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Pansophia

Pansophia

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

IN MEMORIAM

Janeiro

Derek Parfit

(1942-2017)


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No dia primeiro de Janeiro  faleceu o filósofo chinês Derek Partif. Derek nasceu na China, filho de pais ingleses que logo após o nascimento do filho voltaram para a Inglaterra. Nos anos 60 formou-se na Universidade de Oxford. Destacou-se no campo da filosofia moral normativa. Um dos seus livros, feito em quatro partes, Razões e Pessoas de 1984, foi um trabalho muito influente. Derek ficou conhecido como sendo um professor generoso. Foi um critico da corrente utilitarista  e grande contestador do pensamento cartesiano, principalmente da segunda Meditação : Penso, logo existo.Em 2014 a Parfit ganhou o Prêmio Rolf Schock em Filosofia.

 

Algumas obras:

·         Reasons and Persons– 1984;

·         On What Matters -2011;

·         On What Matters: Volume Two -2011;

·         On What Matters: Volume Three – 2016.





Zygmunt Bauman

(1925-2017)

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No dia 09 de janeiro veio a falecer o filósofo e sociólogo polonês Zygmunt Bauman.Nasceu de uma família de judeus poloneses que durante a invasão da Polônia  em 1939, refugiaram-se para a União Soviética. Durante a Segunda Guerra Mundial serviu o Primeiro Exército Polonês e a sua função era de instrutor politico. Participou de batalhas como a de kolberg e de Berlim. Na década de 40 e 50 fez parte do Partido Comunista da Polônia Em 1954, após o término de seu mestrado, Bauman tornou-se professor assistente na Universidade de Varsóvia onde ficou até o ano de 1968. Ao longo de 15 anos Bauman foi perseguido pelo serviço secreto polonês e chegou a ser expulso da universidade e de publicar seus livros. No final da década de 60 tornou-se um grande crítico do Partido Comunista. Trabalhou como professor de sociologia nos EUA e Canadá e em 1971 transferiu-se para a Inglaterra tendo o cargo de professor emérito na Universidade de Leeds onde ficou por mais de 30 anos. Nos últimos anos Bauman era defensor do Socialismo e afirmava: “O socialismo é necessário ao mundo”. O seu pensamento baseia-se numa sociologia crítica abordando temas como o holocausto, socialismo, hermenêutica, modernidade e pós-modernidade, consumismo e globalização. Bauman recebeu os prêmios Amalfi em 1989,  por sua obra Modernidade e Holocausto e Adorno no ano de1998 pelo conjunto de sua obra. Foi apelidado como “pensador pop”. Bauman tem uma vasta obra, algumas delas abaixo:

·          A liberdade -1988;

·          Modernidade e Holocausto -1989;

·         Modernidade e Ambivalência -1991;

·         Ética pós-moderna - 1993;

·         O Mal-Estar da Pós-Modernidade – 1997;

·         Globalização: As Conseqüências Humanas-1998;

·         Modernidade Líquida - 2000;

·         Comunidade: A Busca por Segurança no Mundo Atual - 2001;

·         A sociedade individualizada - 2001;

·         Amor Líquido: Sobre a Fragilidade dos Laços Humanos - 2003;

·         Vidas Desperdiçadas - 2004;

·         Europa: Uma Aventura Inacabada - 2004;

·         Vida Líquida - 2005;

·         Medo líquido - 2006;

·         Tempos líquidos -2006;

·         Vida para consumo - 2008;

·         A arte da vida – 2008;

·         Confiança e medo na cidade-2009;

·          Capitalismo Parasitário e Outros Temas Contemporâneos - 2010;

·          Legisladores e intérpretes – 2010;

·         Vida a crédito- 2010;

·         Vida em fragmentos - 2011;

·          44 cartas do mundo líquido moderno - 2011;

·          A ética é possível num mundo de consumidores - 2011;

·         Ensaios sobre o conceito de cultura - 2012;

·          Desafios do mundo moderno - 2015;

·          Babel - 2016.


      Em 2017 Bauman presenteou-nos com mais duas obras:

·         Estranhos à nossa porta-2017;

·          O retorno do pêndulo-2017.


