O Logos Heraclítico é título da obra do Frei Damião Berge (1895-1976), onde o autor “esbanja” não só seu conhecimento da língua helênica, como também, demonstra ser um grande pesquisador.
Ao depararmos com a sua tradução dos fragmentos heraclitianos, percebemos seu rigor e a sua erudição.
Longe de nós discorrermos aqui sobre esta excelente obra; afastada tal pretensão, nossa intenção é tão-somente mostrar ainda que superficialmente, alguns parcos excertos concernentes ao Logos.
PHYSIS
Damião nos ensina que a Physis nome verbal referente à phýestai, “ser gerado, nascer, crescer dentro de”, também, “crescimento espontâneo, de própria força”, o que chamamos de natureza; prossegue o autor, ”... O pensamento jônico começou a dar explicação racional. Os seres “procedem”, não do nada, mas “de dentro de si mesmos”, isto é, através de causas naturais, regidas por leis imanentes. Este processo espontâneo, pelo qual algo “vem a ser”, “nasce ou cresce”, phýestai, este processo é a physis.
EPOS
Epos, segundo Frei, significa linguagem inexpressiva do homem, pois, na literatura pré-heraclitiana, é mais usual do que o logos, tanto na linguagem divina quanto na humana. Epos raramente se atribui a quem o profere (“eu digo”, “meu epos”), isto com base ainda nos estudos daquela literatura , o que indica ser epos insuficiente para exprimir a natureza personal do homem.
LOGOS
Logos é um nome verbal que corresponde a légein que significa “selecionar”, “coligir”, “atender a”, “considerar”, finalmente a “enunciar, falar”, sendo traduzido por fala, palavra, discurso.
Logos é o que torna visível o invisível, isto é, revelar. Portanto, Logos é o discurso que revela a physis.
Berge ainda nos dá outras definições: Logos é o princípio inteligente e vital de tudo e de todos. O Logos nos permite estabelecer três fatos: 1- Que o linguajar do vulgo é o epos, superficial e inexpressivo. 2 - Que seu ergon (agir) prova a ausência de uma ética. 3 – Que o vulgo é a corporificação da mediocridade.
AS VÁRIAS FORMAS DO LOGOS
Segundo Frei Damião, o Logos apresenta-se sob várias formas.
Logos intelectual, que seria a doutrina heraclítica através de aforismos, verdades abstratas, verificadas a partir da observação empírica o que visaria a compreensão da physis, seria o Logos designado pelo pensamento e revelação, o primeiro, como Logos-razão humana, observar, analisar, interpretar e apreender; já o segundo, Logos-sentido, é a verdade ontológica (ser da physis), em si, inteligível.
Outra apresentação do Logos, de acordo com Berge, é a vital-dinâmica. Logos é a potência vital que faz proceder, dirigir tudo (cosmos, política e indivíduo).
Portanto, conclui o autor, Logos é a palavra, o discurso que torna visível a
Physis invisível. Todas as representações são as de um mesmo Logos, padrão comum e universal.
Talvez, apenas uma mera possibilidade, de que o Logos se manifeste nas várias Artes: Filosofia, Matemática, Física, Música, etc.. Lembremo-nos de Platão, quando exigia dos seus discípulos o conhecimento da geometria –“Só entra aqui quem for geômetra”.
BERGE, Damião. O Logos Heraclítico. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1969.