O abate humanitário foi criado para atender as exigências contra aos maus tratos com os animais. Esse projeto visa o bem-estar animal. A função do abate humanitário é tomar o cuidado para que os animais que são criados em abatedouros não passem estresse e tenham uma morte indolor, sejam levados para o abate sem que percebam, e que não vivam em condições precárias. Um dos pontos cruciais disso é que o comportamento natural dos animais vai ser respeitado. Em todas as fases do processo, desde o transporte e a chegada do animal no abatedouro até o abate, eles serão tratados de uma maneira mais dócil e não percebam quando encaminhados para o abate. Os funcionários passarão por cursos que ensinam esse processo que visará o bem do animal.
Segundo o filósofo Peter Singer, nos países desenvolvidos que aderiu ao abate humanitário, o animal sofre bem menos, pois a morte é rápida e sem dor. Nesse procedimento os animais são atordoados por uma corrente elétrica ou uma pistola pneumática e são abatidos enquanto estão inconscientes. Hoje o mercado europeu é um dos mais exigentes na questão do abate humanitário. Os EUA aderiram a essa técnica, mas eles deixam bem claro que o animal abatido de forma arcaica, a carne não fica tão saborosa como a carne do animal que é abatido no método indolor; eles não estão preocupados com os animais, mas sim com o sabor da carne.
Sabemos que na sociedade humana existem falhas em todas as esferas, e é claro, não poderia deixar de existirem falhas no abate humanitário. Os pontos que Singer vê falhas são: o custo. Um frigorífico que queira adotar esse método, as instalações são muito caras, para muitos donos não vale a pena. Outro problema é a questão religiosa: algumas religiões não aceitam que o animal esteja inconsciente quando vai ser abatido, pois a tradição afirma que o animal esteja vivo enquanto agoniza com a garganta dilacerada, somente assim pode-se ingerir a carne.
Para o filósofo norte americano Tom Regan, esse sistema gera muitas falhas: entre elas está: muitos dos que trabalham no abatedouro não sabem que existe o abate humanitário; não se exige que os fiscais sejam obrigados a visitar o abatedouro; os corruptos, que farão “vistas grossas” em troca de “presentes”; os fiscais que queiram cumprir à lei sempre sofrerão pressão ou agressões para que se intimidem e descumpram a lei.
Eu acredito que o termo “abate humanitário” soa mais como um disfarce para que não gere um impacto na sociedade. É a mesma coisa que ver um mendigo e afirmar: “é morador de rua.” O significado da palavra rua é: via de acesso numa povoação; ora, não significa moradia, quem vive na rua é porque não tem moradia. A sociedade contemporânea criou essa expressão “morador de rua” simplesmente para minimizar o que realmente é um mendigo: uma pessoa que não tem onde morar e, infelizmente, não tem o que esperar da vida. O termo abate humanitário faz com que o cidadão imagine que os animais vão ter uma vida feliz e vão alegres para o abate, sabemos que não funciona assim.
Ou bem ou mal, o abate humanitário está sendo aderido por várias nações, entre elas o Brasil, que no ano de 2010 o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou o termo que aderiu ao sistema do Abate Humanitário (Programa Nacional de Abate Humanitário – STEPS). Aqui ainda é um processo embrionário, mas o importante é que já se deu o primeiro passo, pois se uma nação que quer caminhar para o primeiro mundo, tem que mostrar preocupação também com as outras espécies. Isso mostra que a sociedade humana está se preocupando mais com as outras espécies, até nesses animais que vão para o abate, sendo que anos atrás, nem se falava da questão dos abatedouros.
A meu ver, existe um ponto que tem que exigir das pessoas que vão fiscalizar os abatedouros: é que os fiscais sejam pessoas de ONGs que defendam os animais, pois o que adianta colocar um fiscal que não goste de animais ou nunca teve preocupação com essa causa? É lógico que com um fiscal assim nunca a lei será cumprida. Já um fiscal que tenha o quesito acima, será mais qualificado para essa questão, e não ficará tímido em denunciar os erros dos abatedouros. Mas para isso é preciso reunir os políticos, o poder judiciário e os ativistas de ONGs, até que cheguem a um acordo, para que seja determinada uma lei rigorosa para punir quem descumpri-la.
O importante é que a sociedade e a filosofia estão cada vez mais se preocupando com a causa dos animais que vão para o abate. O Abate humanitário está aí e a tendência é cada vez mais aprimorá-lo.
Créditos
REGAN, Tom. Jaulas Vazias. Editora Lugano, Porto Alegre, 2006;SINGER, Peter. Libertação Animal, Editora Lugano, São Paulo, 2008;
Figura 1: Suínos: http://www.agrolink.com.br
Figura 2: Bovinos: http://www.guiamedianeira.com.br
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