Fevereiro

Tzvetan Todorov

(1939-2017)

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No dia 7 de fevereiro faleceu o filósofo búlgaro Tzvetan Todorov. Erradicou-se na França. Frequentou os cursos de filosofia da linguagem ministrados por Roland Barthes (1915-1980) um dos grandes teóricos do estruturalismo. Todorov foi professor da Universidade de Yale e  diretor do Centro Nacional de Pesquisa Científica de Paris. Nos últimos anos de sua vida  dirigiu o Centro de Pesquisa sobre as Artes e a Linguagem.

 

Algumas obras:

 

·         Teorias do Símbolo – 1977;

·         Simbolismo e Interpretação -  1980;.

·         A Gramática do Decameron – 1982;

·         A Vida Em Comum: Ensaio de Antropologia Geral. – 1996;

·         O Homem Desenraizado- 1999;

·         O Medo dos Bárbaros: para além do choque das civilizações – 2010;

·         Os Inimigos Íntimos da Democracia – 2012.

 


Tom Regan

(1938-2017)



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Faleceu no dia 17 de fevereiro o filósofo e ativista dos direitos dos animais norte-americano Tom Regan. Regan destacou-se como um dos maiores expoentes na reflexão contra o especismo. Apesar de Regan ter sido açougueiro, defensor da caça e considerava os animais como objetos. Foi a leitura que fez de Gandhi que mudou sua visão. Primeiramente Regan e sua esposa Nancy fizeram oposição a guerra do Vietnã. Ele foi um defensor dos direitos humanos, pois os seus trabalhos de filosofia eram direcionados aos direitos humanos. Com isso Regan começou a afirmar que os não humanos fazem parte de nossa comunidade moral. Foi o percursor da teoria dos Direitos dos Animais. O seu livro Jaulas Vazias mostra-nos um tratado filosófico sobre as atrocidades que são acometidas com os animais, sendo que os mesmos tem direito à vida, à satisfação, à integridade física entre outros argumentos, onde o leitor reflete sobre uma questão que passa desapercebida. Fez mestrado e doutorado na Universidade de Virgínia e foi professor emérito de filosofia da Universidade da Carolina do Norte onde lecionou desde 1967 até a se aposentar no ano de 2001. Um de seus livros mais importantes é The Case for Animal Rights é considerado o mais completo tratado filosófico sobre os direitos dos animais. Com certeza Regan fará muita falta na questão dos direitos dos animais, mas felizmente a herança que nos deixou do seu pensamento filosófico está ganhando muitos adeptos que continuarão sendo os porta-vozes dos animais.

Algumas obras:

· The Case for Animal Rights – 1983;

· Animal Sacrifices – 1986;

· The Animal Rights Debate – 2001;

· Jaulas Vazias - 2006;



Abril

Giovanni Sartori

(1924-2017)


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Faleceu no dia 4 de abril o sociólogo, filósofo e cientista político Giovanni Sartori. No ano de 1946 lecionou Ciências Sociais na Universidade de Florença, foi docente de Filosofia Moderna, Lógica e Doutrina de Estado e com isso impulsionou a criação da primeira faculdade de Ciências Políticas na Itália, a Cesare Alfieri. No ano de  1971 fundou a Revista Italiana di Scienza Politica. Uma de suas principais obras é a Teoria da Democracia.

Algumas obras em destaque:

· Democrazia e Definizioni -1957;

· Stato e Politica nel Pensiero di Benedetto Croce – 1966;

· Antologia di Scienza Politica -(1970;

· La Politica: Logica e Metodo in Scienze Sociali – 1979;

· The Theory of Democracy Revisited – 1987;

· La Comparazione nelle Scienze Sociali – 1991;

· La Democracia después del Comunismo – 1993;

· Studi Crociani (vol. I, Croce Filosofo Pratica e la Crisi dell'Etica; vol. II; Croce Etico-Politico e Filosofo della Libertà – 1997;

· La sociedad multiétnica. Pluralismo, multiculturalismo y extranjeros – 2000.


Hubert Dreyfus

(1929-2017)



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Faleceu no dia 22 de abril o filósofo norte-americano Hubert Dreyfus. Estudou na Universidade de Harvard. Especializou-se nos campos da fenomenologia, existencialismo, filosofia da psicologia e da literatura e questões filosóficas sobre inteligência artificial. Ganhou notoriedade como um dos melhores intérpretes dos filósofos Merleau-Ponty (1908-1961), Michel Foucault (1926-1984) e principalmente Martin Heidegger (1889-1976). Lecionou na Universidade Brandeise e na Universidade de Frankfurt.

