Pansophia
domingo, 30 de dezembro de 2012
Carta 58 – Do Ser – Sêneca – 4-65 d.C.
segunda-feira, 17 de dezembro de 2012
Carta 58 – Da indigência vocabular – Sêneca – 4 – 65 d.C.
por Osvaldo Duarte
Sêneca, na carta 58, comenta a indigência vocabular à sua época. Com efeito, como se não bastasse a pobreza vocabular - que seria a falta de um vocábulo adequado, muitas palavras caíram em desuso pelo requinte.
Carta 58 (excerto):
“Até que ponto é grande a nossa pobreza, direi mesmo a nossa indigência vocabular, nunca o tinha compreendido tão bem como hoje. Estávamos falando casualmente de Platão: mil noções se nos depararam carentes, mas desprovidas, de um vocábulo apropriado; em contrapartida há muitas outras que tiveram nome, caído em desuso devido ao nosso gosto requintado. Ora, ter gosto requintado no meio da indigência é algo insuportável.”
Créditos
SÊNECA, L. A., Cartas a Lucílio. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2009.
terça-feira, 11 de dezembro de 2012
Fontes da História da Filosofia – Eudoro de Sousa - 1911-1987
domingo, 9 de dezembro de 2012
Montaigne contra a crueldade para com os animais
domingo, 18 de novembro de 2012
O Tempo – (Estóicos) – Cícero 106 - 43 a.C.
por Osvaldo Duarte
De Natura Deorum (Da Natureza dos Deuses), obra dividida em três livros, no segundo livro, Cícero não só recupera a concepção estóica mítica do tempo, como também, a origem natural do mito que ”humaniza” os deuses tornando-se matéria farta aos poetas, difundindo assim, a superstição entre os homens. Segundo Cícero, esta explicação estóica começa com Zenão, sendo seguido por Cleantes e, mais tarde, com Crisipo.
63. (...) Estendeu-se por toda a Grécia a velha ideia de que o Céu* foi castrado por seu filho Saturno, e o próprio Saturno foi amarrado pelo seu filho Júpiter.
64. Existe uma explicação natural para todas estas fábulas ímpias, embora não pouco complexa. (...) Quis-se também identificar Saturno com a entidade que regula o curso e o ciclo do espaço e do tempo. Aliás o deus grego tem esse mesmo nome: Krónos, que é igual a Chrónos, isto é, ‘Intervalo de Tempo’. Chama-se ‘Saturno’ porque saturat (‘come, se alimenta de’) os anos, e imagina-se que ele costumava comer os filhos nascidos dele próprio, porque o tempo devora o curso dos dias e enche-se insaciavelmente dos anos que passam. Foi amarrado por Júpiter para que assim o curso do tempo se não tornasse descontrolado, e para que pudesse ser controlado pelas amarras das estrelas. Já o próprio nome ‘Júpiter’, isto é, ‘o Pai que ajuda’, quando declinado fica ‘Iovem’, do verbo iuvare (‘ajudar’).
Dizem os poetas que ele é
“o pai dos deuses e dos homens”
e os nossos antepassados dizem que ele é o Melhor e o Maior, e colocam epíteto ‘Melhor’ primeiro porque, realmente, ele é o que mais benefícios traz, e é pois mais digno de reconhecimento ser útil a todos, do que ter muitos recursos.
* Céu (Caelus) – Tradução para o latim do deus grego Úrano.
Créditos
CÍCERO, Marco Túlio. Da Natureza dos Deuses. Trad. Pedro B. Falcão. Lisboa, Nova Vega, 2004.
GRIMAL, Pierre. Dicionário da Mitologia Grega e Romana. Trad. Victor Jabouille. Bertrand Brasil, 2000.
domingo, 28 de outubro de 2012
Da Harmonia - Heráclito – 530/20-470/60 a.C.
por Osvaldo Duarte
8. Aquilo que se obsta conduz à concordância, e das tendências contrárias provém a mais bela harmonia.
51. Não compreendem como o discorde concorda consigo mesmo: harmonia, reciprocamente tensa, como a do arco e da lira.
54. A harmonia invisível é superior à visível.
80. É preciso saber que Pólemos [a guerra] é comum, e que Dike [o direito*] é Eris [a luta ou discórdia], e que tudo acontece segundo Dike e Chreó [a necessidade].
