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Pansophia

Pansophia

domingo, 24 de julho de 2011

Protágoras- A origem da Política e das Cidades


por Osvaldo Duarte

O que nos mantêm unidos e a primeira lei divina.


O Homem após ter vindo à luz, já em posse do lote divino, isto é, da sabedoria e da arte de trabalhar com o fogo, devido à sua afinidade com os deuses, foi o único dentre os animais a levantar altares e fabricar imagens deles. Não demorou muito para que pudessem emitir sons e articular palavras, fazer casas, vestes, calçados, leitos, a procurar na terra os alimentos necessários à sua sobrevivência. Assim providos, viviam dispersos; não havia ainda cidades, e, por este motivo, eram mortos pelos animais selvagens, pois, eram inferiores em condições físicas em relação a estes. As artes mecânicas lhe asseguravam a sua subsistência, porém, não serviam na sua luta contra os demais animais, pois, carecia ainda da arte política e, conseqüentemente, da arte da guerra. Para conseguirem sobreviver fundaram cidades, mas com isso, causavam-lhes danos recíprocos, assim, voltavam a dispersar-se sendo destruídos como antes.

Zeus, preocupado com a geração dos homens, chamou Hermes e ordenou que levasse aos homens o PUDOR E A JUSTIÇA, como princípio ordenador das cidades e laço de aproximação entre os homens. Hermes, diante de tal incumbência, perguntou a Zeus qual seria o critério de distribuição: Distribuí-los-ei como foram distribuídas as demais artes? Pois, estas foram repartidas da seguinte maneira: um só homem com conhecimento da medicina é útil para muitos que a ignoram, assim verifica-se com as demais artes.
Devo proceder da mesma forma ou repartir igualmente o pudor e a justiça entre os homens? Disse-lhe Zeus: Repartirás igualmente para que todos participem deles, pois, se o pudor e a justiça forem privilégios de alguns, de poucos, como se dá com as demais artes, as cidades não subsistirão. Estabeleça também, a seguinte Lei: Que todo
 homem incapaz de pudor de justiça sofrerá pena capital, sendo considerado flagelo da sociedade.
Por este motivo é que todos, inclusive os atenienses, quando se trata de problemas relativos à arte da construção, ou de qualquer outra profissão, poucos podem participar das suas deliberações, não tolerando opinião de estranhos a esse pequeno grupo. Quando, porém, vão deliberar sobre a virtude política, admitem todos os cidadãos, por ser necessidade que todos participem dessa virtude, sem qual nenhuma cidade poderá subsistir.





Referências Bibliográficas
PLATÃO. Diálogos, tradução Carlos Alberto Nunes, São Paulo, Edições Melhoramento, 1970.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Protágoras - A origem dos mortais

por Osvaldo Duarte



Houve uma época em que só havia deuses, sem a existência de criaturas mortais, mas em um determinado momento o Destino decretou que estas fossem criadas, então, nas entranhas da terra, misturando terra e fogo com os demais elementos que a estes se associam, os deuses as plasmaram. Chegando o tempo de trazê-las à luz, os deuses incumbiram Prometeu e Epimeteu de provê-las do necessário e de darem as qualidades adequadas a cada uma delas.  Epimeteu propôs a Prometeu que deixasse a seu cargo a distribuição, ficando com Prometeu a responsabilidade da revisão final. Com assentimento de Prometeu, Epimeteu começou a executar seu plano. A alguns animais atribuiu força sem velocidade, dotando de velocidade os mais fracos, a outros deu armas; para os que deixara com a natureza desarmada, providenciou diferentes meios de preservação, aplicando sempre o critério de compensação, com vistas a evitar que alguma espécie viesse a extinguir-se.




Depois de providenciado tudo para que não se destruíssem reciprocamente, arranjou meios de protegê-los contra as estações de Zeus, dotando-os de pelos abundantes e pele grossas para suportarem o frio ou adequado para o calor. Determinou ainda a todos eles alimentos variados, de acordo com a constituição de cada um: ervas, frutos das árvores, raízes, e a alguns até mesmo outros animais como alimento, limitando, porém, a capacidade de reprodução daqueles, visando assegurar a preservação das espécies.
Entretanto, Epimeteu carecia de reflexão, despendendo, sem o perceber, todas as qualidades que dispunha, deixando sem beneficiar a geração dos homens, ficando, porém, sem saber o que fazer com ela. No momento da inspeção, Prometeu verificou que todos os animais se achavam devidamente providos de tudo, somente o homem se encontrava nu, sem calçado, sem armas e sem cobertura. Chegado o dia de trazer o homem à luz, não sabendo como assegurar a sua salvação, roubou de Hefesto e de Atena a sabedoria das artes juntamente com o fogo, pois, sem o fogo seria inútil as artes e o seu aprendizado, e as deu aos homens. Assim, o homem veio à luz dotado de conhecimento para a vida, mas sem a sabedoria política, pois, esta se encontrava com Zeus. A ocultas entrou no compartimento em que Atena e Hefesto amavam exercitar suas artes, roubando de Hefesto a arte de trabalhar com o fogo e de Atena o que lhe é próprio e entregou ao homem.

