Pansophia

segunda-feira, 31 de março de 2014
O Utilitarismo preferencial de Peter Singer
quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014
Homem e humano; demasiado humano?
por Osvaldo Duarte
Os conceitos de homem e humano estão mesclados de tal forma que já não conseguimos mais distingui-los. Essa amálgama não está de toda errada, mas acreditamos que é sempre preciso voltar àqueles conceitos originários para que se possa repensar o que ainda resta de humano no homem que se diz humano. Há certa obviedade ao dizermos que somos seres humanos ou homens, isso não requer, de fato, uma grande reflexão, pois os compreendemos perfeitamente. No entanto, ao pedirmos de chofre uma explicação de tais conceitos, nos parece que não há clareza nas respostas, afora a argumentação religiosa, o que está fora do nosso propósito.
No conceito originário de homem não continha essa subjetividade do “eu” tal qual a conhecemos hoje. O “eu” para os gregos, estava imerso na totalidade do mundo circundante, na physis (natureza), na pólis. Para os antigos gregos, homem significava: ser vivo que possui linguagem. A essência do homem é possuir palavras, poder dizer algo e poder ouvir o que o outro tem a dizer. A palavra permeia as relações dos homens de tal maneira que, tudo se manifesta em simultaneidade com a palavra. Através da fala o homem expressa sobre o mundo. Ainda que não pronunciada, a palavra está presente no indizível. Juntamente com esta definição, também havia outro significado do conceito homem: ente que calcula, mas não necessariamente o saber contar, mas contar com algo, o ser calculador.
O conceito originário de humano deriva de humanitas. Aulo Gélio nos dá notícias de que no seu tempo o vulgo tinha por humanitas aquilo que para os gregos era filantropia, que significava certa afabilidade e benevolência para com todos os homens indistintamente. Os romanos eruditos, conhecedores e praticantes da língua latina, tinham por humanitas aquilo que os antigos gregos denominavam paideía (educação), que seria a instrução e formação para as boas artes, pois, dentre todos os seres animados, somente ao homem foi dado o cuidado e o ensinamento das boas artes.
Varrão e Cícero já utilizavam tal conceito. Com efeito, humano, em latim humãnus, significa: de homem ou pertencente a homem, erudito, educado, instruído nas belas-letras, civilizado.
O ensino requer dotes naturais e prática.
Deve começar-se a aprender em novo.
Protágoras
Para o povo da hélade, a educação modela o homem como o oleiro modela a sua argila; a paidéia deve ser de feita através de um processo de construção consciente, do modo correto e sem falha, tornando possível a elaboração do Homem vivo.
Aprendamos com este povo vigoroso, que a educação não deve ser voltada apenas para o trabalho; dentre outras possibilidades, a educação deve formar o cidadão, como também, viabilizar a realização plena do homem enquanto ser humano. A sociedade que não investe em educação está fadada a um futuro sombrio, onde há ignorância, a treva se faz presente.
Não é indiferente que o povo seja instruído. Os preconceitos dos magistrados começaram por ser os da nação. Numa época de ignorância, não se tem nenhuma dúvida até quando se fazem os maiores males; numa época de luzes, treme-se ainda quando são feitos os maiores bens.
Montesquieu
Portanto, a educação* é condição de possibilidade para que o homem se torne cada vez mais humano, demasiado humano!
* Veja o nosso texto: Da Educação - Platão – 427-347 a.C.
Créditos
GÉLIO, A., Noites Áticas. Trad. José R. SEABRA F.. Londrina: Eduel, 2010
JAEGER, W. Paidéia: A Formação do Homem Grego; Herder; São Paulo; 1972.
MONTESQUIEU, Do Espírito das Leis;. Trad. H. Barbosa. Edições Cultura, São Paulo, 1945.
HEIDEGGER, M. Heráclito. Trad. Marcia Sá C. Schuback. Ed. Relume Dumará. Rio de Janeiro, 1998.
HEIDEGGER, M. Platão: O Sofista. Trad. M. A. Casanova. Forense Universitária. Rio de Janeiro, 2012.
PEREIRA, M. H. Rocha, Hélade Antologia da Cultura Grega, Lisboa: Guimarães Editores SA, 2009.
terça-feira, 18 de fevereiro de 2014
O filósofo Peter Singer e a crítica ao abate animal
sábado, 1 de fevereiro de 2014
David Hume e a tese de que os animais são dotados de sensações
sábado, 21 de dezembro de 2013
O Mito de Sísifo e a Náusea da Vida
por Osvaldo Duarte
Considerado o mais astuto dos mortais e o mais inescrupuloso, Sísifo, filho de Éolo da raça de Deucalião, foi fundador de Corinto. Sua lenda é constituída de várias histórias de astúcias, mas o que nos interessa aqui é o recorte de uma das versões do mito que faz alusão ao seu sofrimento:
Quando Zeus raptou Egina, filha de Asopo, para levá-la a Enone, passou por Corinto e Sísifo viu-o. Sabendo que procurava sua filha, Sísifo foi ter com Asopo, prometendo relevar-lhe o nome do raptor se o mesmo fizesse brotar uma nascente na cidade de Corinto. Asopo[1] assentiu, e Sísifo denunciou Zeus. Esse episódio atraiu sobre o delator a cólera do senhor dos deuses. Zeus o fulminou de imediato e o precipitou nos Infernos. Sísifo teve como castigo rolar um enorme rochedo na subida de uma vertente. Mal o rochedo atingia o cimo, voltava a cair por causa do seu próprio peso e o trabalho de Sísifo tinha de recomeçar, ad aeterno.
