por Osvaldo Duarte
Xenófanes, historiador, poeta e sábio, aos vinte e cinco anos abandonou Cólofon devido à invasão dos medos estabelecendo-se em Eléia, onde funda a sua Escola; teve uma vida longa e, faleceu mais ou menos no mesmo ano que Heráclito. Segundo Diógenes Laêrtius, para alguns autores não foi discípulo de ninguém, no entanto, para outros, foi discípulo de Bôton, e ainda, de Arquêlaos; foi contemporâneo a Anaxímandros. Posteriormente, Parmênides foi considerado seu discípulo, esta afirmação talvez tenha como origem em Aristóteles.
Da sua obra, escrita em verso épico, elegias e iambos, subsistem um certo número de fragmentos, sendo que ele próprio recitava seus versos, criticando Hesíodo e Homero pelo que haviam dito a respeito dos deuses. Parece que Xenófanes sustentou opiniões contrárias às de Tales e às de Pitágoras.
Para Berge, Xenófanes utiliza-se da observação metódica estabelecendo algo como graduação do conhecimento, pois, faz afirmações de valor absoluto e universal, como também, restrita e relativa, o seu critério é único: a perceptibilidade positiva.
Sua crítica é assaz contundente a Homero e a Hesíodo pelas atribuições humanas às divindades, as quais são fruto do antropomorfismo. Nosso sábio vai além, pois mostra a causa, que segundo Berge, seria a “transposição mecânica do humano para o divino”; repudia também, as teogonias e a qualquer atribuição ou figuração material aos deuses. Com efeito, no segundo fragmento abaixo, a humanização dos deuses, i. e., os mortais imaginam os deuses com indumentárias, voz e corpo humano semelhante aos seus.
Fragmentos:
Homero e Hesíodo atribuíram aos deuses tudo quanto entre os homens é vergonhoso e censurável, roubos, adultérios e mentiras recíprocas.
Mas os mortais imaginam que os deuses foram gerados e que têm e vestuário e fala e corpos iguais aos seus.
Os Etíopes dizem que os seus deuses são de nariz achatado e negros, os Trácios, que os seus têm olhos claros e cabelos ruivos.
Mas se os bois e os cavalos ou leões tivessem mãos ou fossem capazes de com elas, desenhar e produzir obras, como os homens, os cavalos desenhariam as formas dos deuses semelhantes às dos cavalos, e os bois à dos bois, e fariam os seus corpos tal como um deles o tem.
Um só deus é o maior entre os deuses e os homens, dissemelhante dos homens em figura e em modo de perceber.
Permanece sempre no mesmo lugar, sem se mover; nem é próprio dele ir a diferentes lugares em diferentes ocasiões, mas antes, sem esforço tudo abala com pensamento do seu espírito.
Para Kirk, as críticas de Xenófanes são claras, pois, tanto Homero como Hesíodo atribuem com frequência imoralidades humanas aos deuses, sendo que não há boa razão para tal. Xenófanes dá-se conta de que diferentes povos atribuem as suas próprias características particulares aos deuses; e ainda, por reductio ad absurdum, que os animais poderiam fazer o mesmo.
Portanto, por tais apreciações subjetivas e sem valor, os homens deveriam abandonar a tradição estabelecida por Homero, por quem todos aprenderam.
Créditos
BERGE, Damião. O Logos Heraclítico. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1969.
DUMONT, Jean-Paul. Elementos de História da Filosofia Antiga. Tradução: Georgete M. Rodrigues. Brasília, Editora UnB, 2004.
KIRK, G. S e RAVEN, J. E. Os Filósofos Pré-socráticos. Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1982.
LAÊRTIOS, D.. Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres. Tradução: Mário da Gama Kury. Brasília, Editora da UnB, 2008.