Na obra O Banquete, na fala de Erixímaco (médico), Platão nos ajuda a compreender como a unidade opondo-se a si mesma, produz a harmonia:
“O que ele (Heráclito **), talvez quisesse significar é que a harmonia é formada de notas inicialmente discordantes, agudas e graves, porém deixadas de acordo pela arte da música. Não se concebe que possa surgir harmonia de agudos e graves que continuem a opor-se. Quem diz harmonia, diz consonância, e consonância é uma espécie de acordo, não sendo possível haver combinação de opostos, enquanto se mantêm como tais. De jeito nenhum pode haver harmonia de elementos opostos que não se combinem. A mesma coisa se dá com o ritmo, que provém do rápido e do lento, inicialmente opostos, mas que acabam por ficar de acordo.”
Damião Berge nos faz recordar que tanto o arco como a lira são objetos sagrados, de Ártemis (o arco), e de Apolo (a lira), sendo que na função própria de cada um é que se revela o ser harmonioso; e ainda, a tensão se dá quando são retirados do seu estado habitual, isto é, da sua quietude primitiva.
Esta tensão dos opostos que gera a harmonia, segundo Casertano, encontra-se em todos os aspectos da realidade.
A harmonia significava desde Homero, uma liga, um vínculo que prende em unidade. Para Heráclito, harmonia significa o equilíbrio, a concórdia.
* Costuma-se traduzir por Justiça.
** Grifo nosso.
Créditos
BERGE, Damião. O Logos Heraclítico. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1969.
CASERTANO, Giovanni. Os Pré-Socráticos. Trad. Maria da Graça Gomes de Pina. São Paulo, Edições Loyola, 2009.
PLATÃO. Diálogos, O Banquete,, vol. IV. Trad. Carlos Alberto Nunes. Pará: Universidade Federal do Pará, 1980.
quarta-feira, 19 de setembro de 2012
Lobisomem pós-moderno
Veio a lume pela editora da gente mais uma obra do poeta Adenildo Lima, desta vez em parceria, se assim podemos dizer, com o poeta Márcio Ahimsa. Trata-se do Lobisomem pós-moderno, a orelha foi escrita pelo filósofo e escritor (contista) Ivanildo de Lima.
No Lobisomem pós-moderno encontramos registros esparsos da vida dos autores que, segundo os mesmos, são poemas livres, soltos, que falam por si.
Aquisição de exemplares:
terça-feira, 4 de setembro de 2012
Alma e Corpo - Platão – 427-347 a.C.
PLATÃO. Leis, vol. XII-XIII. Trad. Carlos Alberto Nunes. Pará, Universidade Federal do Pará, 1980.
PLATÃO. Diálogos, vol.I X.. Trad. Carlos Alberto Nunes. Pará, Universidade Federal do Pará, 1973.
PLATÃO. Crátilo. Trad. Maria José Figueiredo. Lisboa, Instituto Piaget, 2001.
domingo, 5 de agosto de 2012
Deus é a medida de todas as coisas - Platão – 427-347 a.C
domingo, 29 de julho de 2012
Prazer e Dor, O Fio de Ouro - Platão – 427-347 a.C.
quarta-feira, 25 de julho de 2012
Da Educação - Platão – 427-347 a.C.