Muitas vezes nos cansamos da mesmice que a vida nos impõe. Dia após dia, assim como Sísifo, fazemos as mesmas coisas: rolamos nosso rochedo morro acima - choramos, reclamamos, labutamos e nos enfastiamos, mas sempre firmes empurrando o nosso rochedo, acreditando que o amanhã será diferente. Viver é para os fortes, os fracos sucumbem.
“Até quando aguentaremos sempre o mesmo? Nunca faremos outra coisa senão acordar e adormecer, comer e sentir fome, ter frio e calor?! Coisa alguma tem um termo, está tudo urdido em círculo, tudo se sucede alternadamente sem parar: a noite põe termo ao dia, e o dia à noite, o verão vai findar no outono, ao outono segue-se o inverno, que por seu turno é destronado pela primavera; tudo passa para regressar novamente. Não realizamos nada de novo: e aqui reside por vezes a causa da náusea!”
Sêneca
“... Examina os dramas e as cenas que conheces por tua experiência pessoal ou pela história antiga, coloca diante dos teus olhos toda corte de Adriano, Augusto, Felipe, Alexandre e Creso, por exemplo. Todos esses espetáculos se assemelhavam, os atores é que eram outros.”
Marco Aurélio
Se o estoicismo nos mostra essa condição de impotência diante da vida, também nos ensina como lidar com esta situação. Não basta viver (ser forte), mas viver sabiamente, isto é, conforme a natureza. Viver conforme a natureza é uma aceitação da vida que nos foi dada pelos deuses. Devemos sempre desempenhar o nosso papel da melhor maneira possível, ainda que nos seja de sobremaneira penoso.
“Lembra que és tal como um ator no desempenho do papel que o autor quis proporcionar: se breve, breve, se longo, longo. Se quiser que representes um papel de mendigo, faze por representar aquela figura o
melhor que puderes; e assim se for de um manco, ou de um príncipe, ou de um plebeu, porque o teu ofício é representar bem a personagem que lhe derem, e o de escolher o papel, é de outrem.”
Epicteto
“Eu me conformo com tudo que te convém ó mundo! Para mim, nada é prematuro ou tardio, se é oportuno para ti. As tuas estações, ó natureza, para mim só produzem frutos, tudo vem de ti; tudo em ti existe; tudo para ti retorna.”
“Entrega-te de boa vontade a Cloto[2]; deixa-a fiar a tua vida com os acontecimentos que lhe aprouver.”
Marco Aurélio
E quando tentamos mudar, isto é, representar um papel que não nos foi destinado pelos deuses, a Stoa nos adverte:
Se quiseres representar nesta vida algum personagem que exceda as tuas forças e capacidade, farás duas coisas, que isto não podes, fá-lo-á mal e indecentemente; deixarás o que poderias fazer bem e com louvor.
Epicteto
Diante do infortúnio, das adversidades, do sofrimento que a vida nos impõe, os estóicos nos ensinam a viver sabiamente - devemos encarar a dor como uma provação, um aperfeiçoamento, portanto, sejamos sábios, e, sempre manter a calma, a serenidade e não nos entregarmos às aflições, ao desespero, afinal, isso de nada adianta, pois o nosso caminho já foi traçado pelas Moiras.
Créditos:
AURÉLIO, M. Pensamentos. São Paulo, Edições Cultura, 1942.
AURÉLIO, M. Meditações. São Paulo, Editora Iluminuras, 1995.
GRIMAL, P., Dicionário da Mitologia Grega e Romana. Trad. V. Jabouille. Bertrand Brasil, 2000.
EPICTETO, Manual de Epitecto: Máximas Diatribes e Aforismos. Lisboa: VEGA, 1992.
EPITÉTO, Manual de Epiteto. Trad. Frei Antonio de Souza. São Paulo: Edições Cultura, 1944.
PENSAMIENTOS. Trad. Joaquin Delgado. Buenos Aires: El Ateneo, 1945.
SÊNECA, L. A., Cartas a Lucílio. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2009.
1 - Asopo - deus do rio que levava o seu nome.
2 - Moira Cloto – Presente.
domingo, 8 de dezembro de 2013
A parteira : O livro de um poema só.
Mais uma vez, a editora da gente nos brinda com a obra do poeta Adenildo Lima.
Veio a lume o livro A parteira, com ilustrações do artista plástico JP - João Paulo de Melo.
Para degustação, reproduzimos abaixo, o excerto da obra: