Nas Leis, Platão retoma a velha questão de Protágoras, de que o homem é a medida de todas as coisas. Se no Crátilo Platão encontra-se na aporia, nas Leis caminha pela via da religiosidade.
Crátilo
(...) como ensinava Protágoras, dizendo que “o homem é a medida de todas as coisas” – ou seja, que todas as coisas são para mim tal como me aparecem, e que são para ti tal como te aparecem...
E o que te parece o seguinte? Os muito nobres são muito razoáveis, e os muito vis, muito desrazoáveis?
Nesse caso, parece-me que és inteiramente da seguinte opinião: que, existindo razoabilidade e a desrazoabilidade, é de todo impossível que Protágoras diga a verdade; porque, na verdade, um homem nada poderia ser mais razoável do que outro, se aquilo que cada um opina fosse a verdade para esse.
Assim sendo, se Protágoras diz a verdade e a verdade é essa – que as coisas são para cada um como lhe parecem -, alguns de nós serão razoáveis e outro desrazoáveis?
Então, se nem todas as coisas são da mesma maneira para todos, simultaneamente e para sempre, nem cada coisa é para cada um em particular, é evidente que as coisas têm uma certa entidade estável...
Leis
Qual é, pois, o comportamento agradável ao deus e digno de seus seguidores? Só há um, claramente expresso num antigo ditado: o semelhante agrada ao semelhante sempre que observa a medida, o que não acontece com os descompassados, que nem estimam reciprocamente nem apreciam os comedidos. Para nós, deus é a medida de todas as coisas, não o homem, como se diz comumente, seja este quem for. Assim para ficar amado de deus, terá necessariamente de tornar-se semelhante a ele, na medida das suas possibilidades. De acordo com esse princípio, o que entre nós for temperante será amigo de deus, por assemelhar-se-lhe, enquanto o intemperante, que não se lhe assemelha, é injusto e diferente dele, e assim com tudo o mais, segundo o mesmo raciocínio.
Está em deus o poder do começo, meio e o fim de tudo que o existe, marchando sempre em linha reta tem no seu rastro a justiça. O homem que desviar-se da lei divina receberá o castigo, mas o homem que a seguir de perto, i.e. o homem virtuoso, será feliz.
Com efeito, ao afastar-se da retidão, o homem abandonado por deus, procurará a companhia de outros que lhes sejam iguais, desprezando os comedidos, provocando confusão e, em pouco tempo prestará contas à justiça, arruinando a sua casa e toda a cidade. O intemperante, o injusto não é amigo de deus.
O homem virtuoso oferecerá sacrifícios aos deuses e estará sempre em ralação com eles através de preces e oferendas e todo o culto divino e, na medida do possível será semelhante a deus e seu amigo.
Créditos
PLATÃO. Leis, vol. XII-XIII. Trad. Carlos Alberto Nunes. Pará, Universidade Federal do Pará, 1980.
PLATÃO. Crátilo. Trad. Maria José Figueiredo. Lisboa, Instituto Piaget, 2001.