por Leandro Morena
Justino nasceu em Flávia Nápoles, hoje Nablus no ano de 100. Sua educação abrangeu história , poesia e retórica. Na fase adulta debruçou-se nos estudos da filosofia, principalmente nas correntes do estoicismo e platonismo. Em sua trajetória, encontrou um homem erudito chamado Trifão que colocou para ele discussões filosóficas, numa destas discussões, Trifão apresentou-lhe a vida de Jesus e comentou que os profetas apareceram antes dos filósofos, e que esses profetas profetizaram a vinda de Cristo cumprindo a mesma. Nesse momento, Justino viu-se tomado pela vida de Cristo, convertendo-se nessa ideologia no ano de 133, causando-lhe um carisma muito forte pelos profetas e por Cristo. Justino começou a afirmar que essa era a única filosofia segura de grande utilidade. Nota-se que Justino é um dos primeiros que começam defender a religião cristã. Como filósofo deu aulas em Éfeso e em Roma seguindo esse mesmo pensamento. Escreveu as obras: Apologias, que foram duas, e o Diálogo com Trifão que conta a sua própria experiência de vida citada acima.
Na sua obra apologética, ele insiste em afirmar que Jesus Cristo é o Logos que todos os filósofos, anteriores a ele, mencionaram. Justino afirma que todos os que vivenciam conforme o Logos são cristãos, e desse modo não ficam a mercê de sofrerem o medo e as perturbações. Para ele o Logos seria o próprio Cristo encarnado. Justino afirmara que o Logos contribui com a razão humana, pois para que toda pessoa criada como ser racional, tem a probabilidade de perceber a luz da verdade, antes mesmo das mesmas serem reveladas pelo Verbo encarnado. Aqui percebemos que o homem começa separar-se da Physis (Φύσις) e se começa criar um individualismo perante a natureza, gerando o alicerce que vai sustentá-lo como o ser supremo que a natureza concebeu, a ponto do mesmo criar deus à sua imagem. Para ele, o cristianismo unido à filosofia (fé mais razão) foi o elemento crucial que faltava para que ele pudesse encontrar verdades que antes eram impossíveis de conhecê-las.
Justino mostrou-se convencido de que a filosofia grega tinha a finalidade de ser útil para com a ideologia cristã, pois cristãos poderiam usá-las com confiança, principalmente a filosofia platônica que foi o sustentáculo para criar as bases de fortalecimento para o cristianismo difundir-se e servi-la como modelo para outros intelectuais, cito o Agostinho de Hipona (354-430), que quase trezentos anos depois de Justino, seguiu os passos do pensamento deste e “cristianizou” a filosofia Platônica inserindo-a na ideologia cristã. Outro pensador que foi pela mesma trajetória, mas foi por uma outra corrente filosófica da Grécia Antiga, foi Tomás de Aquino (1225-1274), inseriu na filosofia aristotélica a ideologia cristã.
Justino também começou fazer duras críticas, na primeira apologia, a religião pagã, afirmando ser esta uma religião baseada em mitos, falsos deuses e diabólica, criando assim o processo “embrionário” da queda do paganismo e a ascensão do cristianismo, e mais uma vez, servindo como base para o pensamento de Agostinho que veio escrever a obra: A Cidade de Deus contra os pagãos, demonstrando vários argumentos e críticas a religião pagã e afirmando ser o cristianismo a única religião verdadeira.
A paixão de Justino pelo cristianismo foi tão forte, que foi esta mesma ideologia a causa da sua morte, pois no ano de 165 por não querer negar a Cristo foi decapitado e, em seguida, foi alcunhado como mártir.
Percebemos que a convicção de Justino em adotar a ideologia Cristã como a única verdade foi à fagulha para alavancá-la e deixá-la como o principal pensamento intelectual nas universidades medievais naquela época, fazendo com que essa corrente ficasse no auge por quase 15 séculos.
Obras consultadas:
AN STEENBERGHEN, Fernand. História da Filosofia: Período Cristão. Trad. J. M. Da Cruz Pontes. Lisboa, Gradiva, 19??
McGRADE, A.S. Filosofia Medieval. Tradução: André Oídes. São Paulo, Ed. Ideias e Letras 2º ed., 2008.
SPINELLI, Miguel. Helenização e Recriação de Sentidos. A Filosofia na época da expansão do Cristianismo – Séculos II, III e IV. Caxias do Sul, Ed. EDUCS - 2º ed, 2015.