 

Algumas obras:

·         . "Alchemy and Artificial Intelligence"- 1965;

·         . What Computers Can't Do: The Limits of Artificial Intelligence – 1972;

·         Michel Foucault: Beyond Structuralism and Hermeneutics. – 1983;

·         Mind Over Machine: The Power of Human Intuition and Expertise in the Era of the Computer- 1986;

·          Heidegger, Authenticity, and Modernity: Essays in Honor of Hubert Dreyfus, Volume . – 2000; 


Robert M. Pirsig

(1928-2017)

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Faleceu no dia 24 de Abril o filósofo e escritor norte-americano Robert M. Pirsig. Fez filosofia na Universidade de Chicago. Escreveu o livro Zen e a Arte da Manutenção de Motocicletas que foi publicado no ano de 1974 após ter sido rejeitado por mais de 100 editores. O livro tornou-se logo um best-seller, vendendo um milhão de cópias nesse mesmo ano e mais vários milhões desde então. Mais uma obre de Pirsig foi: Lila: An Inquiry into Morals.

Maio

Karl-Otto Apel

(1922-2017)


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Faleceu no dia 15 de maio o filósofo alemão karl-Otto Apel.Licenciado em Bonn e doutor em filosofia em  Mogúncia. Também foi professor em Kiel , Saarbrücken e na Johann Wolfgang Goethe-Universität. Destacou-se como um dos principais teóricos da Escola de Frankfurt. Foi um crítico do cientificismo positivista. Especializou-se na Filosofia Analítica, Pragmatismo e da Teoria Crítica.

Algumas obras:

·         Dissolução da ética do Discurso? In: Com Habermas, contra Habermas: direito, discurso e democracia - 2004;

·         Transformação da Filosofia:

Vol.1: Filosofia analítica, semiótica, hermenêutica – 2005;

      Vol. 2: O a priori da Comunidade de Comunicação - 2000;

·         Ética e Responsabilidade: o problema da passagem para a moral pós-convencional – 2013.

 

Julho

Werner Hamacher

(1948-2017)

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Faleceu no dia 7 de Julho o filósofo e crítico literário alemão Werner Hamacher. Estudou filosofia na universidade Livre de Berlim e na École Normale Supérieure, nessa universidade ele teve contato com o filósofo Jacques Derrida(1930-2004) e foi influenciado pelo mesmo no movimento filosófico de Desconstrução. Werner foi professor de língua alemã e Ciências humanas na Universidade John Hopkins.

 

Algumas obras:

·         Premises: Essays on Philosophy and Literature from Kant to Celan – 1996;

·         Pleroma: -Reading in Hegel – 1997;

·         Für die Philologie – 2009;

·         Lingua Amissa – 2012;

 

Outubro

István Mészáros

(1930-2017)

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Faleceu no dia 1 de outubro o filósofo húngaro István Mészáros. Foi professor emérito da Universidade de Sussex, Inglaterra onde lecionou filosofia por quinze anos. Foi por quatro anos professor de Filosofia e Ciências Sociais na Universidade de York. É considerado como um dos mais importantes intelectuais marxistas da contemporaneidade. Escreveu várias obras e ganhou prêmios como o Attila József em 1951 e Isaac Deutscher em 1970.

Algumas Obras:

·         Marx: a teoria da alienação. Zahar, 1979, e Teoria da alienação em Marx. - 2006;

·         Aspects of History and Class Consciousness - 1971;

·         A necessidade do controle social - 1996;

·         Filosofia, ideologia e ciência social - 1996;

·         Produção Destrutiva e Estado Capitalista. Ensaio - 1996;

·         Para além do capital -  2003;

·         A Educação para além do Capital - 2005;

·         O Século XXI - Socialismo ou barbárie? -2004;

·          A crise estrutural do capital - 2009;

·          Atualidade histórica da ofensiva socialista: Uma alternativa radical ao sistema parlamentar - 2010;

·          Estrutura Social e Formas de Consciência VOl. 2.- 2011 ;

·         O conceito de dialética em Lukács -  2013;

·         A montanha que devemos escalar -  2014.

 

Esses pensadores desapareceram do cenário atual, justamente no momento em que o mundo passa por transformações que leva-nos crer que estamos retrocedendo em muitos aspectos. Estão acontecendo situações atípicas, pois observamos o aumento da corrupção, da violência a cada minuto, preconceitos chegando ao extremo, miséria, as ameaças de guerras entre outros fatores pessimistas. A degradação da sociedade humana parece que está atingindo o seu ápice. Infelizmente, a cada ano que passa o mundo vem perdendo grandes intelectuais como estes citados aqui. Filósofos e acima de tudo seres humanos que entraram para a história e contribuíram, nem digo com a humanidade, mas com o planeta. A herança deles é um presente para com a humanidade, e seus escritos e certamente ultrapassarão as barreiras do tempo.

 


domingo, 26 de março de 2017

A supremacia do homem – Fílon de Alexandria.

 

por Osvaldo Duarte

 

 “(...) não há criatura terrestre mais semelhante a Deus que o homem”.

 

 

criaçao do homem

 

O Homem é a criatura mais querida por Deus, pois sob seu comando submeter-se-á toda criatura vivente sobre a face da terra.

De Opificio Mundi é uma obra eminentemente pitagórica-platônica com uma pitada de epicurismo, onde Fílon atribui a Moisés todo este conhecimento que alcançou, segundo ele, o ponto mais alto da filosofia. A bem da verdade trata-se de uma leitura do livro Gênesis sob a luz da Filosofia.

Mas o que nos interessa aqui, ao menos no momento, é a leitura da criação do homem que Fílon faz do primeiro livro da Bíblia.

Deus fez primeiro o céu, o mais perfeito dos incorruptíveis, e por último, o homem, o mais nobre dos corruptíveis nascidos da terra.

Na ordem natural, os peixes foram os primeiros a serem criados, depois destes as aves e os animais terrestres e, por fim, o homem. Os primeiros da criação são os mais vis, e os últimos, isto é, os homens, são os mais excelentes, sendo que entre estes extremos, estão os que são melhores que os primeiros e piores que os últimos.

Entre os entes, uns não participam nem da virtude e nem dos vícios, no caso, as plantas e os animais irracionais que, sendo desprovidos de alma, sua natureza é regida pela imaginação, outros, por sua vez, participam apenas da virtude como é o caso dos astros, pois estes são dotados apenas do intelecto. O homem possui natureza mista, que admite contrários, a saber, prudência e imprudência, temperança e incontinência, coragem e cobardia, justiça e injustiça, numa palavra, virtudes e vícios.

O homem foi gerado à imagem e semelhança de Deus, mas não se trata de semelhança das características do corpo humano, pois nem Deus tem a figura humana e muito menos o corpo tem a forma divina, esta similitude refere-se ao intelecto (noûs), o guia da alma.  Criado e enquanto ideia, o homem é incorruptível, incorpóreo não sendo nem masculino ou feminino por natureza.

Sendo a última das criações do mundo, como dissemos, ao que tudo indica, ainda segundo Fílon, é que Deus primeiramente criou o homem como ideia, e antes mesmo da sua existência aqui na terra, dada àquela similitude, isto é, a capacidade racional, o mais excelente dos dons, não lhe recusou outros dons, preparando o mundo com todas as coisas necessárias a sua sobrevivência de forma a viver bem, pela contemplação dos fenômenos celestes e da filosofia, pela qual o homem mortal torna-se imortalizado.

Ademais, sendo o último dos entes criados, como foi dito, ao aparecer de súbito no último instante diante dos animais, esses o respeitariam como chefe e senhor.  Animais de todas as espécies tornar-se-iam mais dóceis para com os homens. O homem foi criado para ser soberano por natureza, para ser rei de todas as criaturas terrestres, aquáticas e aéreas. Todos os mortais constituídos dos três elementos, isto é, terra, água e ar, lhe estão subordinados.

O homem sensível foi criado por Deus do pó da terra, tendo recebido em sua face o sopro da vida. Tendo o homem sido constituído de substância terrosa e sopro divino (pneuma), é composto de corpo e alma, sendo o corpo mortal por natureza e a alma imortal.

