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Pansophia

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terça-feira, 5 de maio de 2020

Pós-pandemia – uma possibilidade de mudança.

por Leandro Morena

“O segredo da mudança é concentrar toda a sua energia, não na luta contra o velho, mas na 
construção do novo”.
                                                                                                  Sócrates
  


Os seres humanos acham-se capazes de tudo, endeusaram-se a ponto de acreditarem que poderão, um dia, vencer a morte. O egocentrismo, o individualismo, o consumismo desenfreado, a promiscuidade, as atrocidades para com os outros da mesma espécie, ou com a natureza animal e vegetal, a corrupção na política, a degradação da vida humana e o fanatismo religioso são algumas ações que observamos no nosso cotidiano. Muitas pessoas estão afirmando que pós-pandemia haver-se-ão grandes mudanças na forma de agir e de pensar da sociedade humana. Alegam esses, que o mundo em que vivíamos não será mais igual. Agora, a dúvida que fica é se realmente a sociedade humana vai esforçar-se para uma mudança? Vale lembrar que no final dos anos 90 do século 21 essa discussão ficou em pauta. Muitos alegavam que a humanidade caminharia para uma nova fase em que aconteceriam grandes mudanças no pensamento e nas ações de cada nação, a fome mundial seria reprimida, ter-se-ia mais tolerância entre os povos, respeitar-se-iam a opção sexual, religiosa e política de cada indivíduo, o respeito à natureza seriam uma condição  obrigatória para o planeta e muitas outras coisas, ou seja, seria algo de imaginável.  Na primeira década do século 21, observamos o crescimento desenfreado do terrorismo, do fanatismo religioso expandindo-se, o xenofobismo, o racismo, o especismo, o sexismo, o machismo, o homofobismo, o feminicídio, as guerras, a fome, a corrupção e etc.  Na segunda década do século 21 continuou-se isso, houve um retrocesso na política mundial onde políticos com pensamentos retrógrados elegeram-se. O que houve de mudanças para o lado positivo? Infelizmente os que alegavam isso erraram. Voltando à questão da mudança depois da pandemia, não se pode ficar eufórico que as  tais mudanças positivas hão de vir. Sem dúvida alguns milhões de seres humanos relutarão pela mesmice da vida anterior à pandemia.
 Outro fato que merece destaque é a alegação das teorias conspiratórias. Existem relatos que afirmam que a China fabricou o vírus para beneficiar-se mundialmente, outros, por sua vez, afirmam que isso é combinado com os governantes para a diminuição da população mundial. O vírus que está aí jamais seria criado em laboratório como alguns estão alegando, pois o ser humano, por mais que use sua inteligência, por mais que tenha um QI amplamente desenvolvido, não teria a capacidade científica para desenvolver um vírus desse tipo que aí está. Esse vírus adapta-se facilmente ao ambiente, atacando  pessoas que passam a ser assintomáticas, ou seja, tem o vírus mas não sentem-se mal e espalham-no  para outros sem que percebam; noutros atacam as vias respiratórias prejudicando os pulmões, noutros os rins, noutros o sistema nervoso; uns recuperam-se mais rápidos, outros mais lentamente, outros vão a óbito. Cada caso é um caso, por isso que está difícil de reprimi-lo. Esse vírus não faz distinção de raça, cor, sexo, ideologia política e religiosa, níveis sociais. O mesmo teve a capacidade de colocar a humanidade numa quarentena radical, de interferir na economia mundial, de interferir no cancelamento de milhares de eventos. Essa condição atípica fez com que refletíssemos mais,  mostrando-nos as famílias reunidas em casa novamente, onde pais e filhos poderão entrelaçar-se, a volta da solidariedade para com os outros. Em alguns países notam-se a queda brusca da poluição do ar e da poluição sonora, as pessoas revendo conceitos. Israelenses e Palestinos deixaram seus problemas de conflito de lado e ajuntaram-se no combate ao vírus, coisa que as grandes potências não conseguiram fazê-los unirem-se. Hoje as pessoas com o poder aquisitivo alto não conseguem fugir desse vírus, pois o mesmo está em todos os lugares. Atores, jogadores, cantores, empresários entre outros, dar-se-ão conta que a ausência do público que os idolatra é um fator importante, eles terão dificuldades, naufragarão juntos com a crise e com os pobres, pois muitos desses citados, não generalizando, são arrogantes com os fãs que lhe dão fama ou empregados que lhe dão a riqueza, acham-se entidades divinas. Realmente esperemos que uma grande mudança aconteça, embora, eu tenha relatado acima o que foi dito no passado por muitos e não foi concretizado. A pergunta que fica é se realmente haverá mudanças? E se houver mudanças serão para um progresso ou para um retrocesso?
Por décadas grandes potências mundiais colocaram medo e insegurança no planeta. Na guerra fria ameaçavam-se detonar ogivas nucleares ou usar armas químicas e diálogo ríspido para alavancar uma guerra. Em particular, os Estados Unidos colecionam esse “bate boca” e muitas vezes não ficou só no campo verbal, infelizmente. Os estadunidenses sempre passaram uma imagem mundial de invencíveis, intocáveis, semideuses, através de seus governantes ou do próprio cinema, mostram-nos que é uma potência poderosa, com grande poderio bélico que pode acabar com o mundo em cinco minutos, um poderio logístico e inteligentíssimo. A justiça estadunidense, desembargadores, juízes, policiais são sinônimos de super-heróis indestrutíveis e assim por diante. Os Estados Unidos e as grandes potências bélicas esqueceram-se de que existe um inimigo frio, calculista e invisível. O vírus da Covid-19 na verdade  é um “soldado”, que com sua pequenez, mostra-se que pode agir e ser um “gigante” devastador que pode acabar com a sociedade humana em questões de meses. O vírus espalhou-se pelo mundo. Os Estados Unidos investiram milhões de dólares no combate ao terrorismo e no combate à imigração ilegal e o vírus chegou lá. Derrubou fronteiras, espalhou-se, atrapalhou a economia estadunidense e mundial, atrapalhou a reeleição do presidente em exercício, e infectou quase dois milhões de estadunidenses e levou, infelizmente, à morte de quase setenta mil pessoas. Caro leitor, eu quero que fique bem nítido que a minha pretensão aqui não é ficar satisfeito com o caos que está sendo gerado nos Estados Unidos e no mundo, mas sim um alerta para mostrar que perante a natureza os seres humanos são frágeis. Os pensadores da Grécia antiga colocaram-nos na Physis (Φύσις), isto é, fazemos parte da natureza. Não há povo melhor que o outro povo, somos todos iguais. Existe sim a desigualdade gerada por políticas tirânicas, desinteressadas e corruptas.  
Percebemos que com a quarentena expandindo-se muitos não aguentam mais, e por isso seria de bom grado que nesse período catastrófico refletíssemos e começássemos elaborar nossas dúvidas e opiniões e com isso “caíssemos” na maiêutica socrática que é justamente expor nossas dúvidas e ao mesmo tempo elaborar nossas ideias e expondo-as na situação em que hoje vivemos, usamo-la para hoje e para sempre. O grande filósofo grego Sócrates (469 a.C.-399 a.C.), há mais de dois mil e quatrocentos anos, ensinou-nos essa arte maravilhosa. Então filosofemos durante a quarentena. Como dizia o filósofo francês René Descartes (1596-1650): “Eu penso, logo existo”. Hoje em dia as pessoas não pensam e apenas existem. Usemos o método dialético sem refutar o outro e que haja um consenso, um debate sadio sem que coloquemos a nossa verdade como absoluta.
Por fim, o que foi citado no começo do texto, de que haverá uma melhora na sociedade humana, esperemos o resultado. E que um dia, as pessoas da nova geração, que hão de vir, ao folhearem um livro de história e ao deparar-se com o capítulo da Covid-19, possam observar que naquele período de incertezas, sofrimento e óbitos houve um lado positivo, de que pós-pandemia a sociedade humana tenha melhorado em muitos aspectos e que acontecera um progresso e que esses mesmos que estão lendo sejam o fruto desse progresso.
O blog Pansophia dá os sinceros sentimentos para todas as pessoas que perderam seus entes queridos nessa trágica, catastrófica e tétrica pandemia.

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