”Quando censuramos ou elogiamos a educação de alguém do nosso meio, dizemos que este ou aquele indivíduo é bem o mal educado, ainda mesmo que tenham recebido educação esmerada para a arte de navegação, o comércio por miúdo ou para outras atividades do mesmo teor. Segundo penso, não é nesse sentido que falamos de educação, mas no da educação para a virtude, que vem desde a infância e nos desperta o anelo e o gosto de nos tornarmos cidadãos perfeitos, tão capazes de comandar como de obedecer, de conformidade com os ditames da justiça. Essa é a modalidade de educação que tentamos definir, a única, segundo o meu modo de pensar, que merece ser assim denominada. A que tem por fim a aquisição de riquezas ou de qualquer modo de força ou habilidade que não leve em consideração a razão e a justiça, é vulgar e nada de nobre e não merece absolutamente o nome de educação. (...) o indivíduo bem educado se torna virtuoso, e que de forma alguma devemos menosprezar a educação, por ser o que de melhor e mais elevado chegam a alcançar os homens superiores.”
Créditos
PLATÃO. Leis, vol. XII-XIII. Trad. Carlos Alberto Nunes. Pará: Universidade Federal do Pará, 1980.
quinta-feira, 12 de julho de 2012
Voo controlado – Monchrétien – 1575-1621
por Osvaldo Duarte
Créditos
domingo, 24 de junho de 2012
Do prazer e do sofrimento – Aristóteles – Séc. 384-322 a.C.
por Osvaldo Duarte
Para Aristóteles, a alma procura por certa disposição natural a relacionar-se com situações que a tornam melhor ou pior, sendo que as disposições éticas são dadas pelo prazer e pelo sofrimento que acompanham as nossas ações, portanto, a excelência ética constitui-se em vista do prazer e do sofrimento, sendo uma disposição intermédia entre outras duas disposições extremas, a saber, perversas e a outra segundo o defeito. E ainda, segundo o Estagirita, tendemos naturalmente mais para as coisas que nos dão prazer, o que nos leva mais facilmente à devassidão do que para o regramento. Os castigos que infligem sofrimentos são como uma espécie de curativos que podem transformar a disposição da alma.
“... como diz Platão, a fazer gosto no que deve ser e sentir desgosto, pelo que não deve ser. Essa é a educação correta. (...) o prazer e sofrimento acompanham toda a afecção e toda ação.
Há três possibilidades relativamente às quais se definem as escolhas do que devemos perseguir e do que devemos preterir e evitar. Devemos escolher o belo, o vantajoso e o agradável; devemos, por outro lado, evitar os seus contrários, isto é, o feio, o nocivo, o desagradável. (...) o homem de bem é capaz de escolher corretamente e o perverso erradamente, sobretudo a respeito do prazer: na verdade o prazer é também comum aos animais e acompanha todas as possibilidades de escolha; tanto o belo como o vantajoso parecem ser agradáveis.
Será um homem de bem quem fizer o bom uso deles; mas já quem fizer o mau uso deles será perverso”.
Sendo a excelência ética uma disposição intermédia entre as disposições extremas como dissemos, não é tarefa fácil atingi-la, teremos de agir de acordo com as circunstâncias, isto é, conforme a situação apresentada; é por isso, nos diz Aristóteles, que o bem é raro, louvável e belo.
Com efeito, se encontrar o meio não é empresa fácil, pois, dos extremos, um é mais errado do que o outro, assim, deve escolher o menor dos males, i.e., dada a nossa tendência natural para as coisas diferentes o que é reconhecido a partir do prazer e do sofrimento que nos causam, amiúde, devemos examinar a que erros somos mais facilmente levados e nos esforçamos em seguir na direção contrária, procurando arrastarmos para fora do erro para chegar ao meio; assim, continua o Estagirita, temos de evitar também, o que é agradável e o prazer, porque quando o prazer está em julgamento, é difícil ser juiz imparcial. Outra dificuldade é estabelecer o limite do censurável de nossas ações, porque nenhum objeto da percepção é facilmente determinado.
Sendo o caminho do meio o mais louvável, o que temos de fazer diante das situações que se apresentam é agirmos de tal maneira a evitar os excessos, outras, o defeito: essa é a maneira mais fácil de conseguirmos atingir o meio e modo correto de agir.