Deste modo, alcançou o homem condições favoráveis à sua sobrevivência. Quanto a Prometeu, consta que foi pertinentemente castigado pelo furto, por culpa de Epimeteu.
Referências Bibliográficas
PLATÃO. Diálogos, tradução Carlos Alberto Nunes, São Paulo, Edições Melhoramento, 1970.

sábado, 2 de julho de 2011

Sustine et Abstine

por Osvaldo Duarte


O estoicismo é considerado, de certa forma, Filosofia da prática, de uma moral rígida que se traduz no comportamento do sábio, que sempre será de acordo com a natureza.


Geralmente a Escola do Pórtico é dividida ao longo dos cinco séculos da sua existência em três períodos. O primeiro, que é o da sua fundação por Zenon de Cítion, é considerado o período antigo (séc. III a.C), que têm como expoentes além de seu fundador, Crisipo e Cleantes, tendo como centro de propagação, Atenas. O segundo período é chamado de estoicismo médio (sec. II e I a.C), cuja fronteira estende-se até Roma; destacam-se neste período, Panécio de Rodes, Cipião Emiliano e Posidônio de Apameia. O último período é chamado de neo-estoicismo ou estoicismo imperial ou ainda, romano. Os filósofos mais representativos deste período são: Epicteto, Sêneca, Musónio Rufo e Marco-Aurélio (séc. I e II d.C). É nesta época que a moral está mais desenvolvida, tendo como apotegma “suporta e abstém-te.”
Viver para os estóicos é viver conforme a natureza, aceitando a vida com serenidade. O sofrimento, os percalços da vida são inevitáveis, são processos pelos quais a Providência aperfeiçoa o homem, pois o mal é parte de uma ordem cósmica, cabendo ao homem aceitá-lo como tal.


Sêneca nos ajuda a compreender melhor esta aceitação sem resistência e sem aflição:


Continuas então a indignar-te ou a lamentar-te disto ou daquilo, sem entenderes que o único mal efetivo é o próprio fato de tu te indignares ou te lamentares?! Se queres saber a minha opinião, eu entendo, que nenhum motivo de aflição existe para o homem além da própria circunstância de ele julgar que a natureza contém em si motivos de aflição. No dia em que deixar de poder suportar o que quer que seja, deixarei de poder suporta-me a mim mesmo. Falta-me saúde: é parte do meu destino. Os escravos adoeceram, os rendimentos foram-se a casa abriu em rachas, caíram sobre mim prejuízos, preocupações, perigos: tudo isso é natural. Direi mesmo mais: é inevitável! São condições a que estamos obrigados e não meros acidentes...
Sêneca, Cartas a Lucílio – Carta 96.


Para ilustrar, citemos alguns exemplos. Segundo Aulo Gélio, o filósofo Galvísio Tauro sabendo da enfermidade de um amigo estóico, foi visitá-lo. O doente estava febril, com dores e tormentos intestinais; seus suspiros eram abafados com gemidos que indicavam mais dor do que a luta contra própria dor. Mandado vir o médico e, conversado sobre o remédio que devia ser administrado, Tauro fortaleceu o doente com seu testemunho da paciência e da tolerância com que ele, o enfermo, enfrentava a situação. Ao deixar seu amigo, Tauro comenta aos seus sectários, que não é um espetáculo agradável, mas útil a peleja entre o filósofo estóico e a dor.
Outro exemplo de conformidade é de Epicteto, que era escravo de Epafrodito, confidente de Nero, conta-se que seu senhor, brutal, lhe torce certo dia uma perna num aparelho de tortura: “Olha que a quebras” – disse Epicteto tranquilamente; vendo sua previsão realizada limitou-se a observar: “Eu não te falei?



Mestre Epicteto, nos conta Aulo Gélio, costumava dizer que, dois são os vícios mais graves e mais terríveis de todos, a intolerância e a incontinência: quando ou as injúrias que se devem suportar não toleramos nem suportamos; ou quando das coisas e prazeres de que nos devemos manter longe, não nos mantemos. “E assim, disse ele, caso alguém mantenha estas duas palavras no coração e dominando e observando a si mesmo as cumpra, esse será em quase tudo impecável, e vida viverá tranquilíssima. Estas duas palavras Epicteto dizia: “suporta e abstém-te (Sustine et Abstine)” (A.G.XV,19).

Referências Bibliográficas:
EPICTETO. Manual de Epitéto Filósofo. Tradução: Frei Antonio de Souza. São Paulo, Edições Cultura, 1944.
GÉLIO, Aulo. Noites Áticas. Tradução: José R. SEABRA F.. Londrina, Eduel, 2010.
PIMENTEL, Maria Cristina. Quo Verget Furor? Aspectos Estóicos na Phaedra de Sêneca. Lisboa, Edições Colibri, 1993.
SÊNECA, L. A., Cartas a Lucílio. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2009.