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Pansophia

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terça-feira, 16 de abril de 2013

Epicteto, o Escravo Filósofo (50 - 138 d.C.)

por Osvaldo Duarte
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Breve notícia
 
Mestre Epicteto nasceu em Hierápolis na Frígia entre 50 e 60 d.C. Enquanto escravo frequentou as lições de Caio Musônio Rufo, filósofo estóico, cuja Escola ficava em Roma. Da sua condição servil, originou o cognome Epicteto (Escravo). Ainda quando jovem, foi torturado pelo seu senhorio que o deixou coxo. O filósofo, desprendido de bens materiais, costumava estudar sob a luz de um candeeiro de barro, pois o de metal fora roubado, o que não pôde deixar de queixar-se a si mesmo: “Ainda tinha em minha casa algo que pudesse despertar a cobiça”. Como escravo, Epicteto foi preceptor dos filhos de Epafrodito, confidente de Nero, sendo que mais tarde seu amo o libertou.
 
Entre 88/93 d.C. Domiciano publicou um decreto expulsando os filósofos de Roma, A. Gélio nos informa:
 
Durante o consulado de Caio Fânio Estrabão e Marco Valério Messala, publicou-se um decreto do senado sobre os filósofos e sobre os retores. “O pretor Marco Pompônio consultou o senado. Porque as palavras se produziram sobre os filósofos e sobre os retores, desse fato assim consideraram o pretor Marco Pompônio advertisse e cuidasse que em Roma, como lhe parecesse conforme a sua fidelidade e conforme a república, eles não ficassem”.
                                                                                                        Trad. José R. Seabra F.
 
Após o decreto, Epicteto já liberto, retirou-se para a Nicópolis no Épiro, fundando aí a sua prestigiosa Escola. Ignoramos a data da sua morte, mas é assente que ocorreu por volta do ano 138 d.C..
Sua vida foi sempre celibatária e pobre.
 
Suas Lições
 
Sua Escola foi famosa na época, atraindo ouvintes de vários lugares, todos entusiasmados pelas lições do Mestre. As aulas eram orais e com rigor lógico; ensinava dialogando à maneira de Sócrates, onde não faltava, é claro, uma pitada de ironia. Lia-se um texto de algum filósofo do estoicismo primitivo e comentava-o, procedendo a exegese moral. Dos seus alunos eram exigidos exercícios escritos e orais. Expressava-se com carisma, e valendo-se da koinê, isto é, da linguagem comum do povo.
 
Para progredir em Filosofia, seus discípulos eram orientados à modéstia e a terem paciência, pois, filósofo se faz com o tempo e não da noite para o dia.
 
Como bom estóico, tinha como princípio a moral; exigia de todos que frequentavam as suas lições que fizessem o exame de consciência, não no sentido de confissão, ou de punição, mas para rever suas atitudes e procurar melhorá-las com o intuito de atingir a autárkeia (domínio de si – auto-suficiência).
Sua filosofia era da práxis, ou seja, tinha por objetivo a prática na vida cotidiana.
Epicteto foi um grande Filósofo, Educador e Conhecedor da alma humana.
 
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Sua obra
 
Assim como Sócrates, Epicteto não deixou nada escrito. O que nos chegou foram as Diatribes (ao que parece serem oito livros, mas somente quatro restaram), e o Enchiridion (Manual - Máximas extraídas das Diatribes), obras  que são anotações de um dos seus discípulos Flávio Arriano, grego de nascimento, mas com cidadania romana, que assim nos adverte:
 
Não redigi as lições de Epicteto (...). Mas tudo o que ouvi dizer, transcrevendo, o quanto possível com as mesmas palavras, tentei conservar para o futuro como recordação do seu pensamento e do seu franco falar.
 
