Drag and drop a picture here or Double click to open a picture

Pansophia

Pansophia

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

O pensamento de São Justino (100-165)

 

por Leandro Morena

 

justo

Justino nasceu em Flávia Nápoles, hoje Nablus no ano de 100. Sua educação abrangeu história , poesia e retórica. Na fase adulta debruçou-se nos estudos da filosofia, principalmente nas correntes do estoicismo e platonismo. Em sua trajetória, encontrou um homem erudito chamado Trifão que colocou para ele discussões filosóficas, numa destas discussões, Trifão apresentou-lhe a vida de Jesus e comentou que os profetas apareceram antes dos filósofos, e que esses profetas profetizaram a vinda de Cristo cumprindo a mesma. Nesse momento, Justino viu-se tomado pela vida de Cristo, convertendo-se nessa ideologia no ano de 133, causando-lhe um carisma muito forte pelos profetas e por Cristo. Justino começou a afirmar que essa era a única filosofia segura de grande utilidade. Nota-se que Justino é um dos primeiros que começam defender a religião cristã. Como filósofo deu aulas em Éfeso e em Roma seguindo esse mesmo pensamento. Escreveu as obras: Apologias, que foram duas, e o Diálogo com Trifão que conta a sua própria experiência de vida citada acima.

Na sua obra apologética, ele insiste em afirmar que Jesus Cristo é o Logos que todos os filósofos, anteriores a ele, mencionaram. Justino afirma que todos os que vivenciam conforme o Logos são cristãos, e desse modo não ficam a mercê de sofrerem o medo e as perturbações. Para ele o Logos seria o próprio Cristo encarnado. Justino afirmara que o Logos contribui com a razão humana, pois para que toda pessoa criada como ser racional, tem a probabilidade de perceber a luz da verdade, antes mesmo das mesmas serem reveladas pelo Verbo encarnado. Aqui percebemos que o homem começa separar-se da Physis (Φύσις) e se começa criar um individualismo perante a natureza, gerando o alicerce que vai sustentá-lo como o ser supremo que a natureza concebeu, a ponto do mesmo criar deus à sua imagem. Para ele, o cristianismo unido à filosofia (fé mais razão) foi o elemento crucial que faltava para que ele pudesse encontrar verdades que antes eram impossíveis de conhecê-las.

Justino mostrou-se convencido de que a filosofia grega tinha a finalidade de ser útil para com a ideologia cristã, pois cristãos poderiam usá-las com confiança, principalmente a filosofia platônica que foi o sustentáculo para criar as bases de fortalecimento para o cristianismo difundir-se e servi-la como modelo para outros intelectuais, cito o Agostinho de Hipona (354-430), que quase trezentos anos depois de Justino, seguiu os passos do pensamento deste e “cristianizou” a filosofia Platônica inserindo-a na ideologia cristã. Outro pensador que foi pela mesma trajetória, mas foi por uma outra corrente filosófica da Grécia Antiga, foi Tomás de Aquino (1225-1274), inseriu na filosofia aristotélica a ideologia cristã.

Justino também começou fazer duras críticas, na primeira apologia, a religião pagã, afirmando ser esta uma religião baseada em mitos, falsos deuses e diabólica, criando assim o processo “embrionário” da queda do paganismo e a ascensão do cristianismo, e mais uma vez, servindo como base para o pensamento de Agostinho que veio escrever a obra: A Cidade de Deus contra os pagãos, demonstrando vários argumentos e críticas a religião pagã e afirmando ser o cristianismo a única religião verdadeira.

 

cris

 

A paixão de Justino pelo cristianismo foi tão forte, que foi esta mesma ideologia a causa da sua morte, pois no ano de 165 por não querer negar a Cristo foi decapitado e, em seguida, foi alcunhado como mártir.

Percebemos que a convicção de Justino em adotar a ideologia Cristã como a única verdade foi à fagulha para alavancá-la e deixá-la como o principal pensamento intelectual nas universidades medievais naquela época, fazendo com que essa corrente ficasse no auge por quase 15 séculos.

 

Obras consultadas:

AN STEENBERGHEN, Fernand. História da Filosofia: Período Cristão. Trad. J. M. Da Cruz Pontes. Lisboa, Gradiva, 19??

McGRADE, A.S. Filosofia Medieval. Tradução: André Oídes. São Paulo, Ed. Ideias e Letras 2º ed., 2008.

SPINELLI, Miguel. Helenização e Recriação de Sentidos. A Filosofia na época da expansão do Cristianismo – Séculos II, III e IV. Caxias do Sul, Ed. EDUCS - 2º ed, 2015.

terça-feira, 3 de maio de 2016

O Conselho de Platão e o Brasil

 

por Osvaldo Duarte

“O Estado que fala a sua própria linguagem, para com os deuses e os homens e age de acordo com essa linguagem, prospera sempre e conserva-se, mas emita ele uma outra e perecerá.”

 

Embora não se tenha chegado ainda a um comum acordo sobre a autenticidade da quinta carta de Platão, é certo que esta epístola figura no Corpus Platonicum e, possivelmente, temos aí, um dos textos mais tardio de Platão.

Esta missiva tem como destinatário, Perdicas, um general macedônio. Trata-se de uma carta breve, curta, que mostra de maneira implícita, ao menos sob o nosso ponto de vista, duas questões, a saber, do engajamento do filósofo como conselheiro político e do papel da filosofia. A sua possível apocrifia, não suprime a riqueza e tampouco a possibilidade de nos levar a uma reflexão sobre qualquer sistema de governo.

Platão se propõe a dar um conselho, mas não um conselho qualquer, sem importância, mas um hieran simboulen – conselho sagrado, tal é a importância que o velho Mestre dá à Política.

Cada forma de governo, cada politeía, tem a sua própria phonê por natureza, assim como se dá com certos animais, tanto a democracia, como a oligarquia, a monarquia ou a aristocracia, tem a sua própria voz, a linguagem que lhe é única por natureza.

Se cada politeía, isto é, se cada Constituição nas suas diferentes formas de governo tem a sua própria phonê, é necessário que o governante a descubra e fale de acordo com a própria essência da sua politeía.

Isto não é tarefa fácil, adverte Platão à sua época - embora muitas pessoas pensassem distinguir as diferentes phonês, com raríssimas exceções, estavam longe de compreendê-las.

Ao comparar a politeía a um “animal”, podemos por analogia, dizer que é necessário que se compreenda os desejos e a cólera dos cidadãos e, somente assim, o governante conseguirá conduzi-los.

 

 Na República, ao fazer críticas aos Sofistas, Platão também cita o “animal”.

 

clip_image002

 

Mas não basta falar a mesma phonê da politeía, é necessário que o governante paute suas ações de acordo com ela. Se a conduta do governante for de acordo com a linguagem, a politeía prosperará.

Se a politeía imitar a phonê de outra politeía ou adotar uma linguagem que lhe seja estranha, perecerá.

Se o conselho político de Platão nos servir, nós que defendemos no momento a tal pujante democracia brasileira sem atentarmos para a linguagem do governo, corremos sério risco de fazer apologia a um mero simulacro!

 

 

Créditos/Obras consultadas:

FOUCAULT, Michel. O governo de si e dos outros. Trad. Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2010.

PLATÃO. A República. Trad. Maria Helena da Rocha Pereira. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1993.

PLATÃO. Diálogos, Fedro, Cartas, Alcebíades Vol. V. Trad. C. A. Nunes. Pará: Universidade Federal do Pará, 1975.