Créditos
ARISTÓTELES. Ética a Nicómano. Trad. António de Castro Caeiro. Lisboa, Quetzal Editores, 2012.
sábado, 26 de maio de 2012
O sono de um sábio – Epimênides – Séc. VII a.C.
por Osvaldo Duarte
Epimênides o sábio, é uma personagem um tanto curiosa, nasceu em Cnossos no séc. VII, usava cabelos longos, o que era estranho aos costumes local. Certa feita, seu pai mandou-o ao campo em busca de uma ovelha desgarrada, mas desviando-se do caminho foi dormir em uma caverna onde teria ficado adormecido durante 57 anos. Ao despertar do longo sono, saiu em busca da ovelha, pois acreditava que estivera dormindo por pouco tempo. Epimênides viveu 157 anos; sua obra ao que tudo indica, foi escrita em versos com conteúdo cosmogônico, mitológico e político. O velho sábio é considerado também profeta, um purificador de almas, sua adivinhação não era tanto desvendar o futuro, mas descobrir no passado os erros que afetavam o presente.
(...) disse Epimênides cretense: de fato, ele vaticinava não acerca do futuro, mas sim acerca das coisas já acontecidas, mas obscuras.
Para Casertano, Epimênides é figura de transição entre a cultura sapiencial e a nova cultura filosófica, isto é, figura que se interpõe entre a fase mítica e a fase filosófica da cultura grega. Seu longo sono é relacionado à letargia, uma prática para obter sonhos divinatórios, quer seja dos mortos como também dos deuses, ao acordar, o escolhido é capaz de revelar fatos passados ou futuros.
Quando uma terrível peste abateu Atenas, nosso sábio foi chamado para purificá-la, o que para Casertano fora por motivo político dada às reformas implementadas por Sólon, sendo que na época era comum mesclar política e religião.
Segundo a tradição, Epimênides recebeu das ninfas um alimento mágico que conservava num casco de boi, desde então, nunca fora visto comendo, portanto, nunca defecava. Outros diziam que ele recebera de Hesíodo algumas sementes que tinha o poder de matar a fome.
Contra o mito
há um mito segundo o qual águias e cisnes, levados das extremidades da terra ao centro dela, para ali desciam, para Delfos, até o chamado “umbigo da terra”. Em seguida Epimênides de Festos, ao investigar/refutar o mito junto do oráculo do deus, e recebendo uma resposta obscura e ambígua, assim escreveu: “Nem na terra nem no mar há no meio um umbigo; e mesmo que haja é evidente aos deuses, mas está escondido aos mortais”.
O paradoxo do mentiroso
“Se tu afirmas mentir e dizes que isso é verdade, mentes ou dizes a verdade?”
Créditos
CASERTANO, Giovanni. Os Pré-Socráticos. Trad. Maria da Graça Gomes de Pina. São Paulo, Edições Loyola, 2009.
CORNFORD, F.M.. Principium Sapientiae. Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1952.
LAÊRTIOS, D.. Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres. Tradução: Mário da Gama Kury. Brasília, Editora da UnB, 2008.
quinta-feira, 10 de maio de 2012
O Homem como Medida - PROTÁGORAS (Séc. V a.C.)
por Osvaldo Duarte
O homem é a medida de todas as coisas, das que são, enquanto existem, e das que não são, enquanto não existem.
Trad. M.H.R.P
O frg. I Diels-Kranz é peça fulcral para a compreensão do pensamento do sofista de Abdera. Com efeito, a hermenêutica tem se mostrado abundante, haja vista as inúmeras bibliografias consagradas ao tema. M.J. V. PINTO apresenta o que seria o consenso quanto ao conteúdo doutrinal do fragmento:
“Cada homem é medida da realidade das coisas (objetos, fatos, sentimentos, etc.) tal como se lhes apresentam, e daí resulta que todas as suas representações são igualmente verdadeiras enquanto se baseiam na captação imediata das aparências”.
