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Pansophia

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domingo, 30 de dezembro de 2012

Carta 58 – Do Ser – Sêneca – 4-65 d.C.

por  Osvaldo Duarte
 
Sêneca, diante da indigência vocabular romana, confessa a sua dificuldade em apreender em latim “o ser” como conceito, restando-lhe apenas o verbo (aquilo que é), assim diz ele:
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“(...) Maior será a tua condenação da pobreza vocabular romana quando souberes que é uma única sílaba aquilo que não consigo traduzir to on (“o ser”). Posso parecer-te homem de fraco engenho: há um recurso imediato, posso verter esse conceito pela expressão quod est (“aquilo que é”). Mas é evidente a diferença entre as duas: sou obrigado a usar um verbo em vez de um nome. A necessidade obriga, porém, a dizer “aquilo que é”!
 
Para Sêneca, nesta carta 58, Platão servia-se de seis sentidos distintos para designar “o ser”:
 
1º - “O ser” – Pensável: O que não pode ser captado pelos sentidos.
2º - “O ser” – Por excelência: deus – O maior e mais poderoso de todos.
3º - “O ser” – Ideias: O modelo eterno de tudo que existe na natureza.
4º - “O ser” – Eidos: A forma deduzida do modelo.
5º - “O ser” – Existente: Homens, animais, plantas, objetos.
6º - “O ser” – Simulacro da existência: Vazio, tempo.
 
O Ser:
 
“O que vamos procurar em primeiro lugar é aquele gênero primeiro do qual derivam todas as espécies, do qual se origina toda a divisão, no qual tudo está compreendido”.
 
Para explicar “o ser”, valendo-se do conceito aristotélico, o nosso filósofo começa pela definição de espécie e, depois, procura definir o que é gênero.
 
Espécie: Homem, cavalo, cão.
Gênero: Elemento comum à espécie, no caso acima, Animal.
 
Mas há também, seres que têm vida sem serem animais, por exemplo, as plantas e as árvores; portanto, existe um gênero superior que é o Animado. Ainda assim, há seres que carecem de vida, como as pedras, cujo gênero é Inanimado.
 
Com efeito, para o autor da carta, existe um gênero acima dos quais possuem corpos, pois dizemos que algumas coisas são corpóreas e outras incorpóreas, esse gênero primitivo é o que se denomina de forma inadequada: aquilo que é (= o ser). Assim, Sêneca define o gênero mais primitivo, o geral, do qual todas as espécies derivam.
 
Para facilitar a compreensão do que foi dito acima, mostraremos logo mais, através de diagrama, como Sêneca explica o que é “o ser”.
 
 
Créditos:
 
SÊNECA, Cartas Consolatórias, tradução Cleonice Furtado Mendonça Van Raij, Rio de Janeiro, Pontes, 1992.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Carta 58 – Da indigência vocabular – Sêneca – 4 – 65 d.C.

 

por Osvaldo Duarte

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Sêneca, na carta 58, comenta a indigência vocabular à sua época. Com efeito, como se não bastasse a pobreza vocabular - que seria a falta de um vocábulo adequado, muitas palavras caíram em desuso pelo requinte.

Carta 58 (excerto):

“Até que ponto é grande a nossa pobreza, direi mesmo a nossa indigência vocabular, nunca o tinha compreendido tão bem como hoje. Estávamos falando casualmente de Platão: mil noções se nos depararam carentes, mas desprovidas, de um vocábulo apropriado; em contrapartida há muitas outras que tiveram nome, caído em desuso devido ao nosso gosto requintado. Ora, ter gosto requintado no meio da indigência é algo insuportável.”

Créditos

SÊNECA, L. A., Cartas a Lucílio. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2009.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Fontes da História da Filosofia – Eudoro de Sousa - 1911-1987



por Osvaldo Duarte

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Dialogar com os antigos é por si mesmo, uma tarefa árdua. Mesmo sendo herdeiros da cultura ocidental, ao debruçarmos sobre uma boa tradução de algum texto grego, a dificuldade que se impõe de imediato é capturar o frescor do seu espírito. Por espírito pretendemos dizer o que cada palavra traduzida conserva do seu significado original ou o próprio texto como um todo. Oxalá pudéssemos ler todos os textos gregos no seu original; diante de tal impossibilidade, contamos com o excelente trabalho de tradução dos textos diretamente do grego de alguns estudiosos.

