por Osvaldo Duarte
Sêneca, diante da indigência vocabular romana, confessa a sua dificuldade em apreender em latim “o ser” como conceito, restando-lhe apenas o verbo (aquilo que é), assim diz ele:
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“(...) Maior será a tua condenação da pobreza vocabular romana quando souberes que é uma única sílaba aquilo que não consigo traduzir to on (“o ser”). Posso parecer-te homem de fraco engenho: há um recurso imediato, posso verter esse conceito pela expressão quod est (“aquilo que é”). Mas é evidente a diferença entre as duas: sou obrigado a usar um verbo em vez de um nome. A necessidade obriga, porém, a dizer “aquilo que é”!
Para Sêneca, nesta carta 58, Platão servia-se de seis sentidos distintos para designar “o ser”:
1º - “O ser” – Pensável: O que não pode ser captado pelos sentidos.
2º - “O ser” – Por excelência: deus – O maior e mais poderoso de todos.
3º - “O ser” – Ideias: O modelo eterno de tudo que existe na natureza.
4º - “O ser” – Eidos: A forma deduzida do modelo.
5º - “O ser” – Existente: Homens, animais, plantas, objetos.
6º - “O ser” – Simulacro da existência: Vazio, tempo.
O Ser:
“O que vamos procurar em primeiro lugar é aquele gênero primeiro do qual derivam todas as espécies, do qual se origina toda a divisão, no qual tudo está compreendido”.
Para explicar “o ser”, valendo-se do conceito aristotélico, o nosso filósofo começa pela definição de espécie e, depois, procura definir o que é gênero.
Espécie: Homem, cavalo, cão.
Gênero: Elemento comum à espécie, no caso acima, Animal.
Mas há também, seres que têm vida sem serem animais, por exemplo, as plantas e as árvores; portanto, existe um gênero superior que é o Animado. Ainda assim, há seres que carecem de vida, como as pedras, cujo gênero é Inanimado.
Com efeito, para o autor da carta, existe um gênero acima dos quais possuem corpos, pois dizemos que algumas coisas são corpóreas e outras incorpóreas, esse gênero primitivo é o que se denomina de forma inadequada: aquilo que é (= o ser). Assim, Sêneca define o gênero mais primitivo, o geral, do qual todas as espécies derivam.
Para facilitar a compreensão do que foi dito acima, mostraremos logo mais, através de diagrama, como Sêneca explica o que é “o ser”.
Créditos:
SÊNECA, Cartas Consolatórias, tradução Cleonice Furtado Mendonça Van Raij, Rio de Janeiro, Pontes, 1992.