 
Sua Filosofia
 
Estóico como Sêneca e Marco Aurélio, sua filosofia é eminentemente moral, mas no caso,  com acentuada preferência pela filosofia de Crísipo na tentativa de recuperar a filosofia primitiva do Pórtico, e nem por isso deixou de absorver a filosofia do seu tempo e, com muita cautela, também acolheu a mensagem de Diógenes, o Cínico.
Sua ética tem como princípio a clara distinção entre bens, males e indiferentes:
Os bens são as virtudes e as coisas que participam dela. Os males são os vícios e das coisas que participam deste, ou seja, contrários à virtude. Os indiferentes são as coisas externas e referentes ao corpo, tais como: saúde, vida, morte, prazer, pena...
 
As coisas que acontecem em nossa vida dividem-se em duas classes, a saber:
 
I) Das coisas que estão em nosso poder - O bem e o mal, pois ambos dependem da nossa vontade, estão em nosso poder fazer ou não.
 
II) Das coisas que não estão em nosso poder – Tudo o que não depende da nossa vontade.
 
Para lançar luz, recorremos ao Manual:
 
Das coisas que há no mundo, umas estão em nossa mão, e outras não.  Em nossa mão está a opinião, e suspeita, e apetite, e aborrecimento, e desejo, e numa palavra, todas as obras que são nossas. Não estão em nossa mão o corpo, a fazenda, nem a honra, nem o senhorio, nem em efeito nenhuma das que não são obra nossa.
                                                                  Trad. Frei Antonio de Souza
 
As coisas que dependem de nós são por natureza livres, sem impedimento, isentas de obstáculos; e as que de nós não dependem são inconsistentes, servis, susceptíveis de impedimento, estranhas.
                                                                                                                  Trad. Pedro Alvim
 
Não queiras que as coisas, que sucedem, sejam sempre à tua vontade; mas se queres acertar, quere-as como elas vierem. A doença impedimento é ao corpo, mas não ao teu instituto, se tu mesmo não queres: o ser manco, impedimento é dos pés, do teu intento não. E assim, se em tudo o que suceder, fizeres esta conta, acharás que as coisas serão impedimento a outras, e não a ti.
                                                                  Trad. Frei Antonio de Souza
   
Não exijas aconteça como tu desejas aconteça. Antes queiras aconteçam as coisas como acontecem – e quão feliz, então, não serás!
                                                                                                                  Trad. Pedro Alvim
 
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Influência da sua Escola
 
Seu Manual exerceu forte influência entre pagãos e  cristãos que o admiravam. Com efeito, o Manual também foi adotado pelo monaquismo, para uso dos monges eremitas do Monte Sinai. São Bento utilizou-se de alguns preceitos para os monges do Ocidente. Mais tarde, Pascal foi também um grande admirador de Epicteto, o escravo Filósofo.
 
Créditos:
 
EPICTETO, Manual de Epitecto: Máximas Diatribes e Aforismos. Lisboa: VEGA, 1992.
GÉLIO, A., Noites Áticas. Trad. José R. SEABRA F.. Londrina: Eduel, 2010.
PETERS, F. E., Termos Filosóficos Gregos. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1977.
REALE, G., Renascimento do Platonismo e do Pitagorismo. São Paulo: Edições Loyola, 2008.
ULLMANN, R.  A., O Estoicismo Romano. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1996.

sábado, 13 de abril de 2013

A filosofia de Leão Hebreu

 

por Leandro Morena

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Leão Hebreu (1464-1535) foi um filósofo de origem portuguesa. O seu nome verdadeiro é Judá Abravanel. Especializou-se nos estudos de Cabala e nos estudos da filosofia clássica hebraica, muçulmana e latina e formou-se em medicina.

Na filosofia destacou-se por mostrar a semelhança da bíblia com a filosofia grega, “santificando” principalmente o platonismo. Uma das suas principais obras, Diálogos de Amor, é um diálogo entre dois amantes em que os protagonistas são: Fílon o amor e Sofia a sabedoria. Nesta obra o filósofo pretende mostrar sua doutrina afirmando que o amor é uma fundamentação ontológica da realidade, idealizado como sentimento e intelecto. Deste modo Leão Hebreu unifica razão e fé, esta última como predominante.

