por Leandro Morena
Seguindo a tradição da Bíblia, o filósofo Santo Agostinho (354-430) reafirma que o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus. Agostinho explica que o homem é semelhante a Deus, principalmente, e, sobre tudo, pelo intelecto, pois este é a alma. A filosofia agostiniana coloca a singularidade da espécie homo sapiens como uma “divindade”, e assim, este pode usufruir de todas as outras espécies como bem entender.
Na obra de Agostinho, A Cidade de Deus, em várias passagens, fica muito evidente essa superioridade. Agostinho explica que Deus ao criar o homem, um ser racional, permitiu que o mesmo dominasse todas as outras espécies: os peixes, as aves, os répteis, considerados irracionais. Para ele, essa é a ordem natural das coisas. O filósofo afirma que o homem tem que dominar apenas as espécies irracionais, e não pode dominar a si mesmo, isto é, a sua espécie.
Agostinho declara que o homem é tão perfeito, pois a beleza do corpo humano, os órgãos dos sentidos bem estruturados, a postura do homem erguida para o céu (essa posição mostra que o homem tem que desejar as coisas do alto), a bondade, a capacidade da linguagem, mostra-nos o quão existe de Deus no corpo humano e tudo isso tão bem elaborado, para servir a alma racional nessa criação magnífica. Seguindo a tradição da filosofia platônica, (ver o artigo publicado nesse blog: O
pensamento Platônico acerca da Transmigração das almas), diferentemente do homem, continua Agostinho, os animais irracionais, além de não possuírem uma alma imortal, estão curvados para a terra, o que consolida, mais ainda, um distanciamento dessas espécies com o criador. Ele vai afirmar que mesmo alguns animais por serem mais fortes e ágeis do que o homem, não os faz superiores, pois na escala da natureza, o homem é a perfeição nobre, única e exclusiva da criação.
A singularidade do homem na filosofia agostiniana vai estender-se pelo período medieval, onde muitos pensadores, citando o exemplo do filósofo São Tomás de Aquino (1225-1275), continuarão com a ideia da superioridade da vida humana, e estender-se-á na Filosofia Moderna, ficando evidente, principalmente nas filosofias cartesiana e espinosana.
No quadro abaixo, o pensamento agostiniano das principais diferenças que tornam o homem um ser superior:
Homem
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Demais espécies
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Possui intelecto, ser racional
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Irracionais
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Anatomia perfeita (corpo erguido para o céu)
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Anatomia imperfeita (corpo curvado para a terra)
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Possui alma imortal
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Não possui alma
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Usufrui da natureza (pois é a ordem natural)
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Existem unicamente para servir o homem
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Imagem e semelhança do Criador
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Créditos:
AGOSTINHO, Santo. Cidade de Deus contra os Pagãos, vol. II, 4º Ed. Trad. Oscar Paes Leme. Editora Vozes, São Paulo, 2002.
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