por Osvaldo Duarte
8. Aquilo que se obsta conduz à concordância, e das tendências contrárias provém a mais bela harmonia.
51. Não compreendem como o discorde concorda consigo mesmo: harmonia, reciprocamente tensa, como a do arco e da lira.
54. A harmonia invisível é superior à visível.
80. É preciso saber que Pólemos [a guerra] é comum, e que Dike [o direito*] é Eris [a luta ou discórdia], e que tudo acontece segundo Dike e Chreó [a necessidade].
Na obra O Banquete, na fala de Erixímaco (médico), Platão nos ajuda a compreender como a unidade opondo-se a si mesma, produz a harmonia:
“O que ele (Heráclito **), talvez quisesse significar é que a harmonia é formada de notas inicialmente discordantes, agudas e graves, porém deixadas de acordo pela arte da música. Não se concebe que possa surgir harmonia de agudos e graves que continuem a opor-se. Quem diz harmonia, diz consonância, e consonância é uma espécie de acordo, não sendo possível haver combinação de opostos, enquanto se mantêm como tais. De jeito nenhum pode haver harmonia de elementos opostos que não se combinem. A mesma coisa se dá com o ritmo, que provém do rápido e do lento, inicialmente opostos, mas que acabam por ficar de acordo.”
Damião Berge nos faz recordar que tanto o arco como a lira são objetos sagrados, de Ártemis (o arco), e de Apolo (a lira), sendo que na função própria de cada um é que se revela o ser harmonioso; e ainda, a tensão se dá quando são retirados do seu estado habitual, isto é, da sua quietude primitiva.
Esta tensão dos opostos que gera a harmonia, segundo Casertano, encontra-se em todos os aspectos da realidade.
A harmonia significava desde Homero, uma liga, um vínculo que prende em unidade. Para Heráclito, harmonia significa o equilíbrio, a concórdia.
* Costuma-se traduzir por Justiça.
** Grifo nosso.
Créditos
BERGE, Damião. O Logos Heraclítico. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1969.
CASERTANO, Giovanni. Os Pré-Socráticos. Trad. Maria da Graça Gomes de Pina. São Paulo, Edições Loyola, 2009.
PLATÃO. Diálogos, O Banquete,, vol. IV. Trad. Carlos Alberto Nunes. Pará: Universidade Federal do Pará, 1980.