“(...) o homem é “medida” das coisas com as quais se relaciona de forma imediata através da percepção fenomênica, sem que se possa separar “pensamento” e “sensação”. (...) o que se discute não é propriamente a existência ou não existência das coisas, mas sim o modo como se relacionam com o homem...”.
Alguns comentários:
Hérmias – Escárnio dos filósofos pagãos
Mas aí está agora Protágoras, puxando-me para outro lado, quando diz: “O limite e o critério das coisas é o homem; o que lhe cai sob os sentidos são coisas, e o que não cai não se encontra entre as espécies de essência”.
Sexto Empírico – Contra os Matemáticos
Alguns incluíram também Protágoras de Abdera no grupo dos filósofos que aboliram o critério, porque afirma que todas as aparências e todas as opiniões são verdadeiras e que a verdade é algo de relativo, pois que tudo o que é aparência ou opinião para um indivíduo existe desde logo para ele.
Créditos
PINTO, Maria José Vaz. A Doutrina do Logos na Sofística, Lisboa, Edições Colibri, 2000.
PEREIRA, Maria H. R. Hélade Antologia da Cultura Grega, Lisboa: Guimarães Editores SA, 2009.
PADRES APOLOGISTAS, Tr. I. Storniolo e E. M. Blancin. Patrística, São Paulo, Paulus, 2005.
SOFISTAS. Testemunhos e Fragmentos. Tradução: Ana Alexandre Alves de Sousa e Maria José Vaz Pinto. Lisboa, INCM, 2005.
sábado, 28 de abril de 2012
Hermotimo - Luciano (125-191)
por Osvaldo Duarte
Luciano nasceu no ano 125 em Samósata, cidade ao norte da Síria, morrendo por volta do ano 191. De família não abastada, seu primeiro ofício foi de aprendiz de escultor na oficina de seu tio, sendo que após um desentendimento, abandona o ofício e vai estudar.
Aos 25 anos de idade, passa a exercer a advocacia em Antioquia, viajando e proferindo palestras na Ásia Menor, Grécia, Macedônia, Itália, entre outros lugares.
Na obra que ora apresentamos fragmentos: Hermotimo ou as Escolas Filosóficas, Luciano assume a postura cética, insurgindo-se contra o dogmatismo, atacando com certa ironia o estoicismo como também, a própria filosofia.
Neste diálogo, Licino convence o estoico Hermotimo a aceitar o ceticismo, mas sem antes provocar-lhe um sentimento de náuseas:
“Oxalá eu pudesse vomitar essas tretas que lhes ouvi!”
Hermotimo – “também ouvia toda a gente dizer que os epicuristas eram sensuais e voluptuosos, que os peripatéticos eram ávidos de riquezas e quezilentos, que os platônicos eram orgulhosos e vaidosos, ao passo que, a respeito dos estoicos, a maioria das pessoas afirmava que eram corajosos, que sabiam tudo, e que só o homem que seguisse por tal caminho seria rei, só era rico, só esse era sábio e reunia em si todas as virtudes”.
Licino – “Já alguma vez encontraste um estoico, ou um epicurista (...), que não divergisse no que toca aos princípios ou aos fins?”
“... estando nós a investigar quais é que falam a verdade em matéria de filosofia, tu antecipaste-te e atribuíste esse [privilégio] aos estoicos, dizendo que foram eles quem determinou que duas vezes dois são quatro - (...). De facto, os epicuristas ou os platônicos diriam que eles é que chegaram a esse resultado ...”
“Quero dizer-te que não é coisa minha, mas de um dos sábios; trata-se do “sê prudente e céptico”. Realmente, se não acreditarmos facilmente no que formos ouvindo, mas antes nos comportarmos como os juízes, isto é, dando também a palavra aos que vierem a seguir, talvez consigamos escapar dos [vários labirintos]”.
“Portanto, também tu (...) farias bem melhor em decidir-se viver, daqui para o futuro, uma vida como a de toda a gente: serás um cidadão como os demais, não porás esperanças em coisas bizarras e estúpidas, nem (se fores sensato) te envergonharás pelo facto de, já velho, mudares de opinião e te passares para a coisa melhor.”