PLATÃO. Cartas, Trad. Conceição Gomes da Silva e Maria Adozinda Melo. Lisboa: Editorial Estampa, 1989.

sábado, 2 de abril de 2016

Filosofia Medieval: SANTO ISIDORO (560-636)

 

por Leandro Morena

image

Isidoro de Sevilha foi um filósofo que contribuiu em muito para a cultura de seu tempo. Soma-se a seus feitos, fundações de escolas em muitas igrejas. A obra que o fez entrar para a história foi: Etymologiae (As Etimologias). Essa obra trata-se de uma magnífica enciclopédia, composta por vinte livros, que engloba muitos fragmentos do saber antigo (limageivros antigos), ele estava à frente de seu tempo. Se não fosse a persistência de Isidoro em elaborar esse verdadeiro compêndio, muitos escritos da antiguidade teriam sido perdidos. O conteúdo da enciclopédia abrange as sete artes liberais: Trivium (lógica, gramática e retórica, Quadrivium (aritmética, música, geometria e astronomia), além do Direito, da Medicina e da História. Também foi precursor de que as obras do filósofo grego Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.) e outros intelectuais gregos não caíssem no esquecimento do povo europeu. A obra Etymologiae expandiu-se por toda a Espanha e conseguiu derrubar fronteiras, expandindo-se pela Europa. Essa obra tornou-se obrigatória nas bibliotecas medievais e criou um novo conceito para a criação de novas enciclopédias. A obra foi tão popular que estendeu-se até o período da Renascença. Isidoro é considerado por alguns como uma das pessoas de maior erudição naquela época , principalmente pelo fato de ter desenvolvido a educação na Idade Média.

Algumas curiosidades da vida de Isidoro são:

Ele foi bispo de Sevilha por trinta e dois anos até a sua morte. Ele criou um decreto que obrigava de que todos os bispos criassem seminários nas escolas de suas cidades, e o método de ensino usado foi o mesmo da Catedral de Sevilha onde ele próprio estudou. Ele apresentou aos alunos de Sevilha as obras de Aristóteles.

Isidoro foi canonizado santo pelo papa Clemente VIII (1536 - 1605) no ano de 1598 e ganhou no ano 1722 o título de doutor da Igreja.

Seu irmão mais velho Leandro, sua irmã Florentina e seu irmão mais novo Fulgêncio, também foram canonizados santos da igreja católica.

Em 1997 ele foi considerado, pelo papa em exercício, o padroeiro da internet, técnicos de computação, estudantes e usuários de computador.

Em 15 de janeiro de 2001 foi criado e lançado na internet o site Wikipédia, a enciclopédia livre, que hoje abrange um dos maiores conteúdos para pesquisar e que é acessado por milhões de pessoas pelo mundo, conectados nas redes. E de pensar que mil e trezentos anos antes do nascimento dessa enciclopédia digital, Isidoro já tinha criado uma enciclopédia com todo o conhecimento humano que se sabia naquela época e foi usada por quase mil anos pelos estudantes, graças a ele o conhecimento antigo chegou até os dias de hoje e ultrapassarão as barreiras do tempo.

Créditos e obras que foram consultadas:

FONTANA, Dino. História da filosofia, psicologia e lógica. São Paulo, Saraiva, 1969.

VAN STEENBERGHEN, Fernand. História da Filosofia: Período Cristão. Trad. J. M. Da Cruz Pontes. Lisboa, Gradiva, 19??

sábado, 27 de fevereiro de 2016

Umberto Eco (1932-2016)

In Memoriam

 

Umberto Eco (1932-2016)

                                                        clip_image001

Faleceu no último dia 19 o filósofo, escritor, semiólogo, linguista italiano Umberto Eco. Eco é considerado como um dos maiores intelectuais da contemporaneidade.  Eco ingressou na Universidade de Turim cursando filosofia. No início da carreira filosófica, Eco dedicou-se no estudo da  estética medieval  com ênfase nos estudos dos textos do filósofo Tomás de Aquino(1225-1274) no qual foi o tema de sua tese formando-se em 1956. Eco afirmou que foi na faculdade que deixou de acreditar em Deus tornando-se ateu. Na metade da década de 50 começa a trabalhar na rede de TV RAI. Na década de 60 lança “ Apocalípticos e Integrados” no qual faz uma análise dos meios de comunicação e a cultura de massa. Possuía em sua casa uma biblioteca com mais de trinta mil títulos. Em 1971 começa a lecionar na Universidade de Bolonha Em 1975 publica a obra:  Tratado Geral da Semiótica. Em 1980 lança a obra : Em Nome da Rosa que lhe rendeu fama internacional e milhões de cópias vendidas, sendo traduzida em mais de trinta idiomas, tornando-se um best-seller internacional muito elogiado pela crítica. Essa obra lhe rendeu no ano seguinte dois prêmios: Prêmio Médicis Estrangeiro e o Prêmio Strega. Em 1986 O Nome da Rosa vai para as telas do cinema, sendo um grande campeão de bilheteria. Foi perguntado a Eco sobre o que ele achou do sucesso do Em Nome da Rosa, Eco respondeu que preferiria que o seu livro de sucesso fosse o último de sua carreira e não um dos primeiros, pois sendo um dos primeiros, os leitores se lembrariam dele sempre por esse livro. Em 1988 lança a obra: O Pêndulo de Foucault. Na década de 90 funda  o Instituto das Disciplinas de Comunicação, na Universidade de Bolonha. Sua última obra foi  em 2015 de nome:  Número Zero. A humanidade perde um grande intelectual que entrou para a história, mas ao mesmo tempo a humanidade ganhou por ter de herança todas as obras de Eco.

Mais algumas de Eco:

 

A Ilha do Dia Anterior, 1994;

Baudolino, 2000;

A Misteriosa Chama da Rainha Loana, 2004;

O Cemitério de Praga, 2010;

Obra Aberta, 1962;

Diário Mínimo, 1963;

A Definição da Arte, 1968;

Como Se Faz Uma Tese, 1977;

A Memória Vegetal, 1992;

Em que Crêem os que Não Crêem? (com Carlo Maria Martini), 1996;

Cinco Escritos Morais, 1997;

Kant e o Ornitorrinco, 1997;

História da Beleza, 2004;

História da Feiúra, 2007;

História das Terras e Lugares Lendários, 2013.

 

                  

                              clip_image002

Fonte

 

·         Veja , Abril;

 

·         Folha UOL.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Pensamento Tomista: Provas da existência de Deus

 

por  Leandro Morena

 

                                                                   clip_image001

São Tomás de Aquino (1225-1274) foi um dos grandes pensadores da Filosofia Medieval. Foi ele quem adaptou a filosofia aristotélica no pensamento escolástico, fazendo com que acabasse o preconceito de muitas ideologias que repudiavam o aristotelismo que não eram aceitos por outros pensadores escolásticos que tinham como base a filosofia de Santo Agostinho (354-430) que introduziu no pensamento cristão a filosofia platônica. Aquino é considerado um dos maiores comentadores de Aristóteles (384 a.C- 322 a.C.). Dentre suas várias obras, umas com mais dedicação à filosofia e outras dedicada à teologia, destaca-se a obra: Suma Teológica.

 

                  clip_image002

 

No presente artigo destacarei resumidamente os argumentos, a prova da existência de Deus, que Tomás de Aquino elaborou.

A filosofia tomista aponta para cinco vias para provar a existência de Deus, são elas:

Primeira: Movimento: o primeiro motor baseado no pensamento aristotélico. Aqui mostra-nos a existência do movimento no universo;

Segunda: Concatenação das Causas: aqui o filósofo afirma que tudo vai estar sujeito à lei da causa e efeito, pois existe uma série de causas eficientes, mas antes disso existe uma primeira causa que é Deus, pois se não houvesse essa primeira causa, não existiria nenhum efeito;

Terceira: Contingência:  aqui entra a questão do ser e do não ser, pois a geração ou a corrupção nos mostram que existem entes que podem ser ou não ser, houve um tempo que esses entes não foram e um tempo que não existia nada e este não poderia ter sequer chegado a ser. Por isso existe um ser que é necessário, eterno e não contingente e esse ser é Deus;

Quarta: Graus de perfeição: Todas as perfeiçoes exigem graus, esses graus aproximam-se, direta ou indiretamente, das perfeições absolutas. Deve ter um ente altamente perfeito, denominado: ente supremo que é Deus;

Quinta: Ordem Universal: aqui o filósofo afirma que todos os entes se inclinam para uma ordem, inteligência que os conduz, existe um ente inteligente que ordena a natureza impulsiona para o seu fim, este ente inteligente é Deus.

 

Fica muito evidente nas cinco vias o principio de causalidade do pensamento aristotélico. Segundo Fontana, os conceitos de Aquino visa mostrar o quão podemos conhecer a natureza e os atributos de Deus, mas esse conhecimento é imperfeito, ou seja, sabemos que “Deus é”, mas não temos a ideia “o que Deus é”.

 

Créditos/Obra consultada:

 

FONTANA, Dino. História da filosofia, psicologia e lógica. São Paulo, Saraiva, 1969.

domingo, 27 de dezembro de 2015

RACISMO AO EXTREMO



por  Leandro Morena

                                   

Ao longo dos séculos o corpo humano sempre despertou a curiosidade do homem. Na história da medicina, desde a Grécia antiga o médico Hipócrates (460 a.C .-377 a.C.) já debruçava-se para entender a anatomia do corpo humano e dedicava-se aos estudos das epidemias. Foi Hipócrates quem criou o juramento dos médicos que vigora até os dias atuais. O filósofo francês René Descartes (1596-1650) afirmava em seu pensamento de que o corpo humano é uma máquina perfeita e movimenta-se através de engrenagens, além disso, o pensamento cartesiano elaborou alguns escritos de medicina entre eles a descrição da circulação do sangue. Quando a anatomia humana começou intensificar-se, a medicina voltava-se para descobrir a causa das enfermidades. Muitas vezes seres humanos foram colocados a mercê de testes para descobrir vacinas e drogas que poderiam ajudar a combater tais enfermidades. É lógico que leis internacionais obrigaram os cientistas praticar experimentação em seres humanos somente com o consentimento do próprio voluntário, pois uma pesquisa experimental precisa em primeiro lugar ser ética. Diferentemente disso, é um processo criminoso, colocar a vida do indivíduo em risco sem que o próprio saiba do que se trata. Um exemplo criminoso disso foi os experimentos nazistas em seres humanos que levou a mortandade de milhares de vítimas. 




Os voluntários de um determinado experimento têm a compreensão total e uma visão detalhada do que vai ocorrer no processo de experimentação. E o que se leva em conta com o voluntário é que não possua problemas psicológicos, que sejam voluntários não por receberem algum tipo de gratificação ou promessas e que não foram coagidos ou obrigados a exporem-se e tenham a compreensão de que nem sempre a experimentação pode ser benéfica a eles. Muitas vezes esses voluntários são precursores do bom desenvolvimento de uma vacina ou remédio, lembrando muito a corrente filosófica do utilitarismo, que o sacrifício de poucos é necessário para o bem estar da maior parte das pessoas. A medicina deu grandes passos, pois descobriu vacinas que erradicaram epidemias e remédios que ajudaram no controle de doenças fazendo com que o ser humano tenha uma vida melhor e longínqua.
Um exemplo contemporâneo de experimentos em voluntários é a futura vacina contra a dengue que está sendo elaborada no Brasil e muitos voluntários estão cadastrados e já estão participando das pesquisas, tudo sendo seguido com o código de ética e tudo conforme a lei determina. Respeitar as pessoas é baseado no pensamento do filósofo Kant (1724-1804) que afirmara  que o homem é um fim em si mesmo e não um meio.
Infelizmente a experimentação em seres humanos também teve seus abusos na trajetória da história. Como afirma o filósofo Nietzsche (1844-1900): “humanos demasiados humanos” existem pesquisadores que romperam com a conduta ética e passaram a exercer e cometer atos ilícitos e esses demasiados humanos praticaram malefícios contra pessoas inocentes.
Os EUA nunca foi um país modelo a se seguir na questão do racismo, pois até os dias de hoje os noticiários vem mostrando episódios de preconceitos e racismo puro, ou contra afrodescendentes, ou contra latinos, ou contra muçulmanos e por aí vai. E na experimentação com seres humanos, esse país foi alvo de um dos maiores escândalos no campo da medicina.
Mesmo antes de ser descoberta a penicilina, a doença sífilis era tratada com drogas que eram injetadas nos pacientes, essas drogas continham metais pesados o que já não é um bom sinal mesmo aos olhos dos leigos em medicina. Essa droga diminuía a morbidade dos pacientes tratados com ela, mas os médicos observaram que os pacientes tinham muitas complicações, pois os experimentadores achavam que fossem complicações da própria doença, mas com o tempo  começou-se a suspeita de que essas complicações poderiam ser da própria droga  injetada nos doentes.


                

Os pesquisadores para entenderem mais o problema dessa droga, resolveram levantar uma nova pesquisa para entender mais o problema dessa doença. Para tais experimentos, a cidade de Tukesgee, localizada no Estado do Alabama foi à escolhida para a experimentação em seres humanos. Os procedimentos éticos foram esquecidos e o preconceito racial e social falou mais alto. As pessoas escolhidas para essa experimentação eram pessoas do campo e paupérrimas, negros (chamo a atenção do leitor que não usarei aqui o termo afrodescendente e sim negro para que o leitor seja induzido a sentir profundamente como esse episódio foi algo de racismo no mais alto grau) A experiência foi da seguinte maneira:  408 pessoas desse grupo que continham a doença simplesmente não foram tratados e outros 192 pacientes, se é que podemos chamar de pacientes e sim o termo apropriado nessa ocasião é cobaia, que não continham a doença, foram usados como tipo de um controle, para ver se esses não sifilíticos poderiam ficar doentes. Todas essas pessoas não sabiam que iriam fazer parte de um experimento  o que torna o crime de proporções  gravíssimas, pois além de  não saberem que eram apenas  cobaias o que fere a ética médica, o racismo fica bem evidenciado.  Não bastasse todos esses crimes, ainda as pessoas foram enganadas pelos experimentadores, pois esses alegaram a elas de que se tratava de um tratamento especial gratuito, e logicamente na inocência dessas pessoas que já sofriam com o preconceito  do racismo no dia a dia, além do descaso do governo, qualquer ato “benéfico”  que lhes fosse oferecido era bem vindo.
A experimentação, ou a carnificina começou no ano de 1932 e era para durar apenas 9 meses e o objetivo inicial foi observar o andamento da doença, mas não foi assim. Os “pesquisadores”  chegaram a dedução ridícula de que os pacientes não tratados com aquela droga tinham maior índice de morbidade e mortandade do que os pacientes  não sifilíticos, e mesmo depois da descoberta da penicilina em 1947, esses pacientes continuavam sem tratamento, apenas observados e lhes foi negado o tratamento inovador que poderia curar e minimizar o sofrimento deles e ainda eram impedidos de procurar outros tratamentos, pois os experimentadores alegavam as vítimas que estas possuíam “sangue ruim”. No ano de 1954 foi publicado um artigo que reforçava essa descoberta,  que a mortalidade dos pacientes sifilíticos não tratados era bem maior do que os não sifilíticos. Muitos morreram, muitas esposas desses pacientes contraíram a doença e muitas crianças nasceram com a doença. Esses criminosos continuaram com esses testes até o ano de 1972, pois nesse mesmo ano um jovem jornalista denunciou o caso que veio a tona na imprensa.  E depois de 40 anos essas experimentações foram suspensas. O leitor deve perguntar-se como levou 40 anos esses experimentos sem que nenhuma autoridade ou nenhum conselho de medicina no país soubessem desses crimes? Imaginem se o repórter não tivesse denunciado? E terrivelmente essas pesquisas foram financiadas pelo Serviço de Saúde Pública dos EUA o que nos leva a crer que eles sabiam desses crimes. Ao longo dos anos, algumas das vítimas que sobreviveram a essa carnificina e descendentes dos mortos, receberam indenizações e pedido de desculpas do governo, mas esse episódio jamais será apagado da história da medicina que envergonhou as pesquisas cientificas que trabalham seriamente e respeitam a ética em suas pesquisas. Tantas foram as vitimas dessas experimentações que o governo americano viu-se acuado e resolveu criar um serviço de proteção de pesquisa humana e leis mais duras para proteger pessoas que se envolvam em experimentos científicos.
Fica bem nítido aqui o racismo ao extremo, por isso o título do artigo, e o preconceito por serem pessoas pobres. Vou alcunhar esse caso como “O pequeno campo de concentração”, e o pior num país democrático. As pessoas que foram vitimas dessa experimentação passaram da condição de sujeito para a condição de objeto, coisa. Não se levou  em conta que são seres humanos possuidores de razão e de sentimentos que apenas queriam ter o direito de viver bem. Acredito que esse caso soará como algo inédito para muitos dos leitores.

Créditos/ obras Consultadas:

VIEIRA, Sônia e HOSSNE, William Saad. Experimentação com seres humanos. Editora Moderna 2º Ed. São Paulo, 1987;

NOGUEIRA, Salvador. Ciência Proibida. Editora Abril, São Paulo, 2015.

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

René Girard (1923-2015)

por Leandro Morena

 

                                       clip_image001

No último dia 4 faleceu o filósofo, filólogo e historiador francês René Girard. Destacou-se por suas teorias que afirmam que o mimetismo é a causa da violência humana.  Esse conceito afirma que os seres humanos tendem imitar os desejos um dos outros, o que gera uma tensão social. No mundo acadêmico foi alcunhado como o novo Darwin das ciências humanas. Ele lecionou por muitos anos na Universidade de Stanford, tornando-se professor emérito, e foi à própria instituição que deu a nota de falecimento. Pela prestigiosa Academia Francesa (Academia Brasileira de Letras baseou-se nela) é considerado como um dos “40 imortais”. Publicou muitas obras  sendo que a primeira foi Mentira Romântica e Verdade Romanesca publicado no ano de 1961. Por ser adepto e defensor do cristianismo, Girard foi considerado por uns como sendo um filósofo conservador.

Algumas obras do filósofo:

 

·         Violência e o Sagrado, 1972;

·         Coisas Ocultas Desde a Fundação do Mundo, 1978;

·         Rota Antiga dos Homens Perversos, 1985;

·         Anorexia e Desejo Mimético, 2008.

Fonte:

G1

Folha UOL

André Glucksmann (1937-2015)

                                

por Leandro Morenaclip_image001

 

No último dia 10 faleceu o filósofo e ensaísta André Glucksmann. Ele pertencia ao grupo denominado: Novos filósofos. Filho de judeus ashkenazi austríacos, André estudou na École Normale Supérieure de Saint-Cloud. Quando jovem foi adepto do Maoísmo, depois ficou adepto do Atlantismo. Sempre foi considerado como um esquerdista, mas curiosamente apoiou o conservador Nicolas Sarkozy na eleição para presidente, mas a aproximação deste com o presidente da Rússia Vladimir Putin, fez com que o filósofo se distanciasse dele. André seguiu criticando Putin pelo seu autoritarismo. No final da década de 70 conseguiu ajuntar o filósofo Jean-Paul Sartre (1905-1980) que era da esquerda com o filósofo, considerado liberal, Raymond Aron (1905-1983) no qual foi se assistente no final da década de 60. Esse encontro deu-se pelo motivo da campanha a favor das pessoas que fugiam do comunismo no Vietnã. Também na década de 70, André rompe com o marxismo, pois na sua obra, lançada em 1975, denominada A cozinheira e o devorador de homens, faz uma crítica severa ao marxismo afirmado que essa ideologia produz campos de concentração, afirmação essa que gerou muitas críticas dos filósofos que são adeptos do marxismo. Foi um crítico arduo do totalitarismo e grande ativista dos direitos humanos.

Algumas obras do filósofo:

 

·         Os mestres pensadores, 1977;

·         La Troisième Mort de Dieu, 2000;

·         O discurso do ódio, 2004.

Fonte:

·         G1

·         Folha UOL