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Pansophia

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segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Filósofo Fausto Castilho (1929-2015)

 

por Leandro Morena

 

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Nesse ano a filosofia brasileira perdeu um de seus maiores pensadores, o filósofo, pesquisador, professor e tradutor Fausto Castilho. Fausto quando jovem mostrou a sua força de vontade, aos 17 anos foi aprovado no vestibular da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), mas acabou desistindo da graduação e o  motivo disso foi que o seu sonho era estudar filosofia em Sorbonne, situada em Paris.

            E foi com a ajuda dos escritores Oswald de Andrade e Sérgio Milliet que foram os protagonistas por convencer a família do filósofo a acatar essa idéia.

Em 1947, o sonho de Fausto realizou-se, chegou à França para estudar filosofia, e foi aluno de grandes pensadores como: Gaston Bachelard (1884-1962), Martial Gueroult (1891-1976), Ferdinand Alquié (1906-1985) e Henri Gouhier (1898-1994). Foi aconselhado pelo filósofo Merleau-Ponty (1908-1961), de quem foi grande amigo, e no ano de 1949 foi para Friburgo, Alemanha onde foi aluno do filósofo Martin Heidegger (1889-1976).

            Fausto Castilho retornou ao Brasil no ano de 1952 e foi lecionar na Universidade Federal do Paraná, na Universidade de São Paulo e foi um dos responsáveis pela criação da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) onde também lecionou, tornando-se professor emérito, e aposentou-se em 1997.

            Foi tradutor da obra “Ser e o Tempo” (primeira edição bilíngue) de Heidegger, onde possibilita o estudante ler o texto em português e fazer a comprovação com o texto original em alemão. O próprio Castilho afirmou: que são os alunos de filosofia que se beneficiarão com está edição. Traduziu também a obra “Manual dos Cursos de Lógica Geral” do filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804).

            Desde 1959 foi casado com Carmen com quem viveu até o fim. Não teve filhos.

Fausto mostrou-nos que nunca é impossível de se alcançar um sonho, por mais difícil que seja, com força de vontade e persistência, acaba tornando o sonho possível.

Fausto Castilho enriqueceu a filosofia brasileira e esse grande filósofo fará muita falta.

 

 

Fonte: Folha UOL

Stuart Mill (1806-1873): A Democracia

                                       

por  Leandro Morena                                                   

                A definição de democracia pelo entendimento do filósofo Norberto Bobbio (1909-2004):

...por democracia entende-se uma das várias formas de governo, em particular aquelas em que o poder não está nas mãos de um só ou de poucos, mais de todos, ou melhor, da maior parte...
                                                                             Trad. Daniela Beccaccia Versiani                                                                                                                                                                                                 
            Stuart Mill escreveu a obra: Sobre a liberdade, e nela o filósofo londrino afirma que a democracia é a melhor forma de governabilidade perante todas as outras formas de governo, embora cauteloso por viver numa monarquia. O filósofo ressalva, no entanto, que mesmo num sistema democrático, a liberdade pode ser ameaçada, como menciona Mulgan: das forças da conformidade social, isto é, a tirania da maioria. A preocupação de Mill nesse sistema de governo poderia vir extinguir a individualidade e conter as minorias. Mill é enfático em seus escritos por mostrar a importância da liberdade pessoal de um caráter individual que seja forte e com isso exercesse o encorajamento de seu crescimento, e Mill assegura que mesmo uma democracia não pode garantir a liberdade.
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Mesmo com essas objeções, Stuart Mill mostra-nos que a democracia é o melhor sistema. Em outra obra: Considerações sobre o governo representativo, ele afirma e defende uma maior participação política tanto em bases instrumentais quanto essenciais. Segundo Mulgan, instrumentais pode ser entendida como a defesa utilitarista padrão do livre mercado, ou seja, os cidadãos são os próprios juízes de seus próprios interesses.
            Stuart Mill afirma que uma democracia representativa é a melhor maneira de manter os que governam agirem com integridade e com isso trabalham nos interesses da maioria dos cidadãos. O filósofo é firme na ideia da democracia representativa, que se por acaso aparecesse um ditador do “bem” (algo impossível de imaginar) e este tirano fizesse de tudo pelos interesses da população, mesmo assim, a democracia ainda será a melhor forma de governabilidade.
            Para Mill, a democracia representativa é eficiente, faz com que as pessoas participem da vida política, e o cidadão se desenvolva por forma voluntária, atingindo as classes menos favorecidas e esta tende ficar incentivada para refletir e preocupar-se com a as questões do dia a dia, e o resultado disso faz com que esses cidadãos comecem desenvolver uma capacidade intelectual para se depararem com questões de maior relevância e tomarem decisões muito mais complexas.
                A democracia representativa permite também, como diz Mulgan:
 ...que alguns se especializem na complexa atividade governamental, e deixa os demais livres para dedicarem o seu tempo às coisas mais importantes na vida.
Trad.: Fábio Creder


Mill deixou bem especificado no seu pensamento político que ele não vê a política como algo mais importante da vida.
É importante frisar que para ter-se uma sociedade justa, livre e desenvolvida, a educação é a base de tudo. Ler o artigo do Osvaldo Duarte nesse blog: Democracia Republicana- Montesquieu.
O modelo usado pelo Brasil é a democracia representativa, se fossemos seguir a ideia de Stuart Mill, seríamos um país modelo, mas esse sistema tem falhado ao longo dos anos, pois nem sempre os representantes estão representando os interesses da população, pois representam os interesses de si mesmos, além de existir um distanciamento gigantesco entre o eleitor e o eleito.
            O Brasil é uma democracia jovem e é fato que num passado não muito distante o cidadão brasileiro não se interessava por política, pois havia um ostracismo evidente, os corruptos e corruptíveis ficavam impunes. O cidadão não se preocupava com o passado de quem ele elegeu ou por tantas decepções com o eleito, o cidadão perdia a esperança. Hoje o cidadão brasileiro está mudando, o brasileiro saiu da “Caverna de Platão”, pode-se afirmar que, ainda um pouco tímido, ele começa interessar-se pelo andar da política. Manifestam-se pelas redes sociais ou reúnem-se em manifestações físicas, exigindo da pessoa que eles elegeram que de fato cumprem o que foi colocado no plano de governo. O cidadão brasileiro não está mais vulnerável à corrupção, exigem que os corruptos sejam presos, além de saber o passado do candidato que eles pretendem votar, com a lei da ficha limpa, mostra-nos que a democracia está fortalecida pela união dos cidadãos. Não é difícil ver hoje, o que no passado foi mais raro perceber, um grupo de estudantes, ou um grupo de amigos, ou de pessoas de idade, ou e de classes sociais diferentes, debatendo política, parece que o cidadão brasileiro começa ver a importância de ter o conhecimento daqueles que o representarão e do entendimento da situação política, e com isso exigem que o país possa vir a ter um futuro promissor, e fortalecem essa democracia que jamais poderá ser derrubada por um golpe como no passado, pois o cidadão informado, unido e encorajado, jamais será vencido.
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            Pode ser que num futuro não muito distante a democracia representativa no Brasil seja seguida como foi elaborada na teoria, e teremos representantes que estejam focados no que realmente o povo deseja.

Créditos:
Obras consultadas:

BENTHAM, Jeremy e STUART MILL, John. Os Pensadores. Editora Abril, 2º Ed., São Paulo, 1979.
MULGAN, Tim. Utilitarismo. Tradução: Fábio Creder. Editora Vozes, Rio de Janeiro, 2012.
BOBBIO, Norberto. Teoria geral da política: a filosofia política e as lições dos clássicos. Trad. Daniela Beccaccia Versiani. Campus, Rio de Janeiro, 2000.


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segunda-feira, 24 de agosto de 2015

A informação na formação moral humana – Sêneca


Sêneca – Carta 88 – As Artes Liberais.
por Osvaldo Duarte

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 Os gregos tinham por ignorância (agnoia) algo feio (aisxoç), uma deformação da alma que deveria ser alijada através do ensinamento (didaskalikh).  A Arte (texnh) surge como possibilidade de um ensinamento que pode ou não dirigir para um saber, na medida em que tenha um caráter universal. A Paidéia (paideia), traduzida como formação, e ainda  pela qual os sofistas foram guiados, era  educar com vistas a falar  sobre todas as coisas.
À sua época, Sêneca, na epístola 88 retoma esta questão e, como bom estóico, sua crítica têm matizes da Moral, a saber, todas as ações humanas devem ser voltadas para o aperfeiçoamento do homem enquanto humano, tornando-o virtuoso.
Considerando Posidónio, o filósofo estóico informa que há quatro tipos de artes: as vulgares e inferiores, as recreativas, as educativas e as propriamente ditas, liberais.
Por artes vulgares, entendiam as manuais, fabricação de objetos (artesãos), as recreativas, seriam aquelas cujo objeto é o prazer dos olhos e ouvidos (Teatro), educativas eram as artes que tinham algo de comum com a liberais, que os gregos chamavam de “enciclopédicas”, e liberais, as que são verdadeiramente livres, cujo objetivo é a virtude.
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Ao contrário de alguns que viam no estudo liberal uma maneira de formar homem de bem, Sêneca afirmava que não era esse tal propósito, pois os mestres sequer ensinavam a virtude e, tampouco, poderiam transmiti-las.
“O que há de liberal, pergunto eu, nestes indivíduos que vomitam em seco, que quanto mais engordam o corpo mais deixam o espírito macilento e letárgico?”
Sêneca entendia por virtude:

A Coragem;
A lealdade;
A temperança;
A simpatia humana;
A modéstia;
A moderação;
A frugalidade ou parcimônia;
A clemência.

 Ao compreender o seu tempo, sua análise torna-se extemporânea na medida em que dá aos que se interessam por este tema, a possibilidade de um olhar atual, a saber, a quantidade de informação e, principalmente, da sua utilidade na formação humana, . Para ilustrar recortamos um exemplo da Carta 88:
“O gramático Dídimo escreveu quatro mil livros: eu já teria pena dele se se tivesse limitado a ler tanta bagatela! Num dos livros investiga qual a Pátria de Homero, noutros qual foi a verdadeira mãe de Eneias; noutros se Anacreonte se entregou mais à vida de prazer ou à bebida; noutros se Safo foi prostituta; em suma, coisas que se a soubéssemos, deveríamos esquecer.”
Ainda assim...
“(...) apesar de tudo sempre é melhor saber uma coisa supérflua do que não saber nada!"
E assim conclui o nosso autor:
Tenho de saber tudo isso? O que posso ignorar então?”
“Saber mais do que o necessário é uma forma de intemperança.”

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As Artes Liberais, segundo o nosso filósofo, são assim chamadas, por serem dignas de um homem livre, mas o único estudo liberal, por ser elevado, magnânimo e enérgico é o da sabedoria.
“A sabedoria cinge-se às ações, não às palavras (...). A sabedoria é algo de grande e de vasto; exige para si todo o espaço; temos de nos debruçar sobre o divino e humano, sobre o passado e o futuro, sobre o transitório e o eterno, sobre o tempo."
Devemos aproveitar melhor o nosso tempo!
“Já te dispuseste a pensar quanto tempo te é roubado pelos problemas de saúde, pelos deveres oficiais, pelos teus deveres particulares, pelos teus deveres quotidianos, pelo sono? Mede a duração da sua vida: não cabe lá muita coisa.”
Se os estudos liberais não tornam os homens virtuosos, não conduz a alma humana à sua plenitude, por que deveríamos então, nos instruir em tais estudos?
Para responder esta questão, devemos ter em mente que o que está em jogo aqui, é a téchné como possibilidade de formação moral; Sêneca, enquanto filósofo estóico, está olhando noutra perspectiva, isto é, está voltado para a dimensão moral, e não vê aí qualquer utilidade dos estudos liberais.  Ainda que a arte liberal não possibilite ao homem o aprendizado da virtude, sequer o torna melhor enquanto humano, é importante em outros aspectos, máxime nas artes manuais (fabricação de objetos para uso cotidiano).
 “Queres saber o que eu penso das “artes liberais”: não admiro, nem incluo entre os bens autênticos um estudo que tenha por fim o lucro.”

Créditos/Obras consultadas:
HEIDEGGER, M. Platão: O Sofista. Trad. M. A. Casanova. Forense Universitária. Rio de Janeiro, 2012.
PRIETO, M. H et al., Índices de Nomes Próprios Gregos e Latinos, Lisboa: Fund. Calouste Gulbenkian,1995.
PETERS, F. E., Termos Filosóficos Gregos. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1977.
SÊNECA, L. A., Cartas a Lucílio. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2009.