por Leandro Morena
Utilitarismo é o pensamento ético normativo ao qual uma ação é moralmente certa, isto é, quando esta ação venha promover o bem estar para a maioria da coletividade. Isso não atinge todos os indivíduos, pois é aceito que um pequeno número de indivíduos se sacrifique para que a maioria atinja o bem estar. Mesmo assim, essa doutrina filosófica condena a infelicidade do indivíduo ou de todos que venham ser afetados por ela.
Em 2011 o Japão foi atingido por um tsunami devastador que causou o rompimento de um reator de uma usina nuclear na cidade de Fukushima. Algumas semanas após o desastre, alguns homens foram selecionados para entrar na usina com o objetivo de desligar dois reatores que ainda funcionavam e minimizar o problema da radiação do reator que estava vazando. Todos eles aceitaram ir sabendo do risco que corriam da contaminação que causará problemas de saúde no futuro e até com a hipótese de perderem à vida no mesmo local. Na visão do utilitarismo essa ação é considerada válida, pois vai sacrificar alguns indivíduos para salvar a maioria da população desse local.
Aqui no Brasil, no Pantanal, os boiadeiros são obrigados levar o rebanho, por causa da escassez de comida, para outra região farta em alimentos para mantê-los bem. Um dos obstáculos que eles se deparam são os rios infestados por piranhas. Para atravessar o rio com o rebanho, o boiadeiro vê-se obrigado separar um boi ao qual será sacrificado para que o rebanho atravesse o rio em segurança. O boi é separado e levado ao rio, logo é atacado pelas piranhas. Rapidamente o rebanho atravessa o curso d’água e conseguem chegar do outro lado. Em poucos minutos o boi que foi separado é devorado. Um boi teve que ser sacrificado para que a maioria do rebanho ficasse salva. Observamos que nesse exemplo alcançou-se o princípio do utilitarismo, pois causou o bem estar para a maioria do rebanho.
O utilitarismo já vigorava na Grécia antiga, onde o filósofo Epicuro (341.-270 a.C.) e seus sucessores sistematizaram essa doutrina que consiste em evitar a dor e procurar os prazeres moderados para atingir a sabedoria e a felicidade para o bem estar de uma comunidade. Mas foi no século XVIII que o filósofo Jeremy Bentham (1748-1832) fundiu a idéia do utilitarismo seguido pelo seu sucessor que deu continuidade nesse pensamento, tratando-se do filósofo John Stuart Mill (1806-1873). Esses filósofos agregaram em seus pensamentos o princípio da utilidade e conseguiram aplicá-lo nas questões importantes que estão consolidadas nos maiores poderes que regem uma sociedade, são eles: a justiça, a política, a economia entre outros. Em suma, a tese central do utilitarismo clássico defende que uma ação ética deve aumentar o prazer e diminuir o sofrimento.
O utilitarismo preferencial de Peter Singer tem como objetivo que o interesse de um indivíduo não deve ser maior do que o outro e os interesses desse indivíduo devem levar em conta todos os indivíduos que serão afetados pela decisão dele, ou seja, visa que uma ação ética seja adequada para todos os envolvidos na ação tomada ao longo do tempo.
Um princípio ético pode ser entendido como uma norma ou regra geral que visa colocar um modelo cuja finalidade é realizar um valor. Para Peter Singer um princípio ético é a aplicação da ética e moralidade que aborda questões práticas de como tratar certas classes de minorias étnicas como, por exemplo, os animais que são usados para na fabricação de alimentos e em pesquisas de laboratórios, o aborto, a igualdade para as mulheres, etc.
Segundo Peter Singer, o que torna os homens iguais são os seus interesses que podem ser usados nas decisões morais, não tratar todos iguais, mas o equilíbrio em que são afetados por uma ação moral. Singer discorda de qualquer teoria de que todos os homens são iguais, ele afirma que existem diferenças entre os indivíduos, porque os seres humanos não a possuem no mesmo grau, um exemplo são os recém-nascidos.
A filosofia singeriana coloca-nos à frente de duas ideias: a Igualdade de consideração de interesses e no princípio de igual consideração de interesses.
No primeiro, Igualdade de consideração de interesses, Singer afirma: “é um princípio mínimo de igualdade, no sentido que não impõe um tratamento igual”. A igual consideração de interesses age de uma forma não-igualitária, por exemplo, num acidente envolvendo dois carros com duas vítimas, o primeiro motorista (A) sofreu uma fratura exposta num dos braços e está sofrendo muita dor, já o segundo motorista (B) quebrou um dos pés e está sentindo dor, mas uma dor mais suportável do que uma fratura exposta. O médico chega ao local e tem apenas dois anestésicos para aliviar a dor, se der apenas um anestésico para o indivíduo (B) que tem apenas o pé quebrado, logo a dor acalma, mas para o indivíduo (A) que tem a fratura exposta não basta apenas um anestésico para aliviar a dor; nessa situação a igual consideração de interesses escolhe que o indivíduo (A) que tem a fratura exposta por ter a dor mais forte receba as duas doses do anestésico.
Já o princípio de igual consideração de interesses, segundo Singer, procura dar o máximo de igualdade, mesmo se às vezes não seja a melhor decisão. Noutro exemplo usando um acidente envolvendo dois motoristas, uma vítima(A) fatalmente veio a perder um braço e está sujeito a perder três dedos da mão, e a outra vítima(B) está sujeita perder um dos braços, que socorrendo logo pode ser salvo. Neste caso o princípio de igual consideração de interesses diz que a vítima (B) que está sujeita a perder um dos braços tenha prioridade, pois o princípio entende que se o individuo for socorrido logo salvará o braço, pois a outra vítima (A) já perdeu um braço e pode vir a perder os três dedos, e entre amputar três dedos ou salvar um braço a opção é amputar os três dedos da outra vítima (A). Aqui não devemos levar em conta os interesses particulares, mas sim o interesse de todos que foram afetados.
Créditos:
BENTHAM, Jeremy e STUART MILL, John. Os Pensadores. Tradução: Luiz João Baraúna, João M. Coelho e Pablo R. Mariconda. Abril Cultural, São Paulo, 1979.
SINGER, Peter. Vida Ética. Tradução: Alice Xavier. Ediouro, Rio de Janeiro, 2002.
SINGER, Peter. Ética Prática. Tradução: Jefferson Luiz Camargo. Editora
Martins Fontes, São Paulo, 2006.
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