por Leandro Morena
Francesco Patrizzi (1529- 1597) nasceu em Cherso. É considerado um filósofo renascentista neoplatônico, pois suas obras estão calcadas no pensamento platônico. No ano de 1576 começou ensinar filosofia platônica na cidade de Ferrara, e ficou nela até o ano de 1593, pois foi chamado em Roma para continuar com o ensino e a divulgação do platonismo, cidade essa que ficou até falecer.
Das principais obras de Patrizzi, destacam-se duas, a saber: Discussiones Peripateticae e a Philosophia Nova. A Discussiones Peripateticae trata-se de uma obra que vai contra o pensamento aristotélico, pois Patrizzi considera esse pensamento um inimigo da fé religiosa, pois para ele o aristotelismo vai negar omnipotência divina e o governo divino, esse pensamento é uma heresia para a ideologia do cristianismo.
Patrizzi vai criticar fortemente os escolásticos, afirmando que estes não são verdadeiros filósofos pelo fato que apenas reformularam a filosofia aristotélica, sem preocuparem-se de conhecer as coisas tal como são; crítica essa que vai estender-se, principalmente, para o pensamento de Tomás de Aquino (1225-1274), pois este levou à tona o pensamento aristotélico. Em suma, Patrizzi vai empenhar-se para destruir a filosofia de Aristóteles. Na segunda obra Philosophia Nova, o filósofo vai focar o seu objetivo para a reconstrução de uma filosofia platônica que vai servir de alicerce à fé cristã. Ele vai trilhar o caminho a renovação e defesa do cristianismo através do retorno às doutrinas e crenças orientais: pitagóricas e platônicas. Dedicou essa obra ao Papa Gregório XIV (1535-1591) com o intuito do mesmo decretar que em todas as escolas cristãs fosse ensinada a sua filosofia. Ele pensava que com essa ação ocorreria uma transformação na sociedade e a volta dos protestantes na fé cristã.
A obra Philosophia Nova vai dividir-se em quatro partes:
1. A panaugia ou doutrina da luz;
2. A panarchia ou doutrina do primeiro princípio de todas as coisas;
3. A panpsichia ou doutrina da alma, e;
4. Pancosmia ou doutrina do mundo.
Segundo Abbagnano, Patrizzi vai afirmar como primeiro princípio o Uno, e este, por sua vez, é a causa primeira, absoluta e incondicionada e é qualificado como o bem. Do Uno distingue-se a unidade, que é gerada a partir dele, e a unidade os outros graus do ser até aos menos perfeitos: a sabedoria, a vida, o intelecto, a alma, a natureza, a qualidade, a forma e o corpo; esse conjunto destas nove ordens da realidade é que constitui o universo todo. Para Patrizzi, o conhecimento humano é um ato de amor que tende voltar à unidade original, suprimindo a separação entre os elementos do ser, isto é, a união com o objeto cognoscível e incide no ato de amor pelo qual o homem tende para o objeto, buscando abolir a distância que o afasta deste último. A pergunta é: como identificar o intelecto cognoscitivo com o objeto? Isso só é possível com base numa identidade de natureza entre sujeito e objeto. Se o sujeito é alma e vida, consequentemente, o objeto também é alma e vida. O filósofo vai defender fortemente a animação universal das coisas, ou seja, o pampsiquismo que é o único princípio adequado a explicar a sua ligação no mundo, a atração que as conecta até formarem o todo e torná-las entráveis ao intelecto humano.
Créditos:
ABBAGNANO, Nicola. História da filosofia vol. V, 2º Ed. Tradução: Nuno Valadas e Antônio Ramos Rosa. Editorial Presença, Lisboa, 1978.