por Osvaldo Duarte
Para propor uma divisão de classes (parte da cidade) na sua República – Livro III, Platão recorre a uma nobre mentira da Fenícia:
“(...) na verdade, tinham sido moldados e criados no interior da terra, tanto eles, como as suas armas e o restante do equipamento; e que, depois de eles estarem completamente forjados, a terra, como sua mãe que era, os deu à luz, e que agora devem cuidar do lugar em que se encontram como de uma mãe e ama, e defendê-la, se alguém for contra ela, e considerar os outros cidadãos como irmãos, nascidos da terra.
No Estado harmonioso e pacífico, os cidadãos devem viver como irmãos e, cada classe tem o seu papel importante na manutenção dessa sociedade. Platão divide esta sociedade em três classes: Os que governam (os que mandam-Filósofos), os auxiliares (guerreiros), e os que produzem (lavradores, artífices).
“(...) mas o deus que vos modelou, àqueles dentre vós que era aptos para governar, misturou-lhes ouro na sua composição, motivo por que são mais preciosos; aos auxiliares, prata; ferro e bronze aos lavradores e demais artífices.”
Esta estrutura social não era rígida quanto à escolha dos cidadãos entre as classes, pois estavam todos unidos pelo grau de parentesco.
Prossegue Platão:
“Uma vez que sois todos parentes, na maior parte dos casos gerareis filhos semelhantes a vós, mas pode acontecer que do ouro nasça uma prole argêntea, e da prata, um áurea, e assim todos os restantes, uns dos outros. Por isso o deus recomenda aos chefes, em primeiro lugar acima de tudo, que aquilo em que devem ser melhores guardiões e exercer a mais aturada vigilância é sobre as crianças, sobre a mistura que entra na composição das suas almas, e, se a sua própria descendência tiver qualquer porção de bronze ou ferro, de modo algum compadeçam, mas lhe atribuam a honra que compete à sua conformação, atirando com eles para os artífices ou os lavradores, e se, por sua vez, nascer destes alguma criança com parte de ouro ou de prata, que lhe dêem as devidas honras, elevando-os aos guardiões, outros aos auxiliares ...”
Os governantes deverão ter uma boa educação e não será permitido possuir bens próprios, a não ser coisas de primeira necessidade, sendo que ao possuírem dinheiro, terras e habitações serão administradores dos seus próprios bens e não cuidarão da cidade. Esta classe deverá ser pura, não precisando nada de humano, pois já têm em sua alma ouro e prata.
Créditos:
PLATÃO. A República. Trad. Maria Helena da Rocha Pereira. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1993.
AMZALAK, M.B. Platão e a Economia da Cidade. Lisboa, 1950.