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Pansophia

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sábado, 2 de julho de 2011

Sustine et Abstine

por Osvaldo Duarte


O estoicismo é considerado, de certa forma, Filosofia da prática, de uma moral rígida que se traduz no comportamento do sábio, que sempre será de acordo com a natureza.


Geralmente a Escola do Pórtico é dividida ao longo dos cinco séculos da sua existência em três períodos. O primeiro, que é o da sua fundação por Zenon de Cítion, é considerado o período antigo (séc. III a.C), que têm como expoentes além de seu fundador, Crisipo e Cleantes, tendo como centro de propagação, Atenas. O segundo período é chamado de estoicismo médio (sec. II e I a.C), cuja fronteira estende-se até Roma; destacam-se neste período, Panécio de Rodes, Cipião Emiliano e Posidônio de Apameia. O último período é chamado de neo-estoicismo ou estoicismo imperial ou ainda, romano. Os filósofos mais representativos deste período são: Epicteto, Sêneca, Musónio Rufo e Marco-Aurélio (séc. I e II d.C). É nesta época que a moral está mais desenvolvida, tendo como apotegma “suporta e abstém-te.”
Viver para os estóicos é viver conforme a natureza, aceitando a vida com serenidade. O sofrimento, os percalços da vida são inevitáveis, são processos pelos quais a Providência aperfeiçoa o homem, pois o mal é parte de uma ordem cósmica, cabendo ao homem aceitá-lo como tal.


Sêneca nos ajuda a compreender melhor esta aceitação sem resistência e sem aflição:


Continuas então a indignar-te ou a lamentar-te disto ou daquilo, sem entenderes que o único mal efetivo é o próprio fato de tu te indignares ou te lamentares?! Se queres saber a minha opinião, eu entendo, que nenhum motivo de aflição existe para o homem além da própria circunstância de ele julgar que a natureza contém em si motivos de aflição. No dia em que deixar de poder suportar o que quer que seja, deixarei de poder suporta-me a mim mesmo. Falta-me saúde: é parte do meu destino. Os escravos adoeceram, os rendimentos foram-se a casa abriu em rachas, caíram sobre mim prejuízos, preocupações, perigos: tudo isso é natural. Direi mesmo mais: é inevitável! São condições a que estamos obrigados e não meros acidentes...
Sêneca, Cartas a Lucílio – Carta 96.


Para ilustrar, citemos alguns exemplos. Segundo Aulo Gélio, o filósofo Galvísio Tauro sabendo da enfermidade de um amigo estóico, foi visitá-lo. O doente estava febril, com dores e tormentos intestinais; seus suspiros eram abafados com gemidos que indicavam mais dor do que a luta contra própria dor. Mandado vir o médico e, conversado sobre o remédio que devia ser administrado, Tauro fortaleceu o doente com seu testemunho da paciência e da tolerância com que ele, o enfermo, enfrentava a situação. Ao deixar seu amigo, Tauro comenta aos seus sectários, que não é um espetáculo agradável, mas útil a peleja entre o filósofo estóico e a dor.
Outro exemplo de conformidade é de Epicteto, que era escravo de Epafrodito, confidente de Nero, conta-se que seu senhor, brutal, lhe torce certo dia uma perna num aparelho de tortura: “Olha que a quebras” – disse Epicteto tranquilamente; vendo sua previsão realizada limitou-se a observar: “Eu não te falei?



Mestre Epicteto, nos conta Aulo Gélio, costumava dizer que, dois são os vícios mais graves e mais terríveis de todos, a intolerância e a incontinência: quando ou as injúrias que se devem suportar não toleramos nem suportamos; ou quando das coisas e prazeres de que nos devemos manter longe, não nos mantemos. “E assim, disse ele, caso alguém mantenha estas duas palavras no coração e dominando e observando a si mesmo as cumpra, esse será em quase tudo impecável, e vida viverá tranquilíssima. Estas duas palavras Epicteto dizia: “suporta e abstém-te (Sustine et Abstine)” (A.G.XV,19).

Referências Bibliográficas:
EPICTETO. Manual de Epitéto Filósofo. Tradução: Frei Antonio de Souza. São Paulo, Edições Cultura, 1944.
GÉLIO, Aulo. Noites Áticas. Tradução: José R. SEABRA F.. Londrina, Eduel, 2010.
PIMENTEL, Maria Cristina. Quo Verget Furor? Aspectos Estóicos na Phaedra de Sêneca. Lisboa, Edições Colibri, 1993.
SÊNECA, L. A., Cartas a Lucílio. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2009.

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