Por ser composto dos quatro elementos, o homem é tudo, terrestre, quando habita e caminha pela terra, aquático quando mergulha, nada e navega, e ainda aéreo, pois pode ser erguido e alçado sobre a terra e ainda, celeste, através da visão quando se aproxima do sol, da lua e cada um dos astros, móveis ou fixos.

Como é próprio do chefe nomear a cada uma das coisas que lhe são subordinadas, o primeiro homem, rei, atribuiu nomes a todas as criaturas viventes e quando Deus, desejoso de saber os nomes dos animais, os guiou para junto de Adão; assim, os entes receberam nomes próprios e adequados, deixando claras as peculiaridades de cada um. Tendo o primeiro homem mostrado a sua excelente capacidade de comandar, Deus o considerou apto a ocupar o segundo lugar como chefe dos demais viventes.

 

adão e eva

 

A primeira desventura desse primeiro homem foi a mulher. Ao ver com gozo uma figura irmã, Adão aproximou-se dela e a abraçou. A mulher, por sua vez, não vendo outro animal semelhante a ela, alegrou-se e saudou-o com pudor; assim surge Eros, o amor, como se reunindo duas partes de um só animal, inspirando a cada um o desejo de comunhão com o outro. Mas este desejo trouxe consigo o prazer, responsável pelas injustiças e transgressões e razão pela qual se troca a vida imortal e feliz por uma mortal e miserável. A mulher com seu juízo volúvel e instável, após comer o fruto deu-o de comer ao homem, e ambos passaram da sinceridade e ausência de maldade para a malícia, atraindo sobre si mesmos a cólera divina.

A relação entre macho e fêmea passou a ser de prazer e, graças a ele, foi possível a geração futura. Como paga, a mulher passou a sofrer as dores do parto e a perda da liberdade e o domínio do homem com quem vive, cujas ordens é obrigada a obedecer. O homem, por sua vez, recebeu trabalhos, fadigas e suor da labuta. O prazer não ousa direcionar seus encantamentos e engodos ao homem, mas à mulher, que, por meio dela, o atinge. Em nós o intelecto representa o homem, e a sensação representa a mulher.

Leituras:

FÍLON DE ALEXANDRIA, Da Criação do Mundo e Outros Escritos. Trad. L. M. Dutra. São Paulo: Filocalia, 2015.

terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Corpo e Alma – Uma visão Estóica.

por Osvaldo Duarte

 

 

ALMA2

 

Sobre o Corpo:

“(...) este nosso corpo é para o espírito uma carga e um tormento”.

A noção de corpo como prisão da alma, já a encontramos entre os Órficos que, de certa forma, o estoicismo também se apropria, como veremos nas obras de Sêneca, dentre outras obras, fragmentos do Pórtico.

“(...) o espírito, encerrado nesta morada obscura e triste, procura sempre que pode, o ar livre e repousa através da contemplação da natureza.”

O corpo é para a alma uma prisão, um pesado fardo e um tormento. Ainda que o corpo esteja sujeito aos infortúnios da vida, deve servir de barreira para que os golpes da fortuna não cheguem à alma. Não devemos praticar os vícios em atenção a este corpo frágil e, muito menos, não nos deixemos levar pelas paixões (pathemata) que são de quatro gêneros a saber, a dor, o medo, a concupiscência e o prazer.

“(...) é possível que, até certo ponto, a nossa própria providência consiga prolongar um pouco a duração deste miserável corpo, desde que consigamos dominar e reprimir as paixões que consomem a sua maior parte.”

Segundo ainda a escola do Pórtico, como a maior parte dos homens tem como males: a pobreza, o sofrimento e a morte e, os discípulos deveriam praticar o exercício de meditação (Praemeditatio Malorum), fazendo com que o corpo habituasse às intempéries, à fome e à sede, tornando assim a alma temperante. O exercício consistia em habituar o corpo às adversidades da vida representando de antemão tudo que o afligia como a pobreza, o sofrimento, a morte, enfim todos os males. O exercício tinha por objetivo ajudar na aceitação das contingências da vida, agindo de acordo com a reta razão, considerando o que depende e o que não depende do homem e, mais do que isso, um viver conforme a Natureza. A razão é o supremo juiz do bem e do mal, uma parcela do espírito divino inserida no corpo do homem.

“As coisas que estão em nossa mão, de sua natureza são livres e senhoras, sem impedimento, nem embaraço. E as que não estão em nossa mão de si são fracas servis, embaraçadas e sujeitas.”

Sobre a Alma:

“a alma deve estar desperta, confiante, acima das contingências.”

Embora possivelmente seja anterior, encontramos em Anaxímenes o conceito de Alma como sopro (pneuma). A Stoa, por sua vez, também seguiu nesta mesma esteira. Zenão de Chipre, na sua obra infelizmente perdida - “Da alma”, a define como sopro quente, que nos permite respirar e mover-nos. Para o estoicismo, a Alma do homem é fogo, porção do Sopro Ígneo Universal, partícula viva, uma centelha divina.

Segundo ainda a Stoa, a Alma possui oito partes: os cinco sentidos, a faculdade da palavra, a faculdade mental, que é o pensamento em si mesmo, e a faculdade geradora. Os estados da Alma virtuosa são, a saber, liberdade, tranquilidade, simplicidade, liberalidade, firmeza, equanimidade e tolerância.

Tudo no mundo consta de matéria e espírito divino. A divindade que é o agente que tudo regula, tem sob sua sujeição a matéria. Assim como o universo, o corpo é matéria e, como tal, inferior à Alma; que sirva o inferior ao superior. Devemos ser fortes diante do acaso e não nos dobrarmos diante das injúrias, das feridas e da miséria. Alma virtuosa é a que não sucumbe à dor, ao sofrimento ou a qualquer espécie de transtorno. A virtude proporciona à Alma a retidão e constâncias de propósitos.

Ainda que aprisionada ao corpo, a alma pode através da filosofia libertar-se e alçar voos ocasionalmente e refazer-se as forças no firmamento e na contemplação da natureza.

“A alma deseja libertar-se e regressar aos elementos que já fez parte.”

A principal atitude do filósofo estóico era a prosochè, a atenção a si mesmo, a vigilância sobre suas ações a cada instante. O homem enquanto consciente, desperto, pratica o bem e conhece o seu lugar nos kosmós e a sua relação com o Universo.

Para a alma, “pátria” são todos os espaços abarcados pelo universo, é toda esta esfera dentro da qual o ar separa e une ao mesmo tempo o divino e o humano, e na qual inúmeras forças divinas em perfeita ordenação, cumprem atentamente as respectivas funções. (...) Século nenhum permanece fechado aos espíritos superiores, tempo nenhum se mostra inacessível ao pensamento.”

Leituras:

DUMONT, Jean-Paul. Elementos de História da Filosofia Antiga. Trad. Georgete M. Rodrigues. Brasília, Ed. UnB, 2004

EPITÉTO, Manual de Epíteto. Trad. Frei Antonio de Souza. São Paulo: Edições Cultura, 1944

FOUCAULT, Michel. A hermenêutica do Sujeito. Trad. Márcio A. F. e Selma T.M. São Paulo: Martins Fontes, 2014.

GOMPERZ, Theodor. História da Filosofia Antiga, Tomo I. Trad. Joé I. C. M. Neto. São Paulo, Ícone Editora, 2011.

HADOT, P. Exercícios Espirituais e Filosofia Antiga. Trad. Flavio F. L e Loraine O. São Paulo: É realizações, 2014.

PEREIRA, M. H. Rocha, Estudos de História da Cultura Clássica, vol. I. Lisboa: Fund. C. Gulbenkian, 1980.

SÊNECA, L. A., Cartas a Lucílio. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2009.

domingo, 25 de setembro de 2016

Agosto, mês de grandes perdas na filosofia

In Memoriam

Gustavo Bueno Martínez (1924-2016)

