por Osvaldo Duarte
Luciano nasceu no ano 125 em Samósata, cidade ao norte da Síria, morrendo por volta do ano 191. De família não abastada, seu primeiro ofício foi de aprendiz de escultor na oficina de seu tio, sendo que após um desentendimento, abandona o ofício e vai estudar.
Aos 25 anos de idade, passa a exercer a advocacia em Antioquia, viajando e proferindo palestras na Ásia Menor, Grécia, Macedônia, Itália, entre outros lugares.
Na obra que ora apresentamos fragmentos: Hermotimo ou as Escolas Filosóficas, Luciano assume a postura cética, insurgindo-se contra o dogmatismo, atacando com certa ironia o estoicismo como também, a própria filosofia.
Neste diálogo, Licino convence o estoico Hermotimo a aceitar o ceticismo, mas sem antes provocar-lhe um sentimento de náuseas:
“Oxalá eu pudesse vomitar essas tretas que lhes ouvi!”
Hermotimo – “também ouvia toda a gente dizer que os epicuristas eram sensuais e voluptuosos, que os peripatéticos eram ávidos de riquezas e quezilentos, que os platônicos eram orgulhosos e vaidosos, ao passo que, a respeito dos estoicos, a maioria das pessoas afirmava que eram corajosos, que sabiam tudo, e que só o homem que seguisse por tal caminho seria rei, só era rico, só esse era sábio e reunia em si todas as virtudes”.
Licino – “Já alguma vez encontraste um estoico, ou um epicurista (...), que não divergisse no que toca aos princípios ou aos fins?”
“... estando nós a investigar quais é que falam a verdade em matéria de filosofia, tu antecipaste-te e atribuíste esse [privilégio] aos estoicos, dizendo que foram eles quem determinou que duas vezes dois são quatro - (...). De facto, os epicuristas ou os platônicos diriam que eles é que chegaram a esse resultado ...”
“Quero dizer-te que não é coisa minha, mas de um dos sábios; trata-se do “sê prudente e céptico”. Realmente, se não acreditarmos facilmente no que formos ouvindo, mas antes nos comportarmos como os juízes, isto é, dando também a palavra aos que vierem a seguir, talvez consigamos escapar dos [vários labirintos]”.
“Portanto, também tu (...) farias bem melhor em decidir-se viver, daqui para o futuro, uma vida como a de toda a gente: serás um cidadão como os demais, não porás esperanças em coisas bizarras e estúpidas, nem (se fores sensato) te envergonharás pelo facto de, já velho, mudares de opinião e te passares para a coisa melhor.”
“(...) todos os filósofos propuseram saber em que consiste a felicidade, e cada um diz sua coisa: um afirma que consiste no prazer, outro na beleza, outro noutra coisa qualquer.”
Licino, com vários argumentos que apontam para a mesma direção, faz com que Hermotimo seja convertido ao ceticismo. Assim, o recém -convertido, termina o diálogo:
“... ao caminhar na rua, topar com um filósofo, desviar-me-ei, evitá-lo-ei como um cão danado.”
Hermotimo significa “honrado por Hermes”
Créditos
LUCIANO, Hermotimo ou as Escolas Filosóficas.Trad.Custódio Magueijo. Lisboa, Editorial Inquérito, 1986.