“(...) todos os filósofos propuseram saber em que consiste a felicidade, e cada um diz sua coisa: um afirma que consiste no prazer, outro na beleza, outro noutra coisa qualquer.”
Licino, com vários argumentos que apontam para a mesma direção, faz com que Hermotimo seja convertido ao ceticismo. Assim, o recém -convertido, termina o diálogo:
“... ao caminhar na rua, topar com um filósofo, desviar-me-ei, evitá-lo-ei como um cão danado.”
Hermotimo significa “honrado por Hermes”
Créditos
LUCIANO, Hermotimo ou as Escolas Filosóficas.Trad.Custódio Magueijo. Lisboa, Editorial Inquérito, 1986.
domingo, 22 de abril de 2012
TRABALHO – Catão– Séc. III-II a.C.
“É que a vida humana é quase como ferro: se se exercitar, gasta-se; se não se exercitar, a ferrugem aniquila-o. Assim vemos os homens desgastarem-se na sua actividade, mas, se não tiverem actividade nenhuma, a inércia e a torpeza causam mais prejuízos do que o exercício”.
“Sem fazer nada, os homens aprendem a fazer mal”.
Trad. Maria H. R. Pereira
Créditos
PEREIRA, Maria Helena da Rocha. Romana Antologia da Cultura Latina. Coimbra, Univ. de. Coimbra, 2000.
domingo, 15 de abril de 2012
As Doutrinas Secretas – Pico Della Miràndola – (1463-1494)
por Osvaldo Duarte
Giovanni Pico nasceu na Itália em 1463, morrendo ainda jovem em 1494 com apenas 31 anos de idade. Filho de família abastada, estudou nos melhores centros de cultura erudita. Pico falava várias línguas – latina, grega, árabe, hebraico e o caldeu, além do francês.
Omitimos aqui os seus comentários sobre as doutrinas religiosas e, apresentamos tão-somente, excertos sobre as doutrinas filosóficas.
Portanto, manter essas coisas distantes do vulgo, com a obrigação de revelá-las aos perfeitos, pois entre eles é que a sabedoria. (...) Praxe essa acatada, com rigor, pelos antigos filósofos. Pitágoras quase nada escreveu a não ser umas poucas linhas que, ao morrer, confiou na sua filha Damo. Já as efígies esculpidas, nos templos egípcios, advertiam o seguinte: que os dogmas egípcios fossem custodiados pelas chaves dos enigmas, ficando assim invioláveis para a multidão dos profanos. Platão escrevendo a Dionísio sobre os modos supremos de ser, dizia: “Por enigmas tenho que me expressar a fim de que, caso essa correspondência caia em mãos estranhas não seja entendida por outros quanto te escrevo”. Aristóteles, a respeito dos livros de metafísica, nos quais trata de assuntos ultraterrestres, afirma haver os editados e os fora de edição.
(...) lembro ter Giamblico Calcídeo escrito que Pitágoras apreciava a tal ponto a teologia órfica que dela fez o modelo para plasmar a sua própria filosofia.
Em decorrência disso, as sentenças de Pitágoras passam a ser chamadas de sacras na medida em que são derivadas de esquemas órficos. Daí, qual fonte originária, emanou a doutrina oculta dos números e tudo mais que de grandioso e sublime apresentou a filosofia grega. Segundo o costume dos antigos gregos, também Orfeu revestiu seus mistérios dogmáticos com o invólucro das fábulas e ocultou-os no aparato poético de sorte a dar ao leitor a impressão de que seus livros nada mais eram do que meras fábulas e nugas engenhosas.
Faço tal menção para que conheça o trabalho dificultoso em extrair desses artifícios enigmáticos, verdadeiros esconderijos, em formato de apólogos, o sentido latente daquela filosofia hermética. Ainda mais quando nessa tarefa tão árdua, recôndita e inexplorada, não se dispõe da ajuda bibliografia ou de recurso por parte dos intérpretes.
