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Pansophia

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quarta-feira, 5 de novembro de 2014

O pensamento Platônico acerca da Transmigração das almas


por Leandro Morena
 Durante toda a trajetória da história da filosofia observou-se que muitos sistemas filosóficos preocuparam-se em dar ênfase ao homem. Desde os tempos primordiais, filósofos discutiram e debateram: O que é o homem? De onde veio? Para onde vai? Observou-se também que muitos desses sistemas mostraram a inferioridade para com as outras espécies: animais e vegetais, vistos como seres inferiores. Os escolásticos mostram-nos isso e no pensamento moderno também. Só no Pensamento Contemporâneo  é que essa discussão ganhou maior evidência.
clip_image002Mas nesse artigo eu vou frisar o pensamento do filósofo grego Platão no que diz respeito da Transmigração das almas ou Metempsicose. Essa ideia  já existia no Orfismo e no Pitagorismo, e Platão aceitou-a muito bem. Na sua obra Timeu,  mostram-se passagens que explicam para onde vão as almas que se comportaram de maneira errada durante a vida, depois que morrem. Segundo o filósofo, os homens que nunca filosofaram e nunca compreenderam a natureza do céu por não usarem a inteligência, estes por castigo, desses vícios, na próxima vida habitarão o corpo de animais ferozes (leão, tigre, etc.). O curioso é que o autor explica o porquê que esses animais se locomovem com as quatro patas para o chão. Os membros anteriores e a cabeça (do homem) foram direcionados para o chão, alongou-se o crânio que adquiriu vários formatos conforme a vadiagem que o ser humano fez ao longo da vida. Platão explica que esse tipo de ser humano nasceu com quatro patas ou mais pelo motivo que a divindade fez com que os seres humanos de pouca inteligência tivessem maior base de sustentação para arrastar-se para a terra. O filósofo vai além, afirmando que os seres humanos que foram mais atrasados que os citados acima, por castigo dos deuses, nasceriam sem patas para que se rastejassem com o corpo todo pela terra (cobra, centopéia, entre outros).  Ao afirmar sobre os animais marinhos, Platão radicaliza mais ainda essas espécies, chamando-os de estúpidos e ignorantes. Aos que as almas contaminadas por toda a sorte de faltas nascerão animais cujo habitat é na água, as divindades castigaram-nos, de tal maneira, que esses animais nem são dignos de respirar o ar puro, vivendo a aspirar à água lodosa das profundezas dos oceanos.
Esse pensamento, evidentemente, teve influencia em vários outros pensamentos posteriores ao platonismo.
clip_image004E no século XXI esse pensamento não mudou muito, pois é comum observar na mídia que os animais são usados em frases negativas para determinar um erro que um ser humano comete ou quando a mente humana atinge um grau de violência extrema, e sendo assim compara-o a um animal. Vou citar algumas frases grotescas e especistas que não param de ser usadas na atualidade:
“Esse assassino é um animal, ou é pior que um animal”!
Ser humano de sexo feminino quando comete algum ato errôneo:
Você é uma vaca, ou galinha, ou cadela, ou cachorra, ou piranha, ou vespa, ou cobra, ou serpente entre outros.
Ser humano de sexo masculino:
Você é um cachorro, ou urso, ou rato, ou cobra e serpente, ou cavalo, ou burro, ou asno entre outros.
Frases diversas:
Esse cara é mais assassino que um lobo, ou um leão!
Você cuspe cobras e lagartos para mim!
Você é uma lesma, ou uma besta selvagem!
Você vale menos que um cachorro!
clip_image006A mídia vem à tona ao comparar assassinos, torturadores, sequestradores, estupradores, pedófilos, corruptos, os bandidos que cometem crimes pela internet, entre outros  animais, como se isso fosse algo de factual. Não entendo como hoje em dia a sociedade pode admitir isso: homens que cometem coisas erradas sejam comparados a animais, pois esses homens que cometem erros são apenas seres humanos. Usam-se essas frases especistas para mostrar que a raça humana é perfeita e quando um ser humano ultrapassa a linha do senso comum e age de maneira que não vai de acordo com a lei, não é mais considerado humano, mas sim puro animal.
 No tempo de Platão, foi muito comum pensar que o ser humano tivesse algo de diferente  se comparado as demais espécies, pois nesse tempo não se tinham as informações e as pesquisas que se tem hoje sobre a inteligência animal, mas na sociedade atual, que temos milhares de informações pela internet, é uma obrigação rever esses conceitos e admitir que os homens que cometem coisas erradas são verdadeiramente homens; e cabe a filosofia discutir a ofensa moral que é denegrir a imagem dos animais e deixar para os psicólogos e psiquiatras que entendam os atos errôneos que seres humanos cometem.
Créditos:
PLATÃO. Timeu. Diálogos. Trad. Carlos Alberto Nunes. Universidade Federal do Pará, 1977.

Um comentário:

  1. Um excelente texto.
    Os homens e mulheres precisam aprender a serem seres humanos. E o ser humano está sempre aprendendo. E deve aprender sempre, inclusive com os animais.

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