Drag and drop a picture here or Double click to open a picture

Pansophia

Pansophia

sábado, 19 de janeiro de 2013

Carta 58 – Do Devir (Heráclito) – Sêneca – 4-65 d.C.

 

por Osvaldo Duarte

“podemos e não podemos mergulhar duas vezes no mesmo rio”.

rio2

Ainda na carta 58, Sêneca, através de Platão, faz uma leitura do fragmento DK49a; onde, Platão não considerava entre os seres dotados de existência própria “o ser” existente, isto é, aquele que é percebido por afecção, pois está num contínuo devir, sofrendo constantemente acréscimos ou mutilações.

O homem na velhice não é idêntico ao que foi na juventude; nem mesmo é, pela manhã, o que foi no dia anterior. Com efeito, nossos corpos fluem com rapidez no tempo como a corrente dos rios.

Não devemos temer a morte, pois cada momento é resultado da morte anterior do nosso corpo. O homem é fraco, efêmero e vive entre coisas vãs, as deseja como se houvesse permanentemente possuí-las, num mundo em que tudo existe para serviço dos sentidos que apetece, aguça e excita a vontade. Essas coisas são imaginárias e mudam de aspecto com o tempo e nada possuem de estável e permanente. Tudo o quanto vemos acompanha o fluir do tempo e não permanece idêntico. Lúcio Aneu nos aconselha:

“Desprezemos, pois, todas as coisas que tão pouco preciosas são a ponto de a sua própria existência ser duvidosa.”

Sêneca nos diz que, enquanto fala sobre as mudanças, ele mesmo já mudou.

“Este é o sentido da frase de Heráclito: “podemos e não podemos mergulhar duas vezes no mesmo rio”. O nome do rio permanece o mesmo, a água, essa já passou adiante. Num rio o fenômeno é mais sensível aos olhos do que num homem, mas não é menos rápido o curso do tempo em nós; por isso me espanta a loucura que nos leva a tanto amarmos essa coisa fugidia que é o corpo, e temer morrermos um dia quando cada momento é a morte do estado imediatamente anterior.”

Cachoeira dos Pretos - Correnteza-2

Créditos:

SÊNECA, L. A., Cartas a Lucílio. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1992.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Por favor, deixe seu comentário: