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Pansophia

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quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Uma visão ilusória da Terra – Diálogo Fédon, Platão.

 

 

por Osvaldo Duarte

No diálogo Fédon, Sócrates, na prisão, nos seus últimos instantes de vida, acreditara que a sua alma sobreviveria à morte, pois sempre vivera uma vida digna e santa dedicada à Filosofia. Enfrentou a morte com coragem, confortou e tranquilizou seus discípulos sobre sua partida, pois tinha certeza de que pela sua conduta, viveria ao lado dos deuses. É em meio a este clima que nos narra esse mito que encerra o Fédon:

“Para começar, principiou, fiquei convencido de que se a Terra é de forma esférica e está colocada no meio do céu, para não cair não precisará nem de ar nem de qualquer outra necessidade da mesma natureza (...).”

 

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Lebrun recupera este excerto pouco lido do texto platônico. Nesse recorte o comentador atribui esta falsa percepção espacial à ignorância. Nós vivemos, isto é, habitamos um buraco aqui na Terra, mas não nos damos conta disso. A esta ignorância o professor vai se servir da palavra grega amathía, que significa não uma ignorância qualquer, mas sim, aquela ignorância acrescida de estupidez (nada saber e crer que sabe). A bem da verdade, Lebrun faz uma leitura conjugada ao Mito da Caverna, esse texto apenas complementa a sua análise.

Se nos atentarmos para o texto em questão, veremos que as palavras “indolência e fraqueza” são usadas por Sócrates para explicar o porquê da nossa imaginação. Essa indolência é uma disposição do nosso caráter, pois preferimos as aparências a enxergar o verdadeiro Sol e as estrelas como são na realidade, sequer sabíamos sobre a esfericidade da Terra. A fraqueza é uma debilidade da nossa Alma, que nos permite ser arrastado pelas paixões, preferindo os prazeres do corpo aos deleites da Alma.

Estamos acostumados a viver nessa cratera, a olhar este céu embaçado, essa terra onde as pedras e toda região que nos circunda não são perfeitas, estão corroídas, há cavernas, lamaçal e lodo por todos os lados e, ainda assim nos damos por satisfeitos.

Por não percebermos que habitamos uma dessas concavidades, imaginamos viver na superfície terrestre; falta-nos coragem para subir e contemplar o verdadeiro céu, a verdadeira luz, a verdadeira Terra.

Amantes do corpo, da fama e do dinheiro,  tememos perder tais prazeres. Ousar subir à superfície seria abrir mão das nossas inclinações prazerosas.

A Alma atrelada ao corpo é fraca, e cada vez mais se submete aos apetites corpóreos; enquanto estiver presa, mais dificuldades terá em voar até a superfície. Para que consiga tal proeza terá de ser temperante, numa palavra, desprender do corpo em uma espécie de morte.

“(...) ensina-nos a experiência que, se quisermos alcançar o conhecimento puro de alguma coisa, teremos de separar-nos do corpo e considerar apenas a alma como as coisas são em si mesmas.”

 

Créditos/Obras consultadas:

LEBRUN, G. A Filosofia e sua História, Cosacnaify, 2006.

PLATÃO. Diálogos Vol. IV, Tradução. Carlos. Alberto Nunes. Pará: Univ. Fed. Pará, 1980.

PEREIRA, Isidro. Dicionário Grego-Português e Português Grego. Porto: Ed. Apostolado da Imprensa 1984.

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