Créditos
MIRANDOLA, Pico Della. A Dignidade do Homem. São Paulo, Editora Escala,????.
sábado, 31 de março de 2012
Antropomorfismo - Xenófanes de Cólofon – séc. VI a.C.
por Osvaldo Duarte
Xenófanes, historiador, poeta e sábio, aos vinte e cinco anos abandonou Cólofon devido à invasão dos medos estabelecendo-se em Eléia, onde funda a sua Escola; teve uma vida longa e, faleceu mais ou menos no mesmo ano que Heráclito. Segundo Diógenes Laêrtius, para alguns autores não foi discípulo de ninguém, no entanto, para outros, foi discípulo de Bôton, e ainda, de Arquêlaos; foi contemporâneo a Anaxímandros. Posteriormente, Parmênides foi considerado seu discípulo, esta afirmação talvez tenha como origem em Aristóteles.
Da sua obra, escrita em verso épico, elegias e iambos, subsistem um certo número de fragmentos, sendo que ele próprio recitava seus versos, criticando Hesíodo e Homero pelo que haviam dito a respeito dos deuses. Parece que Xenófanes sustentou opiniões contrárias às de Tales e às de Pitágoras.
Para Berge, Xenófanes utiliza-se da observação metódica estabelecendo algo como graduação do conhecimento, pois, faz afirmações de valor absoluto e universal, como também, restrita e relativa, o seu critério é único: a perceptibilidade positiva.
Sua crítica é assaz contundente a Homero e a Hesíodo pelas atribuições humanas às divindades, as quais são fruto do antropomorfismo. Nosso sábio vai além, pois mostra a causa, que segundo Berge, seria a “transposição mecânica do humano para o divino”; repudia também, as teogonias e a qualquer atribuição ou figuração material aos deuses. Com efeito, no segundo fragmento abaixo, a humanização dos deuses, i. e., os mortais imaginam os deuses com indumentárias, voz e corpo humano semelhante aos seus.
Fragmentos:
Homero e Hesíodo atribuíram aos deuses tudo quanto entre os homens é vergonhoso e censurável, roubos, adultérios e mentiras recíprocas.
Mas os mortais imaginam que os deuses foram gerados e que têm e vestuário e fala e corpos iguais aos seus.
Os Etíopes dizem que os seus deuses são de nariz achatado e negros, os Trácios, que os seus têm olhos claros e cabelos ruivos.
Mas se os bois e os cavalos ou leões tivessem mãos ou fossem capazes de com elas, desenhar e produzir obras, como os homens, os cavalos desenhariam as formas dos deuses semelhantes às dos cavalos, e os bois à dos bois, e fariam os seus corpos tal como um deles o tem.
Um só deus é o maior entre os deuses e os homens, dissemelhante dos homens em figura e em modo de perceber.
Permanece sempre no mesmo lugar, sem se mover; nem é próprio dele ir a diferentes lugares em diferentes ocasiões, mas antes, sem esforço tudo abala com pensamento do seu espírito.
Para Kirk, as críticas de Xenófanes são claras, pois, tanto Homero como Hesíodo atribuem com frequência imoralidades humanas aos deuses, sendo que não há boa razão para tal. Xenófanes dá-se conta de que diferentes povos atribuem as suas próprias características particulares aos deuses; e ainda, por reductio ad absurdum, que os animais poderiam fazer o mesmo.
Portanto, por tais apreciações subjetivas e sem valor, os homens deveriam abandonar a tradição estabelecida por Homero, por quem todos aprenderam.
Créditos
BERGE, Damião. O Logos Heraclítico. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1969.
DUMONT, Jean-Paul. Elementos de História da Filosofia Antiga. Tradução: Georgete M. Rodrigues. Brasília, Editora UnB, 2004.
KIRK, G. S e RAVEN, J. E. Os Filósofos Pré-socráticos. Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1982.
LAÊRTIOS, D.. Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres. Tradução: Mário da Gama Kury. Brasília, Editora da UnB, 2008.