças orientais: pitagóricas e platônicas. Dedicou essa obra ao Papa Gregório XIV (1535-1591) com o intuito do mesmo decretar que em todas as escolas cristãs fosse ensinada a sua filosofia. Ele pensava que com essa ação ocorreria uma transformação na sociedade e a volta dos protestantes na fé cristã. 

                        clip_image004

                A obra Philosophia Nova vai dividir-se em quatro partes:

1.       A panaugia ou doutrina da luz;

2.       A panarchia ou doutrina do primeiro princípio de todas as coisas;

3.       A panpsichia ou doutrina da alma, e;

4.       Pancosmia ou doutrina do mundo.

Segundo Abbagnano, Patrizzi vai afirmar como primeiro princípio o Uno, e este, por sua vez, é a causa primeira, absoluta e incondicionada e é qualificado como o bem. Do Uno distingue-se a unidade, que é gerada a partir dele, e a unidade os outros graus do ser até aos menos perfeitos: a sabedoria, a vida, o intelecto, a alma, a natureza, a qualidade, a forma e o corpo; esse conjunto destas nove ordens da realidade é que constitui o universo todo.   Para Patrizzi, o conhecimento humano é um ato de amor que tende voltar à unidade original, suprimindo a separação entre os elementos do ser, isto é, a união com o objeto cognoscível e incide no ato de amor pelo qual o homem tende para o objeto, buscando abolir a distância que o afasta deste último.  A pergunta é: como identificar o intelecto cognoscitivo com o objeto?  Isso só é possível com base numa identidade de natureza entre sujeito e objeto. Se o sujeito é alma e vida, consequentemente, o objeto também é alma e vida. O filósofo vai defender fortemente a animação universal das coisas, ou seja, o pampsiquismo que é o único princípio adequado a explicar a sua ligação no mundo, a atração que as conecta até formarem o todo e torná-las entráveis ao intelecto humano.   

                                      clip_image005

 

Créditos:

ABBAGNANO, Nicola. História da filosofia vol. V, 2º Ed. Tradução: Nuno Valadas e Antônio Ramos Rosa. Editorial Presença, Lisboa, 1978.