por Osvaldo Duarte
De Natura Deorum (Da Natureza dos Deuses), obra dividida em três livros, no segundo livro, Cícero não só recupera a concepção estóica mítica do tempo, como também, a origem natural do mito que ”humaniza” os deuses tornando-se matéria farta aos poetas, difundindo assim, a superstição entre os homens. Segundo Cícero, esta explicação estóica começa com Zenão, sendo seguido por Cleantes e, mais tarde, com Crisipo.
63. (...) Estendeu-se por toda a Grécia a velha ideia de que o Céu* foi castrado por seu filho Saturno, e o próprio Saturno foi amarrado pelo seu filho Júpiter.
64. Existe uma explicação natural para todas estas fábulas ímpias, embora não pouco complexa. (...) Quis-se também identificar Saturno com a entidade que regula o curso e o ciclo do espaço e do tempo. Aliás o deus grego tem esse mesmo nome: Krónos, que é igual a Chrónos, isto é, ‘Intervalo de Tempo’. Chama-se ‘Saturno’ porque saturat (‘come, se alimenta de’) os anos, e imagina-se que ele costumava comer os filhos nascidos dele próprio, porque o tempo devora o curso dos dias e enche-se insaciavelmente dos anos que passam. Foi amarrado por Júpiter para que assim o curso do tempo se não tornasse descontrolado, e para que pudesse ser controlado pelas amarras das estrelas. Já o próprio nome ‘Júpiter’, isto é, ‘o Pai que ajuda’, quando declinado fica ‘Iovem’, do verbo iuvare (‘ajudar’).
Dizem os poetas que ele é
“o pai dos deuses e dos homens”
e os nossos antepassados dizem que ele é o Melhor e o Maior, e colocam epíteto ‘Melhor’ primeiro porque, realmente, ele é o que mais benefícios traz, e é pois mais digno de reconhecimento ser útil a todos, do que ter muitos recursos.
* Céu (Caelus) – Tradução para o latim do deus grego Úrano.
Créditos
CÍCERO, Marco Túlio. Da Natureza dos Deuses. Trad. Pedro B. Falcão. Lisboa, Nova Vega, 2004.
GRIMAL, Pierre. Dicionário da Mitologia Grega e Romana. Trad. Victor Jabouille. Bertrand Brasil, 2000.
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