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No dia 7 de agosto faleceu o filósofo espanhol Gustavo Bueno Martínez. Ficou mais conhecido por ser autor do sistema filosófico denominado: Materialismo Filosófico. Esse sistema tem como ponto central excluir qualquer possibilidade de vida espiritual sem referência à vida orgânica. Ele era ateu e foi um crítico fervoroso da ideia filosófica de Deus. Em 1960 estabelece-se nas Astúrias, onde exerce como catedrático na Universidade de Oviedo, onde colaborou até o ano de 1998. Gustavo Bueno faleceu dois dias após a morte de sua esposa.
Algumas obras:
O papel da filosofia no conjunto do Conhecimento - (1971)
Ensaios materialistas - (1972)
Ensaio sobre Categorias economia política - (1973)
Pré-socráticos Metafísica - (1975)
A ideia de ciência da teoria da Fechar Categorial - (1977)
Etnologia e Utopia - (1982)
Divina animal - (1985)
Primeiro Ensaio sobre Categorias Ciência política - (1991)
O que é a filosofia? - (1995)
O que é ciência? - (1995)
O mito da esquerda: à esquerda e à direita - (2003) Obs.: Essa obra causou-lhe constrangimentos, pois após a publicação grupos separatistas da Espanha acusaram-no de facista.
O retorno à caverna: o terrorismo, a guerra e a globalização - (2004)
ateu Fé - (2007)
O Mito do direito - 2008

Ivo Urbančič (1930-2016)
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Também no dia 7 de agosto faleceu o filósofo esloveno Ivo Urbančič . Foi considerado o pai da escola fenomenológica desse país. Em 1960 entrou para a Universidade de Ljubljana onde estudou filosofia . Em 1970, ele obteve seu doutorado na Universidade de Zagreb . No ano de 1964, ele se tornou um pesquisador do Instituto de Sociologia e Filosofia na Universidade de Ljubljana . No final de 1980, ele trabalhou como editor na editora Slovenska matica , onde supervisionou a tradução e a primeira edição de muitos dos principais pensadores ocidentais em língua eslovena . Ele foi importante, também, na publicação das obras completas de Nietzsche . . Ele foi um dos co-fundadores da União Democrática esloveno , um dos primeiros partidos políticos democráticos que se opõem ao regime comunista na Eslovénia.
Algumas obras:

· vropski nihilizem ( "O niilismo europeu" Ljubljana de 1971.);

· Leninova "filozofija" ( "de Lênin" Filosofia "" Maribor, 1971.);

· Naroda Uvod v Vprašanje ( "Introdução sobre a Questão de Nation" Maribor, 1.981.);

· Zaratustrovo izročilo I & II ( "do Zarathursta legado I & II" Ljubljana de 1993 e de 1996.);

· Moc em Oblast ( "Poder e Autoridade" Ljubljana de 2000.);

· Nevarnost biti ( "o perigo de ser" Ljubljana de 2003.);

· Zgodovina nihilizma ( "A História do niilismo". Ljubljana, 2011).


Gilles-Gaston Granger (1920-2016)
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Morreu no dia 24 de agosto o filósofo francês Gilles-Gaston Granger. Ele foi um dos professores franceses que ajudaram consolidar o departamento de filosofia da USP. É considerado como um dos maiores nomes da epistemologia. De 1947 a 1953 foi professor da USP, graças ao programa de cooperação internacional, que nessa época o Brasil tinha como uma das principais atividades a consolidação da faculdade de Filosofia da USP. Em 1953 retorna a França conseguindo o emprego de pesquisador. De 1955 a 1962 foi professor da Universidade de Rennes, Já em 1964 foi professor da Universidade de Provence onde ficou até se aposentar no ano de 1986. Nesse mesmo ano ele fez viagem ao Brasil onde teve contato com as lógicas não-clássicas. Em 1990 torna-se professor emérito do no Collège de France. Em 2000 foi professor convidado no Conservatório Nacional de Artes e Ofícios fundado em 1794 durante a Revolução Francesa.
Algumas obras:
· éthodologie économique (PUF, 1955)

· La raison (1955)

· La mathématique sociale du marquês de Condorcet (PUF, 1956)

· Pensée formelle et ciência de l'homme (Aubier, 1960)

· O pensamento formal e as Ciências do Homem, tradução de Alexander Rosenberg , (Estudos de Boston em Filosofia da Ciência)

· La théorie de la aristotélicienne ciência (Aubier, 1976)

· Langage et épistémologie (Klincksieck, 1979)

· Despeje philosophique connaissance la (Odile Jacob, 1988)

· Convite à la lecture de Wittgenstein (Alinéa, 1990)

· La verificação (Odile Jacob, 1992)

· L'irrationnel (Odile Jacob, 1998)

· La pensée de l'espace (Odile Jacob, 1999)

Fonte:

Jornalfloripa;

Folha UOL;

Wikipedia.