Num dos exemplares da Revista Brasileira de Filosofia, o professor Eudoro de Sousa, escreveu um artigo sobre a importância das obras serem lidas em grego ou em nossa língua, assim comentou o mestre:

“Aliás, as obras dos filósofos gregos têm de ser lidas por nós, em grego ou em português, porque, in nuce, o idioma é cultura vivente. Não o ignoram os povos que mais ativamente contribuíram para a formação e desenvolvimento da chamada civilização ocidental; e, por isso, não desdenharam muitos dos seus mais ilustres representantes, do ingrato mister de traduzir os “clássicos” da filosofia. Se, por conseguinte, alguma razão nos assiste, a nós, portugueses e brasileiros, para não renunciar ao papel que por ventura nos foi distribuído neste drama da cultura, cujo prólogo, ou ato primeiro, há mais de vinte sáculos subiu à cena no tablado grego, - tenhamo-lo por certo: não é um texto intermediário, francês, inglês, italiano ou alemão, que os escritos dos grandes pensadores da Hélade deverão ser lidos em nossas escolas.”


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Créditos:

Revista Brasileira de Filosofia, Vol. IV – Instituto Brasileiro de Filosofia - SP-1954.

domingo, 9 de dezembro de 2012

Montaigne contra a crueldade para com os animais

por Leandro Morena

clip_image002O filósofo francês Michel de Montaigne (1533-1592) mostrou-se preocupado com a questão do sofrimento animal, em uma época que estava consolidada a ideia da superioridade do homem perante toda a natureza.
clip_image004 Montaigne rompeu com esse pensamento especista, pensamento este que estava enraizado nas “veias” da filosofia antiga e medieval. Numa determinada passagem da sua obra Ensaios, o filósofo afirmou ser contra o sofrimento animal. Segundo ele, nunca pôde ver uma caça a um animal, pois acreditava ser isso um ato de maldade, pois o indefeso animal não tem como se defender do caçador, e o mesmo fica encurralado e não tem para onde fugir e, esse animal caçado, além de esgotado pela tentativa de fuga, fica com os olhos cheios de lágrimas como se estivesse “pedindo” clemência ao seu “carrasco”. Para Montaigne, ao invés das pessoas ficarem alegres em ver os animais soltos brincarem, elas preferiam vê-los capturados e lutando até a morte.
O pensador afirma com toda a convicção que as pessoas que cometem crueldades com os animais estão mais propensas cometê-las com o próprio ser humano. O pensador cita os espetáculos carniceiros que aconteciam em Roma, lugar este onde foi muito comum a matança de animais. Depois que o povo romano acostumou-se com esse tipo de espetáculo cuja natureza é demasiada crudelíssima, esses espetáculos passariam para lutas de homens e gladiadores.
clip_image006E temos muitos exemplos do mundo contemporâneo que mostram que os espetáculos de crueldade contra os animais causam grande euforia no publico, citando os mais conhecidos: as touradas, a farra do boi, a briga de galos e cachorros e a caça esportiva.
Infelizmente, o pensamento de Montaigne nessa questão não surtiu efeito. Com o advento do mecanicismo cartesiano que viria fundamentar-se na filosofia moderna e colocara em ascensão a experimentação animal, ideologia essa de caráter reducionista especista, fez com que se diminuísse mais ainda a preocupação para com os animais, colocando-os como máquinas frias, que não pensam, não sofrem dor e não são dignas de compaixão.

Créditos
Montaigne, Michel. Ensaios. Os Pensadores. 2.ed. Tradução: Sérgio Milliet. São Paulo, Abril Cultural, 1980.
Foto Montaigne: http://filosofia-j23.blogspot.com.br/2012/07/filosofia-para-o-dia-dia-montaigne-e.html
Foto tourada: http://no220.wordpress.com/2011/09/23