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A teoria do amor foi retomada da filosofia de Nicolau de Cusa (1401-1464) e Marcílio Ficino (1433-1499). Para o filósofo Leão, o amor tem um duplo processo, circularidade cósmica, isto é, que vai de Deus ao homem e do homem para Deus, ou seja, o homem é a única conexão de Deus com o mundo terreno, e isso faz com que o homem seja o centro do universo.

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O amor é a que tudo acalora e a tudo adapta. Quando o intelecto humano faz união ao corpo, conduz a luz divina do mundo superior para o mundo inferior e faz assim participar de Deus tudo quanto foi criado. Segundo Abbagnano, o amor de Deus pelo mundo inferior, mundo este que é imperfeito, tem como objetivo que este mundo atinja o grau elevado de perfeição e beleza. O amor do homem tem como finalidade a plena e absoluta união com Deus.

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Créditos:

ABBAGNANO, Nicola. História da Filosofia - vol.V, 2º Ed.Trad. Nuno Valadas e Antônio R. Rosa. Lisboa, Editorial Presença, 1978.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

A cidadania ateniense


por Osvaldo Duarte
cidado ateniense
Atenas não cedia o direito de cidade aos estrangeiros domiciliados em seu território. A princípio, eram considerados cidadãos atenienses, os filhos de pai ateniense independentemente da pátria da mãe.
Com desenvolvimento do comércio, muitos estrangeiros foram atraídos à Ática, e ali se estabeleceram, provocando um aumento significativo no número de casamentos mistos.
Em 451 a.C., Péricles propôs a lei de que era considerado cidadão, filho de pai e mãe, ambos com direito de cidade. O filho que não se enquadrava nesta lei, era considerado impuro, bastardo, um nothos; por este motivo, o ateniense quando apresentava o filho à fátria, jurava que sua esposa era também ateniense. O título de cidadão era cedido ao jovem de dezoito anos, pela sua inscrição no registro no demo. Durante os dois próximos anos, o jovem servia como membro da milícia e, somente aos vinte anos é que tomava posse dos seus direitos como cidadão, possuindo assim, a plenitude dos direitos civis e políticos, podendo ter assento na assembléia, opinar e votar, ter um cargo na magistratura e nas demais funções que competiam aos cidadãos. Para exercer a magistratura superior, o jovem deveria ser abastado.
A fátria, embora não tenhamos clareza do seu significado no mundo grego, ao que tudo indica, era um agrupamento constitutivo da cidade, evocando uma relação familiar, ligada à vida dos cidadãos, pelo nascimento, pela iniciação do jovem, casamento, etc..
Além de gozar dos direitos políticos, como dissemos acima, os cidadãos eram os únicos que possuíam terras. A maior parte do seu tempo era destinada aos assuntos da cidade (questões públicas). O comércio e a indústria pouco o atraiam, pois tais funções não eram dignas de um cidadão, a não ser a exploração de pedreiras e das minas por estarem ligadas diretamente às suas propriedades. Cabia aos estrangeiros (metecos) e aos escravos o trabalho industrial e comercial.
metecos
A democracia triunfava, e o direito de cidade dava aos que dele desfrutavam vantagens materiais e morais. Quem não era considerado cidadão, empenhava-se em sê-lo, ao mesmo tempo quem o era, defendia esse privilégio. O direito de cidade somente era concedido a um estrangeiro apenas sob reconhecimento nacional, uma recompensa por serviços eminentes.
Créditos:
CROISET, A. As Democracias Antigas. Rio de Janeiro, Livraria Garnier, 1923.
GLOTZ, Gustavo. História Econômica da Grécia. Lisboa, Edições Cosmos, 1973.
MOSSÉ. Claude. O Cidadão na Grécia Antiga. Lisboa, Edições 70, 1999.