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Pansophia

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sábado, 1 de outubro de 2011

Do Conhecimento Exotérico e Acroático

por Osvaldo Duarte

Segundo Aulo Gélio, Aristóteles transmitia  aos  discípulos seus conhecimentos e comentários de duas espécies: exotéricos e acroáticos.  As disciplinas exotéricas eram aquelas referentes às meditações retóricas e à faculdade de argúcias e, também, comentavam-se as notícias atinentes aos assuntos civis; a outra espécie de conhecimento, isto é, os acroáticos, versavam sobre a Filosofia remota e mais sutil e as que diziam respeito à contemplação da natureza e aos debates dialéticos. No Liceu, as manhãs eram consagradas ao ensino das disciplinas acroáticas, sendo admitidos somente seus discípulos, ou seja, aqueles que exploravam seus intelectos e já possuíam os elementos da erudição, aplicando ao labor do aprendizado. Ainda no Liceu, à tarde, Aristóteles  dava outro curso oferecendo a todos os jovens indistintamente sem seleção, sendo esta audição exotérica, na qual  tratava do exercício do discurso; a este curso o estagirita  chamou de passeio vespertino, ao outro, passeio matutino; pois sempre dava seus cursos passeando (peripatético).  A. Gélio ainda nos diz que, o Mestre de Alexandre dividiu distintamente seus livros e comentários de todos os assuntos tratados no Liceu, a uns chamou de “exotéricos” e a outros “acroáticos”.
Alexandre ao tomar conhecimento da publicação daqueles livros “acroáticos” por Aristóteles, ainda que estivesse ocupado com grandes atividades bélicas, enviou carta ao Mestre dizendo que não agira corretamente, porque teria divulgado por livros aquelas disciplinas acroáticas nas quais o houvera instruído: “Pois em qual outra atividade, disse-lhe, poderemos estar à frente dos demais, se ao tornar-se perfeitamente comum a todos o que recebemos de ti? Eu de fato quereria exceder mais pelo conhecimento do que pelas riquezas e opulências”.
Aristóteles respondeu-lhe, segundo A. Gélio, aproximadamente nesses termos: “Os livros acroáticos, que reclamas terem sidos publicados e daí não ocultados como secretos, fique sabendo que nem foram editados e terem sido nem não editados, porquanto só serão inteligíveis por aqueles que nos ouviram”.
A. Gélio afirma que sua fonte foi o livro do Filósofo Andronico, e elogia as epístolas como sutis e de brevidade elegantíssimas. 

Abaixo reproduzimos as cartas, com a tradução do professor José R. Seabra F.:

[De Alexandre a Aristóteles, sucesso.
Não agistes corretamente tendo publicado os acroáticos dos nossos estudos, pois de quem então nos avantajaremos, nós dos outros, se, quanto aos estudos que recebemos, estes de todos se tornarem comuns? E Eu preferiria avantajar-me sobre as melhores coisas pelas experiências a avantajar-me pelas forças. Adeus, sê forte.]

[De Aristóteles a Alexandre, sucesso.
Escreveste-me sobre os estudos acroáticos pensando ser necessário preservá-los secretos. Sabe então que eles tanto são publicados com não são publicados: pois compreensíveis são apenas aos que nos ouviram.
Adeus, passa bem, rei Alexandre, sucesso.]

Créditos
GÉLIO, Aulo. Noites Áticas. Tradução: José R. SEABRA F.. Londrina, Eduel, 2010.