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Pansophia

Pansophia

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Da Arché ou do Elemento Primordial

por Osvaldo Duarte

 

Apresentamos de relance alguns fragmentos dos primeiros filósofos jônios que trataram da Arché (começo, ponto de partida) e também os fragmentos de Heráclito. Omitimos os dados biográficos porque pretendemos tão-somente mostrar alguns preciosos fragmentos sobre o tema. Optamos, por uma questão de praticidade, a tradução dos fragmentos de Eudoro de Sousa.

 

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Segundo a tradição, a Filosofia “começa” com a Escola Jônica, embora o termo “escola” enquanto moderno, para alguns estudiosos não parece ser adequado, no entanto, estão de acordo quanto ao berço da Filosofia: a Jônia, nas costas da Ásia Menor, a primeira região de civilização helênica.

 

Os primeiros filósofos: Tales, Anaximandro e Anaxímenes, tinham como objeto de estudo a physis (Natureza), por este motivo serem conhecidos também como fisiólogos (os que estudam a natureza).

 

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O primeiro filósofo e fisiólogo, Tales de Mileto (ca. 624-546), foi considerado por Aristóteles como “o príncipe da Filosofia”; como filósofo procurava o saber desinteressado e, considerava como substrato original, isto é, como princípio de tudo, a água.

 

Tales, (...), afirma que o princípio é a água (assim, declarava ele que a Terra flutua na água) crença a que ele teria sido levado pela observação de que tudo se nutre do <elemento> úmido e que o próprio calor dele provém e nele vive (...).

 

Tales de Mileto, filho de Examias, e Hípon (que, parece, era ateu) induzidos pelas aparências sensíveis, asseveravam que a água é o princípio.

 

 

 

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Anaximandro (ca.610-545), que nos legou o primeiro escrito filosófico do ocidente – Sobre a Natureza, admitia um princípio universal, entretanto, se opondo a Tales, considerava como arché o ápeiron (não limitado, indefinido) que é um todo e nunca muda e são também infinitos em número, imortal e imperecível.

 

 

[O ápeiron (infinito, ilimitado) é princípio primordial (arché)] Dos que admitem um só princípio do movimento, infinito, A., filho de Praxíades, de Mileto, discípulo de Tales, diz que o infinito é o elemento e princípio primordial, tendo sido ele o primeiro que introduziu a palavra <arché>. E afirma que não é a água ou qualquer outro dos que nós denominamos “elementos”, mas certa natureza infinita, diferente, da qual haveriam nascido todos os céus e todos os cosmos neles contidos.

 

De certa natureza infinita nasceu o céu e os cosmos nele contido. Sem tempo e sem idade.

 

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Anaxímenes (ca.585-528) foi discípulo de Anaximandro e considerava o ar como arché. O ar é a força vital, a divindade que anima.

 

Anaxímenes (...) discípulo de Anaximandro, também admite só uma substância, que – tal como seu mestre, declara infinita. Mas <a substância> não é indeterminada, como era para Anaximandro, mas sim determinada, pois diz que ela é o ar (...).

 

Como nossa alma, que é ar, nos mantém firmemente unidos, assim o ar e o vento envolvem todo o cosmo.

 

 

Para Heráclito (ca. 544-484) a arché é o fogo.

 

(...) Heráclito de Éfeso também admite um só <princípio> movente e limitado [finito], e como tal, propõe o fogo. Do fogo derivam eles tudo quanto existe, por condensação e rarefação, e tudo resolvem no fogo, supondo que ele é a única natureza substancial (...).

 

Também Heráclito assevera que o Cosmo, ora se dissolve no fogo, ora renasce do fogo, à medida de certos períodos.

 

Créditos

BERGE, Damião. O Logos Heraclítico. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1969.

CASERTANO, Giovanni. Os Pré-Socráticos. Trad. Maria da Graça Gomes de Pina. São Paulo, Edições Loyola, 2009.

CHÂTELET, François. História da Filosofia ideias, Doutrinas. Rio de Janeiro, Zahar Editores, 1981.

HIRSCHBERGER, Johannes. História da Filosofia na Antiguidade. Trad.: Alexandre Correia. São Paulo, Editora Herder, 1957.

REVISTA BRASLIERA DE FILOSOFIA VOLS.: 10-14, 1954.

sábado, 19 de janeiro de 2013

Carta 58 – Do Devir (Heráclito) – Sêneca – 4-65 d.C.

 

por Osvaldo Duarte

“podemos e não podemos mergulhar duas vezes no mesmo rio”.

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Ainda na carta 58, Sêneca, através de Platão, faz uma leitura do fragmento DK49a; onde, Platão não considerava entre os seres dotados de existência própria “o ser” existente, isto é, aquele que é percebido por afecção, pois está num contínuo devir, sofrendo constantemente acréscimos ou mutilações.

O homem na velhice não é idêntico ao que foi na juventude; nem mesmo é, pela manhã, o que foi no dia anterior. Com efeito, nossos corpos fluem com rapidez no tempo como a corrente dos rios.

Não devemos temer a morte, pois cada momento é resultado da morte anterior do nosso corpo. O homem é fraco, efêmero e vive entre coisas vãs, as deseja como se houvesse permanentemente possuí-las, num mundo em que tudo existe para serviço dos sentidos que apetece, aguça e excita a vontade. Essas coisas são imaginárias e mudam de aspecto com o tempo e nada possuem de estável e permanente. Tudo o quanto vemos acompanha o fluir do tempo e não permanece idêntico. Lúcio Aneu nos aconselha:

“Desprezemos, pois, todas as coisas que tão pouco preciosas são a ponto de a sua própria existência ser duvidosa.”

Sêneca nos diz que, enquanto fala sobre as mudanças, ele mesmo já mudou.

“Este é o sentido da frase de Heráclito: “podemos e não podemos mergulhar duas vezes no mesmo rio”. O nome do rio permanece o mesmo, a água, essa já passou adiante. Num rio o fenômeno é mais sensível aos olhos do que num homem, mas não é menos rápido o curso do tempo em nós; por isso me espanta a loucura que nos leva a tanto amarmos essa coisa fugidia que é o corpo, e temer morrermos um dia quando cada momento é a morte do estado imediatamente anterior.”

Cachoeira dos Pretos - Correnteza-2

Créditos:

SÊNECA, L. A., Cartas a Lucílio. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1992.